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"UMA LIÇÃO DE AMOR"
Drama faz chantagem emocional com espectador
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Sam Dawson é um beatlemaníaco com tendências autistas
e deficiência mental. Ele herdou,
de uma sem-teto grávida que ficou abrigada em sua casa, uma filha, Lucy (in the sky with) Diamonds Dawson, criada com o auxílio de seus amigos, também deficientes.
Sean Penn é um ator talentoso
cujos méritos ainda não foram
devidamente reconhecidos pela
Academia. Ele tenta ganhar, na
pele de Sam, seu primeiro Oscar,
explorando a sintomática atração
que personagens com anomalias
físicas e/ou mentais costumam
exercer sobre os confrades de
Hollywood.
Penn se serve da direção inexperiente de Jessie Nelson para reforçar as minúcias de sua atuação,
cercando-se de um elenco de fato
deficiente para garantir maior autenticidade da performance.
"Uma Lição de Amor" poderia
ter a despretensão de um conto
cassavetiano. "All you need is love", declara Lucy aos juízes que
ameaçam separá-la de Sam.
A lição que a garota aprendeu
com o pai beatlemaníaco, a diretora e co-roteirista Nelson poderia ter tomado de John Cassavetes: tal como a personagem histérico-esquizofrênica de Gena Rowlands em "A Woman under the
Influence", Sam transcende as
barreiras impostas pela sociedade
movido pelo amor filial.
Por conservar o espírito da infância, Sam consegue ser um bom
pai para Lucy, mas, quando esta
começa a superar a sua limitada
capacidade intelectual, a de uma
criança de sete anos, o primeiro
drama se instala: a garota, que não
quer deixar os limites do universo
mental paterno para trás, passa a
ter problemas de desempenho na
escola.
Jessie Nelson troca então o âmbito domiciliar pelo institucional,
com o intuito de buscar legitimidade para o seu drama na questão
jurídico-educacional que o permeia: pode, realmente, uma
criança normal ser educada por
um deficiente mental?
Os limites dramatúrgicos de
Nelson, sua incapacidade em levar o drama pessoal de Sam até o
fim, demonstrados por sua adesão ao velho "sistema de julgamento" do cinema americano, só
não se revelam então maiores do
que a obsessão hollywoodiana pela fórmula do espectador-juiz.
Colocando sub judice a "capacidade pedagógica" de Sam, Jessie
Nelson pode voltar a exprimir,
sem culpas, sua simpatia pela personagem. O julgamento funciona
como um álibi para a (velha)
chantagem emocional do drama:
independentemente agora do fato
de julgarmos se Sam é capaz ou
não de educar Lucy, haveremos
de nos emocionar com as peculiaridades de sua percepção, as manifestações de sua diferença. O
drama, como se vê, é politicamente correto.
Eis a função no filme da personagem de Michelle Pfeiffer, uma
advogada bem-sucedida que recupera a estima do filho ao aprender com Sam, seu inusitado cliente, a tal "lição de amor". É assim
que o lacrimogêneo acaba em pizza, em um dispensável merchandising da Pizza Hut.
Uma Lição de Amor
I Am Sam
Direção: Jessie Nelson
Produção: EUA, 2001
Com: Sean Penn, Michelle Pfeiffer,
Dakota Fanning
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Eldorado, Morumbi, Pátio
Higienópolis e circuito
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