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Revistas dão fôlego a debates
DA REDAÇÃO
A diversidade da produção
poética encontra nas páginas das
revistas a maleabilidade que lhe
permite existir. Enquanto o livro
quer perenizar o texto, são nos periódicos especializados que proliferam no mercado que o debate se
estabelece com suas nuances.
Entre as publicações recentes e
que têm ocupado as prateleiras
mais escondidas das livrarias, a
tônica é a variedade nas abordagens dos textos poéticos.
A "Sebastião", de publicação independente de Paulo Ferraz, Matias Mariani e Pedro Abramovay,
e que chega a seu terceiro número
no segundo semestre, traz uma
proposta de contato direto entre
texto e crítica. Apresentando os
versos e, em seguida, uma crítica
deles, reforça os discursos mutuamente, diz a professora de Teoria
Literária da USP Viviana Bosi.
O que se pretende com esse trabalho, e é voz comum às publicações, é o mapeamento da produção atual, numa libertação dos fatigados cânones, e o incremento
do repertório poético nacional.
"Faremos o que for possível para tirar a poesia contemporânea
de sua situação clandestina. Não
podemos continuar eternamente
tributários do século 20", diz Ferraz, ele mesmo poeta, como a
maioria dos editores das revistas.
Essa confusão das vozes editorial e artística, ao contrário de turvar a seleção de autores, promove
um intercâmbio entre as publicações. Os editores de uma revista
são publicados por outra e vice-versa, intensificando o debate.
Isso é o que acontece com a estreante (e independente) "Cacto",
editada por Eduardo Sterzi e Tarso de Melo, e que deve ter o segundo número já em março.
Ao contrário da proposta da
"Sebastião", a "Cacto" publica ensaios e poemas sem uma relação
direta, embora centre-se no fazer
poético. Nesse sentido, alinha-se
com publicações como "Inimigo
Rumor", mais antiga, e "Sibila".
No seu sétimo ano de existência,
"Inimigo Rumor" já ultrapassou
as fronteiras e chegou a Portugal.
"Foi-se ao encontro de algo por
fazer: uma revista de poesia conjunta Brasil/Portugal, sem dar
guarida ao hífen luso-brasileiro,
hífen equívoco e que consideramos historicamente ultrapassado
e improdutivo", diz Carlito Azevedo, um dos editores brasileiros,
com Augusto Massi e Marcos Siscar, e os portugueses André Fernandes Jorge, Osvaldo Manuel
Silvestre e Pedro Serra.
Com mais tempo de circulação,
tanto a "Inimigo" quanto a "Sibila", editada por Régis Bonvicino,
Romulo Valle Salvino e Odile Cisneros, contam com o apoio de
editoras. Enquanto a Ateliê é responsável pela distribuição da "Sibila", a 7 Letras cuida da "Inimigo
Rumor" no Brasil.
A segurança de uma editora garante a essas revistas uma tiragem
maior que as independentes. São
2.000 exemplares, no caso dessas
duas últimas, contra 500 da "Sebastião" e mil da "Cacto".
Numa linha um pouco diversa,
a "Rodapé", que é custeada pela
editora Nankin e acaba de lançar
mil exemplares de seu segundo
número, é dedicada à crítica.
"Nos vemos mais como um grupo de estudos que como editores", traduzem Airton Paschoa,
Ana Paula Pacheco, Andrea Saad
Hossne, Fabio Weintraub, Priscila Figueiredo e Simone Rufinoni.
Do outro lado, a literatura mistura-se a outras artes em revistas
como "Et Cetera" (Travessa dos
Editores), a ser lançada em março, e a londrinense "Coyote" (Iluminuras), no quarto número.
(ROGÉRIO EDUARDO ALVES)
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