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FILME POLÊMICO
Evangélicos fecham sala de shopping em São Paulo para ver longa de Gibson e ouvir palavras do pastor
"Paixão" transforma cinemas em igreja
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As luzes haviam acabado de se
acender quando um homem se levantou de sua poltrona, no alto da
sala de cinema de um shopping, e
gritou: "Pessoal, é impossível sair
daqui indiferente. Marquem o dia
de hoje e mudem suas vidas. Esse
Jesus morreu por nós. Pensem
nisso e vão com Deus".
Após essas palavras, funcionários do shopping Jardim Sul, em
São Paulo, tiveram de pedir para
que os 200 fiéis da Igreja Batista
da Liberdade deixassem o cinema, reservado por eles para uma
sessão de "A Paixão de Cristo".
Atordoados com o longa de Mel
Gibson, muitos permaneceram
sentados por alguns minutos, ainda chorando, ou formaram rodinhas para comentar as cenas e o
que o pastor Eli Fernandes acabara de gritar das últimas fileiras.
A sessão, na noite de sábado, foi
só uma das várias que irão acontecer enquanto a polêmica produção estiver em cartaz. A exemplo
do que ocorreu nos EUA, igrejas
evangélicas brasileiras estão reservando salas para que os fiéis
assistam ao filme e debatam com
os líderes logo após a exibição.
A de sábado foi organizada por
jovens da Igreja Batista da Liberdade em uma semana. Fora o boca a boca, fiéis souberam da sessão exclusiva por telefone e uma
corrente de e-mails. Os ingressos
foram comprados com antecedência e revendidos na igreja.
O pastor Fernandes já havia falado sobre "A Paixão de Cristo"
no culto do domingo anterior. No
sábado, minutos antes do início
do longa-metragem, ele fez uma
breve pregação em frente à tela do
cinema: "O filme é muito forte.
Espero que nos ajude a entender
que o sacrifício de Jesus foi enorme por mim, por você, por todos
nós. Quando terminar a sessão,
haverá 50 pessoas preparadas para debater e orar com vocês. Bom
filme e fiquem com Deus".
A maioria dos espectadores se
conhecia e o clima era de descontração quando as luzes se apagaram. Alguns jovens faziam piadas
e riam. Logo na primeira cena,
quando Jesus mata uma cobra enviada pelo diabo (simbolizando
que resistia à tentação), alguns comemoraram dizendo "amém".
Mas a atmosfera mudou completamente em seguida, quando
Jesus é capturado e se inicia sua
interminável tortura. Nas primeiras chibatadas, o estudante Diego
Amâncio Dias, 21, colocou as
mãos sobre o rosto e começou a
chorar compulsivamente. Teve de
ser amparado por uma moça que
estava sentada ao seu lado. Só se
acalmou e voltou a olhar para a tela quando os chicotes pararam.
Ele disse que só conseguiu ver o
filme até o final porque começou
a "conversar com Deus". "Ele
confortou meu coração para que
eu pudesse continuar."
Já a pedagoga e atriz Leila Dias
Santos, 28, não agüentou. Saiu da
sala com pressa quando Jesus começou a apanhar. Estava passando mal, com as pernas trêmulas e
falava com dificuldade.
"Eu não imaginava que ia ser assim tão forte. Infelizmente não dá
para agüentar. Esse filme vai ser
muito bom para as pessoas pararem para pensar", disse.
Anti-semita
Vários fiéis choraram durante
todo o filme. Na crucificação,
muitos taparam os olhos para não
ver as mãos e os pés de Jesus sendo furados pelos pregos.
Emocionados, os evangélicos
comentavam passagens da Bíblia
enquanto saíam do cinema e falavam sobre a controvérsia envolvendo os judeus. "O filme não é
anti-semita. Mostra Jesus se entregando ao matadouro. O judeu
só se sentirá ofendido se não conhecer o Evangelho", disse o jornalista Fábio Siqueira, 23.
O estudante Dias, que permanecera parte do filme em prantos,
fez silêncio quando questionado
sobre essa polêmica. Mas à pergunta "Você ficou com raiva dos
judeus durante o filme", ele respondeu: "Muita".
O pastor Fernandes disse que
foi "muito importante" ter reunido os freqüentadores da igreja para ver "Paixão" e que pretende organizar outras sessões fechadas.
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