São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 2002

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CRÍTICA

"A Última Ceia" é Halle Berry, e ponto

DO ENVIADO A HOLLYWOOD

Você não percebe que Halle Berry é negra até que ela seja agredida pelo personagem mais preconceituoso de "A Última Ceia". Porque o que salta aos olhos o tempo todo é como uma pessoa, seja negra, branca ou amarela, pode ser tão triste.
E como ela é triste. Sua Leticia é a alma do filme. Pobre, subempregada, ameaçada de despejo, casada com um condenado à morte (Puff Daddy), é ainda mãe de um garoto obeso, condição que a deixa particularmente irritada e violenta com o menino.
Por uma coincidência, sua vida se cruza com a de Hank Grotowsky (a imprensa norte-americana ignorou a referência no sobrenome que o diretor Forster fez ao pensador polonês, criador do "teatro pobre"), um guarda de presídio interpretado com simplicidade por Billy Bob Thornton.
Estamos no interior do Estado da Geórgia, e Hank herda do pai (Peter Boyle) e passa ao filho (Heath Ledger, muito bem no papel) todo o ódio racial que a família cultiva há gerações. O avô é inválido, e pai e filho dividem a mesma prostituta, com quem fazem sexo mecânico.
Duas mortes vão mudar a vida de todo o mundo e unir Hank e Leticia, e uma terceira morte pode separá-los. Detalhes estragariam a surpresa de um filme com um final tão simples quanto inusitado.
Não bastasse o roteiro inteligente e a maneira não-cerimoniosa nem politicamente correta ao lidar com um assunto sério como o racismo, "A Última Ceia" tem o mérito de mostrar a cena de sexo mais fria (com a tal prostituta, que só transa em pé) e a mais quente (entre Hank e Leticia) do cinema americano em 2001.
Esta começa quando Leticia, bêbada, meio chorando, meio rindo, seduz Hank enquanto implora: "Faça-me sentir bem". É Halle Berry se revelando pela primeira vez em sua carreira uma atriz de verdade, seja ela negra, branca ou amarela. (SÉRGIO DÁVILA)


A Última Ceia
Monster's Ball    
Produção: EUA, 2001
Direção: Marc Forster
Com: Halle Berry, Billy Bob Thornton
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Villa-Lobos e circuito


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