São Paulo, sexta, 22 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CULTURA IMPORTADA
Produtos estrangeiros e compras na Internet são primeiros a sofrer o impacto da desvalorização do real
Preço de livro e CD sobe até 30% em SP

PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Livros e CDs importados já estão até 30% mais caros em São Paulo, uma semana após a desvalorização do real. Tão comuns em lojas e livrarias quanto macarrão italiano nos supermercados, eles foram os primeiros produtos na área cultural a sofrer o impacto das mudanças econômicas.
Na Livraria Cultura, o reajuste dos importados variou entre 3% e 20%, segundo o proprietário Pedro Herz. "Dependeu do que conseguimos com os fornecedores", afirma. Ele está negociando, caso a caso, com as cerca de 500 editoras com que trabalha. Uma delas, a Oxford University Press, ficou um dia sem vender nenhum título, adequando-se à mudança cambial.
A loja Bizarre Records, que não tem grandes estoques e trabalha com encomendas e importações semanais, fixou os preços dos CDs em dólar e está cobrando a cotação do dia, no paralelo. Assim, na última quarta, o dólar estava a R$ 1,65, ou 30% a mais do que o câmbio antes da mudança (R$ 1,27).
"As dívidas que a gente tinha ficaram todas em dólar. O lucro de dezembro se perdeu. Não estamos aceitando nem cartão de crédito nem pagamento a prazo", afirmou o proprietário Carlos Farinha, 28.
Outra loja especializada em importados, a London Calling, está tentando manter os preços em real, mas com reajuste. Um CD que custava R$ 25 hoje sai por R$ 30. Mesmo assim, as vendas caíram pela metade.
"Se for colocar o preço em dólar, o pessoal não compra. É melhor perder a margem de lucro do que assustar a clientela", diz Walter Thiago, 34, há 13 anos vendendo importados no centro de SP.
Com estoques muito maiores, tanto de CDs quanto de livros, o Ática Shopping (comprado pela rede francesa Fnac) deve aumentar seus preços na próxima semana. O diretor da área de música passou os três primeiros dias da semana em reuniões com fornecedores e gravadoras, negociando.
Os novos preços dos livros importados, cerca de 20% dos títulos da loja, também estão sendo negociados, de acordo com o diretor da área, Fernando Santos, 47.
"O período mais forte de venda foi o final do ano. Livros de arte, design, fotografia, cinema e arquitetura, áreas típicas de importação, são de valor alto. A mudança de preço vai ocorrer, mas, de repente, não será preciso passar toda a desvalorização", afirmou.
Santos, no entanto, diz que algumas editoras brasileiras já sinalizam com a possibilidade de aumentar o preço de títulos nacionais, fabricados aqui. Isso porque o preço do papel é atrelado ao dólar no mercado financeiro.
²
Internet
Ficou mais caro também fazer compras de livros e CDs importados pela Internet, recurso bastante utilizado pelos brasileiros. A variação vai depender das taxas de câmbio das operadoras de cartão de crédito, principal meio de compra.
A conversão dos valores em dólar é feita de acordo com o câmbio do dia do vencimento da fatura. Se houver acréscimos até o dia do pagamento, eles serão cobrados na próxima fatura do cartão. A taxa de juros também deve aumentar.
O Brasil tornou-se um dos mercados mais importantes para lojas virtuais. A Amazon Books (www.amazon.com) computa a lista dos mais vendidos no país.
Inicialmente, o ranking era ocupado apenas por livros técnicos e de informática. Hoje, dos 25 títulos, dez são ficção e biografia.
²


Colaborou Cláudia Pires, da Reportagem Local



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.