São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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CINEMA

Crítica/ "Amor Sem Escalas"

Diretor Jason Reitman repete fórmula de filmes anteriores

George Clooney faz executivo durão que viaja pelos EUA demitindo pessoas

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Parece exagerada a chuva de indicações a prêmios e críticas entusiasmadas que "Amor Sem Escalas" recebeu nos Estados Unidos. Quem for ao cinema com expectativa muito alta corre o risco de se decepcionar.
O terceiro longa de Jason Reitman (filho de Ivan Reitman, diretor de "Os Caça-Fantasmas") repete a mesma fórmula de seus filmes anteriores, o bom "Obrigado por Fumar" e o supervalorizado "Juno": é uma comédia de humor negro povoada por personagens antipáticos e cínicos, que, no decorrer da história, adquirem uma certa humanidade e passam por uma redenção moral.
Aqui, George Clooney, novamente em seu piloto automático de Cary Grant, interpreta Ryan Bingham, um tubarão corporativo cujo trabalho é viajar pelos EUA despedindo pessoas. Bingham é frio como gelo e não se comove com as reações desesperadas dos demitidos. É um personagem moderno, que prospera na atual crise financeira: "Chegou a nossa hora", diz o chefe de Bingham, feliz a cada anúncio de cortes maciços de empregos.
Bingham não gosta de outras pessoas. Não tem mulher nem filhos e vive num flat vazio. Seu maior prazer é voar de avião e hospedar-se em hotéis.
Seu ano consiste de "322 dias maravilhosos na estrada e 43 dias miseráveis em casa". Ele dá palestras motivacionais sobre a necessidade de não se prender a nada e tem como mantra: "Sua vida deve caber dentro de uma mala".
Dois acontecimentos sacodem seu mundo: primeiro, uma ambiciosa estagiária, Natalie Keener (Anna Kendrick), sugere ao chefe da empresa um novo método de demitir pessoas pela internet, e o próprio emprego de Bingham é colocado em risco. Depois, ele encontra, no bar de um hotel, Alex (Vera Farmiga, de "Os Infiltrados"), outra ninja corporativa, que leva para a cama em cinco minutos. A chegada dessas duas mulheres o faz rever suas crenças. Pouco a pouco, a couraça vai amolecendo.
Reitman, que escreveu o roteiro, tem um bom ouvido para diálogos, embora abuse de frases de efeito que parecem saídas de alguma série televisiva como "The Office" (que chegou a dirigir). Em compensação, sua escolha de trilha sonora beira a pieguice. Assim como "Juno", "Amor Sem Escalas" parece um mau videoclipe.
O epílogo do filme marca a redenção do personagem e é quase insuportável, de tão previsível e meloso. O tubarão finalmente se confronta com a "verdade", e ela é dura demais até para ele.


AMOR SEM ESCALAS

Direção: Jason Reitman
Produção: EUA, 2009
Com: George Clooney, Vera Farmiga
Onde: ABC Plaza, Cidade Jardim, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação: 12 anos
Avaliação: regular




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