São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"CLASSIC ALBUMS"

DVDs vasculham discos antológicos de Elvis e Lou Reed

Folha Imagem
Elvis Presley, que tem documentário lançado em DVD no Brasil



Série "parece, mas não é" aborda clássicos do rock


DA REPORTAGEM LOCAL

A fase pode ser de transição, do combalido CD para o DVD ou seja lá o que venha a surgir, mas nem por isso a indústria também em transição precisa cair na armadilha de parecer estar enganando o consumidor.
É o que acontece numa coleção de DVDs que chega ao Brasil pelos braços da distribuidora ST2. A série se chama "Classic Albums". Cada embalagem reproduz, no centro, a capa original de grandes álbuns de nomes como Elvis Presley, Lou Reed e Elton John.
A curiosidade se aguça desde aí. Como se cobriram de imagens as faixas originais de "Elvis Presley", LP de estréia do pai do rock, em 1956? E as de "Transformer" (72), a viagem de Lou Reed ao lado selvagem da vida?
Se já era fundamental para Elvis e Lou, a imagem ainda não era "tudo", como se diz hoje, na era DVD. Seus LPs foram pensados como objetos de ouvir, não de ver. Como estaria "Transformer" transformado em filme, então?
É claro, não há resposta. Os "Classic Albums" na verdade não está lá dentro. Os DVDs são documentários sobre a feitura daqueles discos, em 56, 72, 73 (caso de "Goodbye Yellow Brick Road", de Elton John) ou 82 ("The Number of the Beast", do Iron Maiden).
No caso de Lou, nem as músicas de "Transformer" estão presentes na íntegra, como a propaganda de capa facilmente sugere. O artista aparece reinterpretando-as, trechos são colocados aqui e ali para ilustrar depoimentos.
No caso de Elvis, é mais grave. Nem sequer o LP prometido está ali. O documentário é, na verdade, sobre suas primeiras gravações, na Sun Records, pequeno selo de Sam Phillips, e sobre a transição desse período para a estréia na RCA, com singles como "Heartbreak Hotel" e o dito LP que a capa do DVD alardeia.
Do LP mesmo, só aparecem três das 12 faixas, novamente como trechos, comentários etc. OK, em 1956 LP era algo ainda sem muita importância (o compacto de "Heartbreak Hotel" vendeu na época 2 milhões de exemplares, e o LP, só 300 mil, como conta o documentário), mas mesmo assim fica demais o gato por lebre.
Aí se chega ao lado 2 da moeda. À parte isso tudo, os documentários que compõem a série são primorosos. No de Elvis, são entrevistados os músicos originais que o acompanhavam em 56, Sam Phillips, historiadores e especialistas. A ligação sociocultural de Elvis com a black music é encarada com seriedade e dada como uma das razões do nascimento do rock'n'roll. História, crianças.
No de Lou Reed, em especial, o tom chega ao soberbo. Com uma edição irônica e crítica, o diretor Bob Smeaton explora cada pequena contradição no que dizem Lou e seus asseclas, sem nunca soar agressivo ou destrutivo.
O contraste entre o Lou intempestivo de 72 e o senhor sisudo que tira qualquer glamour de "Walk on the Wild Side", "Satellite of Love" e "Perfect Day" ao reinterpretá-las se consuma na expressão melancólica do próprio artista ao reouvir a "Perfect Day" original e exclamar, meio contrariado: "É maravilhoso".
Embora as canções não estejam ali na íntegra, há imaginário riquíssimo a ser reunido, com aparições de Andy Warhol, David Bowie, Iggy Pop, Joe Dalessandro, o transexual Candy Darling, o "wild side" nova-iorquino todo. É emocionante, para quem se interessa pelos bastidores do pop.
Enfim, é isso. Indecisa, a indústria mundial utiliza o tempo ruim para colocar gente falando sobre como fez música no passado, em vez de aumentar a caixa de som. Metalinguagem ou autofagia, é o retrato de agora. O que não fica bonito é tentar enganar o pessoal do lado de cá.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Série Classic Albums     
Artistas: Elvis Presley, Lou Reed, Elton John, Iron Maiden
Lançamento: Eagle/ST2
Quanto: R$ 50, em média, cada DVD


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