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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"CLASSIC ALBUMS"
DVDs vasculham discos antológicos de Elvis e Lou Reed
Folha Imagem
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Elvis Presley, que tem documentário lançado em DVD no Brasil |
Série "parece, mas não é" aborda clássicos do rock
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DA REPORTAGEM LOCAL
A fase pode ser de transição,
do combalido CD para o
DVD ou seja lá o que venha a surgir, mas nem por isso a indústria
também em transição precisa cair
na armadilha de parecer estar enganando o consumidor.
É o que acontece numa coleção
de DVDs que chega ao Brasil pelos braços da distribuidora ST2. A
série se chama "Classic Albums".
Cada embalagem reproduz, no
centro, a capa original de grandes
álbuns de nomes como Elvis Presley, Lou Reed e Elton John.
A curiosidade se aguça desde aí.
Como se cobriram de imagens as
faixas originais de "Elvis Presley",
LP de estréia do pai do rock, em
1956? E as de "Transformer" (72),
a viagem de Lou Reed ao lado selvagem da vida?
Se já era fundamental para Elvis
e Lou, a imagem ainda não era
"tudo", como se diz hoje, na era
DVD. Seus LPs foram pensados
como objetos de ouvir, não de ver.
Como estaria "Transformer"
transformado em filme, então?
É claro, não há resposta. Os
"Classic Albums" na verdade não
está lá dentro. Os DVDs são documentários sobre a feitura daqueles discos, em 56, 72, 73 (caso de
"Goodbye Yellow Brick Road", de
Elton John) ou 82 ("The Number
of the Beast", do Iron Maiden).
No caso de Lou, nem as músicas
de "Transformer" estão presentes
na íntegra, como a propaganda de
capa facilmente sugere. O artista
aparece reinterpretando-as, trechos são colocados aqui e ali para
ilustrar depoimentos.
No caso de Elvis, é mais grave.
Nem sequer o LP prometido está
ali. O documentário é, na verdade, sobre suas primeiras gravações, na Sun Records, pequeno
selo de Sam Phillips, e sobre a
transição desse período para a estréia na RCA, com singles como
"Heartbreak Hotel" e o dito LP
que a capa do DVD alardeia.
Do LP mesmo, só aparecem três
das 12 faixas, novamente como
trechos, comentários etc. OK, em
1956 LP era algo ainda sem muita
importância (o compacto de
"Heartbreak Hotel" vendeu na
época 2 milhões de exemplares, e
o LP, só 300 mil, como conta o documentário), mas mesmo assim
fica demais o gato por lebre.
Aí se chega ao lado 2 da moeda.
À parte isso tudo, os documentários que compõem a série são primorosos. No de Elvis, são entrevistados os músicos originais que
o acompanhavam em 56, Sam
Phillips, historiadores e especialistas. A ligação sociocultural de
Elvis com a black music é encarada com seriedade e dada como
uma das razões do nascimento do
rock'n'roll. História, crianças.
No de Lou Reed, em especial, o
tom chega ao soberbo. Com uma
edição irônica e crítica, o diretor
Bob Smeaton explora cada pequena contradição no que dizem
Lou e seus asseclas, sem nunca
soar agressivo ou destrutivo.
O contraste entre o Lou intempestivo de 72 e o senhor sisudo
que tira qualquer glamour de
"Walk on the Wild Side", "Satellite of Love" e "Perfect Day" ao
reinterpretá-las se consuma na
expressão melancólica do próprio
artista ao reouvir a "Perfect Day"
original e exclamar, meio contrariado: "É maravilhoso".
Embora as canções não estejam
ali na íntegra, há imaginário riquíssimo a ser reunido, com aparições de Andy Warhol, David
Bowie, Iggy Pop, Joe Dalessandro,
o transexual Candy Darling, o
"wild side" nova-iorquino todo. É
emocionante, para quem se interessa pelos bastidores do pop.
Enfim, é isso. Indecisa, a indústria mundial utiliza o tempo ruim
para colocar gente falando sobre
como fez música no passado, em
vez de aumentar a caixa de som.
Metalinguagem ou autofagia, é o
retrato de agora. O que não fica
bonito é tentar enganar o pessoal
do lado de cá.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Série Classic Albums
Artistas: Elvis Presley, Lou Reed, Elton
John, Iron Maiden
Lançamento: Eagle/ST2
Quanto: R$ 50, em média, cada DVD
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