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Gloria Coelho e Fraga são destaques no último dia
Do Estilista, Herchcovitch masculino e Amapô foram outras boas surpresas
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A abertura de Gloria Coelho e
o encerramento com Ronaldo
Fraga deram ao último dia da
São Paulo Fashion Week um
brilho criativo especial -culminando a boa temporada inverno-2008 do evento.
Estilistas muito talentosos e
sensíveis aos movimentos do
circuito fashion, ambos, cada
um a seu modo, mostraram coleções que permitem conexões
com o uso da roupa e a nova fase comercial da moda brasileira
a partir de um mesmo elemento essencial: o tecido.
Fraga, apaixonado pela carga
de lembranças afetivas que a
roupa pode carregar, se inspirou nas tradicionais, e cada vez
mais raras, lojas de tecido.
Valorizando sua verve artesanal e o gosto pelo ritual de
construção de cada peça, o estilista falou de memória e contato físico. São temas que têm
muito a dizer ao momento
atual da moda brasileira, que,
com a recente aquisição de grifes por grupos de investidores,
dá seus primeiros passos no
território do business.
A nostalgia de Fraga atua como uma espécie de guardiã das
pequenas grandes delicadezas
da moda, que correm o risco se
perderem num mercado cada
vez mais regido por números.
Em outra vertente, Gloria
Coelho, falou de pele e roupa,
companheiras inseparáveis na
moda. A estilista se inspirou no
trabalho da fotógrafa Diane Arbus, conhecida mundialmente
por fotografar "freaks".
Há dois anos, o filme "A Pele"
misturou a biografia da artista
com uma ficção sobre um suposto caso afetivo que ela teria
tido com um homem que sofria
de uma anomalia chamada de
síndrome do homem-lobo, que
faz com que o corpo desenvolva
pêlos em excesso.
Foi neste filme que Gloria
buscou a referência dominante
de sua coleção. Ela criou impressionantes casacos e vestidos com pelagem sintética lisa
e alongada, que dotavam as modelos de um certo aspecto primitivo. Os pêlos também apareceram em bermudas usadas
sob vestidos decorados com
flores plásticas paetizadas, como se, a menina-flor revelasse
discretamente, por baixo da
saia, sua porção animal.
No final do desfile, Gloria recebeu a visita do empresário
Vicente Mello, presidente da
holding I'M -nova dona das
grifes Herchcovitch; Alexandre, Zoomp e Fause Haten.
A coleção masculina da grife
Herchcovitch; Alexandre, inspirada no universo dos caubóis,
manteve o alto nível da feminina, tanto do ponto de vista da
construção quanto do acabamento das peças.
Foi uma coleção mais pragmática -e de olho na sofisticada fatia de público que ele visa
no mercado externo-, em que
a alfaiataria comportada ganhava pequenos toques de modernidade. Os ternos, elegantes
e com discreta inspiração
country, lembravam a figura
imponente de Johnny Cash. Na
linha mais ousada, destacaram-se os belos ponchos rústicos.
Do Estilista
Marcelo Sommer e sua grife,
Do Estilista, também deram
uma leve guinada em direção
ao comercial, sem perder o
charme e a sedução lúdica de
seu universo.
Sommer falou de um cenário
bucólico, onde as botas dos
caubóis e "cowgirls" são coloridas e todos se mantém aquecido em aconchegantes tricôs, sejam eles coletes, bermudas ou
até calças com cara de pijama.
Rei dos xadrezes desde o início de sua carreira, Sommer arrebentou nas peças com esse
padrão. A coleção foi enxuta,
bem-amarrada e ficou ainda
mais interessante com o show
de Arnaldo Antunes, em meio
às arvores do Ibirapuera.
O dia também teve boas
apresentações de grifes pequenas, comandadas por jovens talentos do evento, como Simone
Nunes e Amapô -esta fez sua
estréia na SPFW.
Carô Gold e Pity Taliani, estilistas da grife, chegam em boa
hora com uma vibe despretensiosa, quase adolescente, que
revigoram a semana de moda.
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