São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2005

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14º FESTIVAL DE CURITIBA

"Só as Gordas São Felizes", de Celso Cruz, e "A Caminho de Casa", de Maurício Arruda Mendonça e Paulo Moraes, destacam-se na mostra

Curitiba traça novos caminhos da dramaturgia

SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Depois de muitos anos ofuscado pela encenação, o texto volta à ribalta, seja concebido como exercício para atores, seja procurando transmitir mensagens inadiáveis. No primeiro gênero, se destaca até agora "Só as Gordas São Felizes" -que teve sua última apresentação no festival no domingo- do autor-diretor Celso Cruz, que no ano passado trouxe o belo "Licurgo".
Desta vez, o trash pesa mais que o trágico, e, apesar do tema -dois serial killers no corredor da morte-, a agilidade do diálogo e a boa performance dos atores leva o espetáculo a um estranho humor negro. Embalados no figurino kitsch-minimalista de Ofélia Lott, estes dois clowns que parecem saídos dos desenhos dos "Simpsons" disparam em paralelo textos e marcas quase abstratos, em associação livre.
Guilherme Freitas, alternando na voz o sinistro e o pueril, impressiona por não ceder ao deboche, mantendo uma interiorização perturbadora. Dill Magno, em contraponto, beira o hilário com um bom domínio de corpo.
Aproveitam bem um texto que por enquanto não pretende mais do que ser uma pesquisa de linguagem que una lúdico e mórbido, remetendo a Beckett pela forma, mas não pelo conteúdo.

Fábula urbana
O conteúdo, por outro lado, é o ponto de partida da Armazém Companhia de Teatro, que traz para a Mostra de Teatro Contemporâneo o pungente "A Caminho de Casa", uma investigação sobre a fé e a tolerância em três histórias que se completam.
Na primeira, na qual se sente a inspiração do escritor Julio Cortázar, um acidente provoca um gigantesco engarrafamento na auto-estrada, o que obriga desconhecidos a transporem prevenções e revelarem o pior e o melhor de si.
De um carro a outro, com o habitual impacto cenográfico do grupo, o tom é ainda de crônica urbana, que dá um passo a mais na história seguinte.
Desta vez, mergulha-se sem pudor no melodrama, e a fábula do velho sufi e do menino judeu órfão remete às novelas gráficas de Will Eisner. Na última parte, na qual agora deslumbra o figurino, chega-se à tragédia, como causa primeira da fábula urbana do início: a explosão de um ônibus por um menino-bomba.
Apesar de sentencioso às vezes, o texto de Maurício Arruda Mendonça e Paulo Moraes se impõe pela ágil encenação de Moraes e a grande competência dos atores.
Patrícia Selonk, embolsando a platéia desde o início, como uma desbocada lutadora de catch, e até o fim, como uma inesquecível mãe de terrorista, se impõe como uma das maiores atrizes de sua geração, que cada vez mais precisa de textos para brilhar.


O crítico Sergio Salvia Coelho e a repórter fotográfica Lenise Pinheiro viajam a convite da organização do 14º Festival de Teatro de Curitiba

A Caminho de Casa
   
Texto: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Direção: Paulo de Moraes
Com: Armazém Cia. de Teatro
Onde: Teatro da Reitoria (r. 15 de Novembro, 1.299, PR, tel. 0/xx/41/360-5066)
Quando: hoje, às 20h30

Só as Gordas São Felizes
   
Direção: Celso Cruz
Com: Guilherme Freitas e Dill Magno


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