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São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 2003

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LIVROS/LANÇAMENTOS

POESIA

"A Idade da Noite" e "A Idade da Aurora" trazem versos de mais de 40 anos

Carlos Nejar recita seus cantos em dois volumes

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

A recém-lançada obra com os poemas reunidos de Carlos Nejar, 64, vem confirmá-lo como o aedo brasileiro. Seus versos ritmados no compasso da respiração compõem uma realidade mítica própria da construção épica, o gênero da recitação inaugurado pelas letras gregas de Homero.
"Desde meu primeiro livro, busco uma nova épica que pouco se parece com a antiga. Proponho a recuperação do gênero, em novos moldes, tendo o tempo como personagem", diz o poeta gaúcho.
Os livros em versos publicados por Nejar são construídos por poemas que se encadeiam como os cantos de um longo texto. Esses cantos espalhados ligam-se por personagens, imagens e idéias comuns, desenvolvidas, aprofundadas e realocadas.
"Todos os meus livros buscam o livro único: um canto épico, lírico, social, dramático do homem no mundo. E cada livro é como premissa do grande livro."
Um passo para a composição física desse "grande livro" foi dado pela Ateliê Editorial, que lança os mais de 40 anos de versos do autor em dois volumes: "A Idade da Noite" e "A Idade da Aurora".
O primeiro tomo abre-se com dois livros pouco conhecidos do público, "Meus Estimados Vivos" (1991) e "A Ferocidade das Coisas" (1980), para terminar onde tudo começou, "Sélesis" (1960). O segundo volume segue uma cronologia, desde "Árvore do Mundo" (1977) até "Idade da Aurora" (1990), passando pelos haicais de "Velâmpagos", de 1995.
A experiência de emaranhar-se nos versos que Nejar encontrou para construir seu universo é deparar-se com a essência poética. O que significa experimentar o espanto frente ao sentido da palavra que retorna à sua origem passando a existir na esfera do mito construtor, o lugar do "Assombro", como nomeia o poeta.
"Creio no poder da palavra poética como construtora da realidade. O futuro e o presente dormem na palavra. Ao dizê-la, trazemos à baila o oculto, fazemos as coisas que não são, como se já fossem."
Nesse continente linguístico, a forma da poesia ou da prosa são ambas íntimas a Nejar, que acaba de lançar, em prosa, "O Evangelho Segundo o Vento" (leia texto nesta página). "A prosa é o dia, e a poesia, a noite. Mas é a linguagem que nos faz sonhar na noite de estrelas e no dia, por estar demais acordado", resume o autor.
Membro da Academia Brasileira de Letras, da qual, em 2000, foi secretário-geral e, por três meses, o primeiro poeta presidente -em substituição ao titular Tarcísio Padilha, enfermo-, Nejar está acostumado a viver o cotidiano "burocrático". Foi promotor de Justiça do Rio Grande do Sul, procurador e assessor do procurador-geral, tendo trabalho nas câmaras cíveis e criminais.
"Aprendi muito com o direito e sempre vi o poeta como cavaleiro andante da Justiça, e o promotor, o seu executor. Quando um poema atinge a beleza é uma forma de alta justiça, a cidadania da palavra. Burocracia? Não senti."
Aposentado, o poeta vive há quase dez anos no Paiol da Aurora, nome dado a sua casa em Guarapari, no Espírito Santo. De frente para o mar de Ulisses, o aedo trabalha ao sabor da inspiração.


A IDADE DA NOITE. De: Carlos Nejar. Editora: Ateliê Editorial. Quanto: R$ 45 (464 págs.).


A IDADE DA AURORA. De: Carlos Nejar. Editora: Ateliê Editorial. Quanto: R$ 50 (508 págs.).


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