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14º FESTIVAL DE CURITIBA
"Só as Gordas São Felizes", de Celso Cruz, e "A Caminho de Casa", de Maurício Arruda Mendonça e Paulo Moraes, destacam-se na mostra
Curitiba traça novos caminhos da dramaturgia
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Depois de muitos anos ofuscado pela encenação, o texto
volta à ribalta, seja concebido como exercício para atores, seja procurando transmitir mensagens
inadiáveis. No primeiro gênero,
se destaca até agora "Só as Gordas
São Felizes" -que teve sua última apresentação no festival no
domingo- do autor-diretor Celso Cruz, que no ano passado trouxe o belo "Licurgo".
Desta vez, o trash pesa mais que
o trágico, e, apesar do tema
-dois serial killers no corredor
da morte-, a agilidade do diálogo e a boa performance dos atores
leva o espetáculo a um estranho
humor negro. Embalados no figurino kitsch-minimalista de Ofélia
Lott, estes dois clowns que parecem saídos dos desenhos dos
"Simpsons" disparam em paralelo textos e marcas quase abstratos,
em associação livre.
Guilherme Freitas, alternando
na voz o sinistro e o pueril, impressiona por não ceder ao deboche, mantendo uma interiorização perturbadora. Dill Magno, em
contraponto, beira o hilário com
um bom domínio de corpo.
Aproveitam bem um texto que
por enquanto não pretende mais
do que ser uma pesquisa de linguagem que una lúdico e mórbido, remetendo a Beckett pela forma, mas não pelo conteúdo.
Fábula urbana
O conteúdo, por outro lado, é o
ponto de partida da Armazém
Companhia de Teatro, que traz
para a Mostra de Teatro Contemporâneo o pungente "A Caminho
de Casa", uma investigação sobre
a fé e a tolerância em três histórias
que se completam.
Na primeira, na qual se sente a
inspiração do escritor Julio Cortázar, um acidente provoca um gigantesco engarrafamento na auto-estrada, o que obriga desconhecidos a transporem prevenções e revelarem o pior e o melhor
de si.
De um carro a outro, com o habitual impacto cenográfico do
grupo, o tom é ainda de crônica
urbana, que dá um passo a mais
na história seguinte.
Desta vez, mergulha-se sem pudor no melodrama, e a fábula do
velho sufi e do menino judeu órfão remete às novelas gráficas de
Will Eisner. Na última parte, na
qual agora deslumbra o figurino,
chega-se à tragédia, como causa
primeira da fábula urbana do início: a explosão de um ônibus por
um menino-bomba.
Apesar de sentencioso às vezes,
o texto de Maurício Arruda Mendonça e Paulo Moraes se impõe
pela ágil encenação de Moraes e a
grande competência dos atores.
Patrícia Selonk, embolsando a
platéia desde o início, como uma
desbocada lutadora de catch, e até
o fim, como uma inesquecível
mãe de terrorista, se impõe como
uma das maiores atrizes de sua
geração, que cada vez mais precisa de textos para brilhar.
O crítico Sergio Salvia Coelho e a repórter fotográfica Lenise Pinheiro viajam a convite da organização do 14º Festival de Teatro de Curitiba
A Caminho de Casa
Texto: Maurício Arruda Mendonça e
Paulo de Moraes
Direção: Paulo de Moraes
Com: Armazém Cia. de Teatro
Onde: Teatro da Reitoria (r. 15 de
Novembro, 1.299, PR, tel. 0/xx/41/360-5066)
Quando: hoje, às 20h30
Só as Gordas São Felizes
Direção: Celso Cruz
Com: Guilherme Freitas e Dill Magno
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