São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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RELÂMPAGOS

Samaritano

JOÃO GILBERTO NOLL
Ele batia a cabeça contra o muro. Gritava que não podia se perdoar. Não podia perdoar a ninguém que olhasse sua cena extremada, é, aqueles olhares não querendo aceitar que todos nós falháramos; e ele próprio não tinha mais condições de identificar o início dessa vil história. Como um samaritano, eu quis aliviar um pouco aquela sanha. "Ó", disse eu, "ó!". "Ó o quê?", ele respondeu parando de se convulsionar. E me aproximei, passei o lenço na sua fronte esfolada. Corei, quase fugi. Ele abriu os dentes dizimados. Um sorriso mais conturbador do que o velho desespero. "Ó!", repeti, levando os olhos para longe.


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