UOL


São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Revistas dão fôlego a debates

DA REDAÇÃO

A diversidade da produção poética encontra nas páginas das revistas a maleabilidade que lhe permite existir. Enquanto o livro quer perenizar o texto, são nos periódicos especializados que proliferam no mercado que o debate se estabelece com suas nuances.
Entre as publicações recentes e que têm ocupado as prateleiras mais escondidas das livrarias, a tônica é a variedade nas abordagens dos textos poéticos.
A "Sebastião", de publicação independente de Paulo Ferraz, Matias Mariani e Pedro Abramovay, e que chega a seu terceiro número no segundo semestre, traz uma proposta de contato direto entre texto e crítica. Apresentando os versos e, em seguida, uma crítica deles, reforça os discursos mutuamente, diz a professora de Teoria Literária da USP Viviana Bosi.
O que se pretende com esse trabalho, e é voz comum às publicações, é o mapeamento da produção atual, numa libertação dos fatigados cânones, e o incremento do repertório poético nacional.
"Faremos o que for possível para tirar a poesia contemporânea de sua situação clandestina. Não podemos continuar eternamente tributários do século 20", diz Ferraz, ele mesmo poeta, como a maioria dos editores das revistas.
Essa confusão das vozes editorial e artística, ao contrário de turvar a seleção de autores, promove um intercâmbio entre as publicações. Os editores de uma revista são publicados por outra e vice-versa, intensificando o debate.
Isso é o que acontece com a estreante (e independente) "Cacto", editada por Eduardo Sterzi e Tarso de Melo, e que deve ter o segundo número já em março.
Ao contrário da proposta da "Sebastião", a "Cacto" publica ensaios e poemas sem uma relação direta, embora centre-se no fazer poético. Nesse sentido, alinha-se com publicações como "Inimigo Rumor", mais antiga, e "Sibila". No seu sétimo ano de existência, "Inimigo Rumor" já ultrapassou as fronteiras e chegou a Portugal.
"Foi-se ao encontro de algo por fazer: uma revista de poesia conjunta Brasil/Portugal, sem dar guarida ao hífen luso-brasileiro, hífen equívoco e que consideramos historicamente ultrapassado e improdutivo", diz Carlito Azevedo, um dos editores brasileiros, com Augusto Massi e Marcos Siscar, e os portugueses André Fernandes Jorge, Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra.
Com mais tempo de circulação, tanto a "Inimigo" quanto a "Sibila", editada por Régis Bonvicino, Romulo Valle Salvino e Odile Cisneros, contam com o apoio de editoras. Enquanto a Ateliê é responsável pela distribuição da "Sibila", a 7 Letras cuida da "Inimigo Rumor" no Brasil.
A segurança de uma editora garante a essas revistas uma tiragem maior que as independentes. São 2.000 exemplares, no caso dessas duas últimas, contra 500 da "Sebastião" e mil da "Cacto".
Numa linha um pouco diversa, a "Rodapé", que é custeada pela editora Nankin e acaba de lançar mil exemplares de seu segundo número, é dedicada à crítica. "Nos vemos mais como um grupo de estudos que como editores", traduzem Airton Paschoa, Ana Paula Pacheco, Andrea Saad Hossne, Fabio Weintraub, Priscila Figueiredo e Simone Rufinoni.
Do outro lado, a literatura mistura-se a outras artes em revistas como "Et Cetera" (Travessa dos Editores), a ser lançada em março, e a londrinense "Coyote" (Iluminuras), no quarto número.
(ROGÉRIO EDUARDO ALVES)


Texto Anterior: Poesia: Editoras criam "sociedade dos poetas vivos"
Próximo Texto: Livros/lançamentos - "As formigas da estação de Berna": Simbolismos de Comment desnudam vidas regulares
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.