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Comida / Crítica
Dalva e Dito se inspira na cozinha das fazendas
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
A abertura do novo restaurante com a assinatura de Alex Atala -o
Dalva e Dito- tem causado justificado frenesi no público, que
já lota a casa. A agitação tem razão de ser, além do suspense resultante do atraso, especialmente por conta da retenção do
equipamento na alfândega.
Atala se empenha em fazer,
no D.O.M., uma cozinha moderna e inventiva, onde introduz ingredientes brasileiros.
Dessa forma, já fazia reverência
ao Brasil e a seus produtos. Mas
com a nova casa ele anunciava
realizar, usando técnicas sofisticadas, algo próximo à cozinha
brasileira do dia-a-dia, com traços afetivos que lembram os
pratos familiares.
É de fato nesse caminho que
aponta o Dalva e Dito, onde curiosamente a cozinha é comandada por um sócio francês, o
chef Alain Poletto, 52. Professor de gastronomia e hotelaria,
autor de um livro técnico sobre
cozimento a vácuo, ele está há
seis anos em São Paulo e chefiou o extinto La Taverna della
Paola di Verona.
Dentro desse viés brasileiro,
no entanto, a casa trilha uma
via específica. Ao contrário de
locais como o Tordesilhas ou o
Brasil a Gosto, que têm pratos
tradicionais de várias regiões
(executados de uma maneira
moderna), o Dalva e Dito se
concentra nos assados. Algo
que está mais para a cozinha de
fazenda do interior paulista do
que para outras regiões do país.
A estrela da cozinha é uma
"rôtissoire" francesa, assador
vertical de carnes ("TV de cachorro"...). Dali, saem algumas
das estrelas do lauto almoço
executivo, como uma primorosa peça de contrafilé e um frango aberto, menos tenro, servidos com saladinha, arroz, feijão, couve, farofa e batata salteada na gordura de pato com
alho e salsinha. Também faz
parte do almoço, além dessas
carnes (todas incluídas no preço), um suculento pernil de
porco assado. Na verdade, essas
carnes não são fruto apenas da
habilidade no manejo da "rôtissoire": elas são antes cozidas
em vácuo, a baixa temperatura.
Dentre os assados -trinchados à mesa, no velho estilo-,
estão um belo primerib (bisteca com osso) e uma sela de cordeiro (pedaço da costela, com
osso, reunindo filé e contrafilé).
Para esses pratos à la carte, o
acompanhamento pode ser a
mandioca na manteiga-de-garrafa (as que provei estavam duras), um creme de milho (benfeito!), feijão-manteiguinha do
Pará, pupunha ao forno.
Os assados são de bela qualidade, como as sobremesas
-sorvete de uvaia, graviola e
tapioca, creme de papaia com
catuaba. Fazem falta mais pratos de cozinha -ensopados, cozidos, frigideiras... Tanta coisa
brasileira que é frequentemente malfeita no fogão, pesada,
ótimo de ver feita por mãos
competentes. E que mostrariam mais a perícia da cozinha.
A gostosa codorna recheada
com pão e frutos secos, ou a
moqueca, ou a galinha-d'angola, que estão no menu, são
exemplos do que ainda se pode
fazer ao mergulhar, com talento e bons equipamentos, nas
tradições do gosto brasileiro.
josimar@basilico.com.br
DALVA E DITO
Avaliação:
Endereço: r. Padre João Manuel,
1.115, Jardins, tel. 0/xx/11/3062-6282
Funcionamento: seg. a qui., das
12h às 15h e das 19h à 0h; sex., das
12h às 15h e das 19h à 1h; sáb., das
12h à 1h; dom., das 12h às 23h
Ambiente: remissões brasileiras,
discretas, no bar de espera em
baixo, no salão em cima e na
gostosa varanda interna com
mesas
Serviço: uma boa equipe, se
virando bem na hora de cortar e
servir à mesa
Vinhos: boa carta, com vários bons
vinhos brasileiros difíceis de
encontrar
Cartões: Visa e Mastercard
Estacionamento com
manobrista: R$ 15
Preços: couvert, R$ 12; entradas,
R$ 15 a R$ 36; pratos principais, R$
24 a R$ 145 (para três pessoas);
sobremesas, R$ 10 a R$ 18
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