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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, em Milão - ultima.moda@folha.com.br
Milão em tempo de guerra
Disputa de editores americanos com estilistas italianos se acirra na temporada inverno-2008
Uma guerra de farpas entre
editores americanos e estilistas
italianos marcou o início do inverno-2008 da semana de moda de Milão, que começou no
sábado e termina amanhã.
Estilistas importantes, como
Giorgio Armani e Roberto Cavalli, se revoltaram contra a decisão da fashion week de concentrar os principais desfiles
em poucos dias, como desejava
a editora da "Vogue" americana, Anna Wintour, que alegou
não dispor de tanto tempo e
que Milão é uma cidade cara.
Nesta temporada, Armani
decidiu não convidar a principal crítica do jornal "The New
York Times", Cathy Horyn, para os seus desfiles, depois dos
irônicos comentários que ela
fez sobre a apresentação do estilista em Paris, em janeiro.
Horyn chamou de "antiquada"
a reação de Armani à sua crítica.
Mas foi Cavalli quem assumiu o posto de comandante no
bombardeamento italiano. "A
moda americana? Não vale nada. La Wintour? Não estou nem
aí se ela não está na primeira fila do meu desfile: sejamos fortes. Se cortarmos a publicidade
em sua revista, ela terá menos
pressa em Milão", disse ele.
O mal-estar se agravou com
uma reportagem da "Newsweek", apontando sinais de decadência política e socioeconômica na Itália. Segunda a revista americana, a "dolce vita"
(doce vida) estaria dando lugar
à "vita amara" (vida amarga).
A agitação
feita pelos americanos é boa
para que a moda
italiana possa se repensar. Enquanto isso, Milão segue fazendo com pompa os seus rituais.
O principal deles é sempre o
da Prada. Em seu salão enorme
de desfiles, que parece um galpão industrial, Miuccia Prada
mandou instalar desta vez uma
rampa gigante em "s", por onde
desciam e circulavam as modelos, permitindo que o público,
sentado em pufes baixos, tivesse total visibilidade das roupas.
Era preciso ver tudo com
muita atenção. A estilista mostrou uma coleção maravilhosa.
O ponto forte foi o trabalho que
ela realizou com rendas, trazendo este antigo produto para a nossa hipermodernidade.
Miuccia disse que sempre
odiou rendas, mas acabou por
reconhecer a importância delas
para as mulheres -do batismo
até o casamento e o luto. Perversa, contudo, a estilista mostrou as rendas elaboradíssimas
em looks muito eróticos, que
deixavam ver o corpo das modelos e desafiavam a tradição
careta do produto.
O pensamento sobre o corpo
feminino e o erotismo percorreu todo o desfile, seja na primeira parte, com formas arquitetônicas que pareciam guelras,
membranas ou lábios gigantes
abrindo-se em trajes mais austeros, seja nos detalhes masculinos e um tanto fetichistas de
algumas peças, seja ainda nas
roupas em tons "nude" (cor pele), que brincavam com os limites da silhueta e com a nudez.
O mais impressionante é que
a inteligência da coleção se traduza em peças muito desejáveis por mulheres antenadas.
Não foi à toa que algumas delas,
entusiasmadas, não se contiveram e gritaram, como no final
de uma ópera: "Bravo!".
com VIVIAN WHITEMAN
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