São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 2002

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ERIKA PALOMINO

SYNTHCORE, MODERNOS, CAIPIRAS E ARTES EM SP

Então: o DJ Sven Vath, um dos mitos internacionais do tecno, está entre nós. Ele chegou na quarta a São Paulo, deu aula de simpatia e descolamento e se deixou misturar entre as pessoas. Além disso, tem dado declarações de inteligência, alto astral e muita, muita cultura club. "Este ano comemoro 20 anos de carreira. Sempre fui viciado em música eletrônica e acho que consegui ajudar e contribuir para o crescimento da cultura club", contou o alemão em entrevista, ainda em território argentino (adorou a festa de lá). Hábil, Vath vai conduzindo a pista para onde quer. E o povo vai enlouquecendo. Sua data em SP estava marcada para ontem, mas ele ainda tem mais duas noites no Brasil: hoje no Armazém 5, no Rio, e amanhã no Moinho Paranaense, Curitiba. Os responsáveis pela vinda dele são Eli Iwasa e a Sygno Music, que aproveitaram o lançamento do álbum "Fire" e colocaram o país na rota de turnê do DJ. No disco, ele brinca com vocais em algumas faixas, mas é no cover "Je T'Aime Moi Non Plus" que sua voz fica mais nítida, ao lado da nova diva Miss Kittin, a vocalista que está deixando o mundo de joelhos. Já ouviu falar? Ela faz parte da turma do DJ Hell, que esteve no Brasil no ano passado. "Foi legal trabalhar com ela", diz Sven, que já cantou também nos projetos 80's Electro Salsa e La Casa Latina. "Gosto de trabalhar com minha voz, mas nunca uso 100%." (Leia a entrevista em www.erikapalomino.com.br.)

SÓ PENSO EM MISS KITTIN
Tanto alemão, hein? A "Face" chamou esse babadex de "teutonic cool". Em Paris, onde eu estava vendo os desfiles, só se fala disso, graças ao hype da loja Colette, que lançou para o mundo muitos dos artistas da Gigolo Records, de Hell, em suas três coletâneas. As faixas são trilhas de desfiles e motivos de festas descoladas. E as lojas aproveitam para pôr adesivo em tudo: com Miss Kittin. A voz da mulher é uma coisa, sexy, sussurrada, robótica, com os sintetizadores à la Giorgio Moroder (final dos 70, início dos 80). Eu só penso em Miss Kittin. Carolin Herve é seu verdadeiro nome, uma francesa de 29 anos nascida em Grenoble, que já estudou arte, jazz e clássico, mas que se encontrou mesmo em Genebra, com esse povo do tipo o produtor The Hacker. Ela gravou o megahit "Frank Sinatra", em que ela ri com deboche e diz "Frank Sinatra is dead!"... A faixa está no álbum "Miss Kittin & The Hacker - First Album", que chegou nesta semana à Indie Records, em São Paulo (0/xx/ 11/3816-1220), mas os fãs do tecno vão reconhecê-la de "Madame Hollywood", música do DJ Felix da Housecat, que também esteve no Brasil ano passado e que ajudou a popularizar essa nova cena electro (ou disco nouveau, electropunk, synthpop, synthcore..., os nomes são tantos).

GOLDEN BOY É TUDO
Outro encontro de sucesso é com Golden Boy, em "Or", a meu ver o mais descolado do momento. Tem "Autopilot", deliciosa, "1234" e, principalmente, "Rippin Kittin", que é completamente emocionante, em que a voz dela transcende. E diz que a Miss Kittin também é DJ e produtora, está fazendo seu primeiro álbum solo em seu estúdio doméstico. Tudo.

SYNTHCORE DO BÃO
Como movimento legítimo, o synthcore também encontra eco nos EUA. Em Detroit (onde mais?), a festa Disco Nouveau (procure também pela coletânea) rola no clube gótico Labyrinth, no porão de um hotel, com o Adult (outro nome hype, que tem um disco super, "Resuscitation", com vocal de Nicola Kuperus). A diversão e o deboche vêm pelas mãos do Detroit Grand Pubahs, no CD "Funk All Y"All", que também tem Miss Kittin cantando na tristonha e quase sombria "After School Special". O resto do CD é funkeado, supercriativo, mas às vezes meio dark. Às vezes meio chato, também.

NOVA YORK TEM
TAMBÉM
Quer mais nomes para completar o fundamento? Então se jogue na "ElectroClash 2001", a coletânea americana que consolida a história em Nova York. Tem ainda os performáticos do Fischerspooner, superfashion, a dupla Crossover (procure pelo lindo CD "Fantasmo", vale a pena) e o delicioso Vive la Fête, grupo belga que foi trilha do último desfile da Chanel, em Paris -ao vivo, com a loura vocalista que é a cara da Debbie Harry. "Tokyo" é hit total entre o povo da moda (está no CD da Colette). Mas minha favorita é a gemelenta "AAA", sexy.

TEM DJ ATÉ DE 11
ANOS!
E nesta semana voltou-se a se falar do miniDJ Yasser Hanzi, de apenas 11 anos. Ele está bookado para tocar na próxima MegAvonts, dia 6 de abril. A gente tinha chamado ele para tocar na festa "Melhores da Noite Ilustrada", mas como ele é menor de idade, não pode tocar à noite, só de dia. Yasser é filho de um ex-DJ de Ribeirão Preto, Tim, que agora trabalha com decoração para raves. Yasser acompanhava o pai nas montagens de festas e acabou pegando gosto para a coisa. Até que há cerca de um ano e meio foi descoberto por Rica Amaral, que o colocou para fechar a turnê da XXX-Perience e, desde então, é hoje considerado uma espécie de padrinho do garoto. Yasser tem tocado em casa, claro, em festas fechadas na região de Ribeirão e participa também das raves Millenium. Claro, sempre acompanhado pelos pais.

MODERNOS CAIPIRAS E
VICE-VERSA
Tem hype novo entre modernos. Falar caipira. Isso mesmo. O sotaque característico do interior de São Paulo é a "última moda" entre modernos de vários segmentos. Insegurança ou fofura? A coisa pegou e está nas artes e na moda, no design e na noite. Repare.

ARTE ESQUENTA A
METRÓPOLE
É tempo de arte em São Paulo e só se fala disso. Dos internacionais, da Bienal, de olhos fechados sugiro Jeff Koons, Andreas Gursky, Mariko Mori, Gillian Wearing, Shirin Neshat, Vanessa Beecroft. E recomendo: se jogue. Descubra coisas novas, eleja seus hypes. Divirta-se e deixe-se levar.


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha


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