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comentário
No passado, até personagens de Disney fumavam
RUY CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Em "Estranha Passageira"
(1942), clássico romântico do
cinema americano, Bette Davis
pede um cigarro a Paul Hen-reid. O galã, sensualíssimo, tira
do maço e põe lentamente na
boca dois Lucky Strike. Acende-os com um único fósforo,
solta a baforada e passa um dos
cigarros a Bette. Esta o aceita
com a mão enluvada, leva-o aos
lábios e devolve a tragada pelas
narinas. O público suspirava.
Quando o filme era com
Humphrey Bogart, os rapazes
saíam do cinema acendendo
seus cigarros à moda Bogart: fazendo uma parede com quatro
dedos para proteger a chama.
Mesmo que não estivesse ventando. E, quando ele contracenava com Lauren Bacall, sabia-se que teria uma fumante à altura. Mas não era vantagem
-eles eram casados e fumavam
até debaixo do chuveiro.
Marlene Dietrich, John
Wayne, Ava Gardner, Rita Hayworth, James Dean, Marcello
Mastroianni, Jeanne Moreau e
Jean-Paul Belmondo foram alguns dos grandes fumantes do
cinema. Até Fred Astaire, que,
como dançarino, era exigente
quanto à qualidade do oxigênio
que respirava, fumava em seus
filmes com Ginger Rogers. Não
apenas isso como, na vida real,
era garoto-propaganda dos cigarros Chesterfield.
Cigarros e seus congêneres
estavam em todas as telas do
passado, inclusive as que exibiam os desenhos de -pode
crer- Walt Disney. Em "Pinóquio" (1940), a raposa João Honesto, o gato Gedeão e os meninos da ilha dos Prazeres são fumantes. Em "Alice no País das
Maravilhas" (1951), a Lagarta
fuma de narguilé e produz letras com anéis de fumaça. E, em
"Peter Pan" (1953), o Capitão
Gancho fuma por uma piteira
com duas saídas. Aliás, Walt
também fumava.
Hoje, nada disso seria possível. O lobby anti-tabagista está
vencendo. Nos filmes atuais,
um casal pode fazer sexo explícito em cena e ninguém se chocará. Mas, se acender um cigarro depois, haverá gente na platéia limpando um pigarro imaginário ou esbravejando. Enquanto isso, continua-se a beber nos filmes, ao passo que cenas de gente consumindo drogas devem ter crescido em
900% desde que Paul Henreid
acendeu aqueles dois cigarros.
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