|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Detalhe que vale a pena
MARCELO OROZCO
do "Notícias Populares"
O inglês que chamou
Dylan de Judas por usar
guitarra está vivo e comprou "Bob Dylan Live 1966"
porque seguiu sendo um fã
após o impulso ofensivo.
Orgulhoso, ligou para o filho só para dizer: "Lançaram o disco do show em que
eu xinguei Dylan!". Topou
com a secretária eletrônica.
O filho, depois de ver um
"Unplugged" de uma banda
eletrificada tocando versões
acústicas, foi se divertir numa rave. Sem preocupação
de berrar "Judas!" caso um
sample de violão seja acrescido à batida eletrônica.
E, pelo que se ouve no disco, nem a platéia dos shows
ingleses deveria ter preocupação com instrumentos.
O CD 1 mostra que o "traidor" começava os shows sozinho, apenas com violão e
gaita, do jeito folk que tinha
começado. Canta saboreando cada sílaba, lembrando
cada palavra das letras.
Talvez fosse esse encanto
e a imagem de herói solitário que a platéia se recusava
a perder na segunda parte,
quando Dylan aparecia
com o The Hawks.
Apupos, palmas lentas, e
Dylan mais alegre e eufórico, empolgado pelo ritmo e
pelo barulho. Simplesmente um bom show de rock,
mas as hostilidades chegam
e provocam o ápice com
"Like a Rolling Stone".
Os acordes de guitarra são
socados. Dylan põe veneno
e ironia na voz, como dizendo que não faz diferença
que instrumento toca. Fim
de espetáculo.
Musicalmente, o conflito
era injustificado. Porém,
não fosse o amor e ódio entre platéia e Dylan, seria
apenas mais um show que
não valeria sair três décadas
depois. É detalhe bobo que
vale a pena no rock.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|