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CRÍTICA
"A Última Ceia" é Halle Berry, e ponto
DO ENVIADO A HOLLYWOOD
Você não percebe que Halle
Berry é negra até que ela seja
agredida pelo personagem mais
preconceituoso de "A Última
Ceia". Porque o que salta aos
olhos o tempo todo é como uma
pessoa, seja negra, branca ou
amarela, pode ser tão triste.
E como ela é triste. Sua Leticia é
a alma do filme. Pobre, subempregada, ameaçada de despejo,
casada com um condenado à
morte (Puff Daddy), é ainda mãe
de um garoto obeso, condição
que a deixa particularmente irritada e violenta com o menino.
Por uma coincidência, sua vida
se cruza com a de Hank Grotowsky (a imprensa norte-americana ignorou a referência no sobrenome que o diretor Forster fez
ao pensador polonês, criador do
"teatro pobre"), um guarda de
presídio interpretado com simplicidade por Billy Bob Thornton.
Estamos no interior do Estado
da Geórgia, e Hank herda do pai
(Peter Boyle) e passa ao filho
(Heath Ledger, muito bem no papel) todo o ódio racial que a família cultiva há gerações. O avô é inválido, e pai e filho dividem a
mesma prostituta, com quem fazem sexo mecânico.
Duas mortes vão mudar a vida
de todo o mundo e unir Hank e
Leticia, e uma terceira morte pode
separá-los. Detalhes estragariam
a surpresa de um filme com um final tão simples quanto inusitado.
Não bastasse o roteiro inteligente e a maneira não-cerimoniosa
nem politicamente correta ao lidar com um assunto sério como o
racismo, "A Última Ceia" tem o
mérito de mostrar a cena de sexo
mais fria (com a tal prostituta, que
só transa em pé) e a mais quente
(entre Hank e Leticia) do cinema
americano em 2001.
Esta começa quando Leticia, bêbada, meio chorando, meio rindo, seduz Hank enquanto implora: "Faça-me sentir bem". É Halle
Berry se revelando pela primeira
vez em sua carreira uma atriz de
verdade, seja ela negra, branca ou
amarela.
(SÉRGIO DÁVILA)
A Última Ceia
Monster's Ball
Produção: EUA, 2001
Direção: Marc Forster
Com: Halle Berry, Billy Bob Thornton
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Villa-Lobos e circuito
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