ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A ideia inicial de "Plastic City - Cidade de Plástico" tem seu interesse: colocar em cena o universo do comércio de produtos falsificados em São Paulo, atividade controlada por máfias de imigrantes asiáticos. Estão presentes a colusão das gangues com a polícia e os políticos, as disputas entre quadrilhas, os inferninhos do bairro da Liberdade.
Mas o filme se perde ao tecer uma narrativa confusa, que entremeia a realidade cheia de reviravoltas com o mundo interior dos dois gângsteres -o chinês Yuda e seu filho adotivo, o japonês Kirin.
A oposição entre o lado mais documental da história e o aspecto psicológico compromete o resultado. O conflito entre hedonismo e espiritualidade, soberba e desespero -que acomete pai e filho-, soa forçado.
Igualmente inverossímeis são algumas cenas com intenções mais realistas. Um exemplo é a passagem dos gângsteres pela favela, para se esconder da polícia. Na mesma linha está a chegada de Yuda à Amazônia, deixado por um helicóptero da polícia, e sua rápida ascensão ao posto de "pajé" de uma tribo indígena. Tudo bem que Yuda tenha seus pendores espiritualistas, mas assim já é demais.
A fotografia também dificulta a coesão do filme ao misturar hiperrrealismo, contrastes de filme noir, pulsação de câmera na mão, num festival de heterogeneidades que afasta o espectador do fio da narrativa. Não é um acaso que a São Paulo do filme careça de alma: é apenas cenário, uma cidade de plástico.