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LIVROS/LANÇAMENTOS
POESIA
"A Idade da Noite" e "A Idade da Aurora" trazem versos de mais de 40 anos
Carlos Nejar recita seus cantos em dois volumes
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
A recém-lançada obra com os
poemas reunidos de Carlos Nejar,
64, vem confirmá-lo como o aedo
brasileiro. Seus versos ritmados
no compasso da respiração compõem uma realidade mítica própria da construção épica, o gênero
da recitação inaugurado pelas letras gregas de Homero.
"Desde meu primeiro livro,
busco uma nova épica que pouco
se parece com a antiga. Proponho
a recuperação do gênero, em novos moldes, tendo o tempo como
personagem", diz o poeta gaúcho.
Os livros em versos publicados
por Nejar são construídos por
poemas que se encadeiam como
os cantos de um longo texto. Esses
cantos espalhados ligam-se por
personagens, imagens e idéias comuns, desenvolvidas, aprofundadas e realocadas.
"Todos os meus livros buscam o
livro único: um canto épico, lírico,
social, dramático do homem no
mundo. E cada livro é como premissa do grande livro."
Um passo para a composição física desse "grande livro" foi dado
pela Ateliê Editorial, que lança os
mais de 40 anos de versos do autor em dois volumes: "A Idade da
Noite" e "A Idade da Aurora".
O primeiro tomo abre-se com
dois livros pouco conhecidos do
público, "Meus Estimados Vivos"
(1991) e "A Ferocidade das Coisas" (1980), para terminar onde
tudo começou, "Sélesis" (1960). O
segundo volume segue uma cronologia, desde "Árvore do Mundo" (1977) até "Idade da Aurora"
(1990), passando pelos haicais de
"Velâmpagos", de 1995.
A experiência de emaranhar-se
nos versos que Nejar encontrou
para construir seu universo é deparar-se com a essência poética.
O que significa experimentar o espanto frente ao sentido da palavra
que retorna à sua origem passando a existir na esfera do mito
construtor, o lugar do "Assombro", como nomeia o poeta.
"Creio no poder da palavra poética como construtora da realidade. O futuro e o presente dormem
na palavra. Ao dizê-la, trazemos à
baila o oculto, fazemos as coisas
que não são, como se já fossem."
Nesse continente linguístico, a
forma da poesia ou da prosa são
ambas íntimas a Nejar, que acaba
de lançar, em prosa, "O Evangelho Segundo o Vento" (leia texto
nesta página). "A prosa é o dia, e a
poesia, a noite. Mas é a linguagem
que nos faz sonhar na noite de estrelas e no dia, por estar demais
acordado", resume o autor.
Membro da Academia Brasileira de Letras, da qual, em 2000, foi
secretário-geral e, por três meses,
o primeiro poeta presidente
-em substituição ao titular Tarcísio Padilha, enfermo-, Nejar
está acostumado a viver o cotidiano "burocrático". Foi promotor
de Justiça do Rio Grande do Sul,
procurador e assessor do procurador-geral, tendo trabalho nas
câmaras cíveis e criminais.
"Aprendi muito com o direito e
sempre vi o poeta como cavaleiro
andante da Justiça, e o promotor,
o seu executor. Quando um poema atinge a beleza é uma forma de
alta justiça, a cidadania da palavra. Burocracia? Não senti."
Aposentado, o poeta vive há
quase dez anos no Paiol da Aurora, nome dado a sua casa em Guarapari, no Espírito Santo. De frente para o mar de Ulisses, o aedo
trabalha ao sabor da inspiração.
A IDADE DA NOITE. De: Carlos Nejar.
Editora: Ateliê Editorial. Quanto: R$ 45
(464 págs.).
A IDADE DA AURORA. De: Carlos Nejar. Editora: Ateliê Editorial. Quanto: R$ 50
(508 págs.).
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