São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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comentário

No passado, até personagens de Disney fumavam

RUY CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Em "Estranha Passageira" (1942), clássico romântico do cinema americano, Bette Davis pede um cigarro a Paul Hen-reid. O galã, sensualíssimo, tira do maço e põe lentamente na boca dois Lucky Strike. Acende-os com um único fósforo, solta a baforada e passa um dos cigarros a Bette. Esta o aceita com a mão enluvada, leva-o aos lábios e devolve a tragada pelas narinas. O público suspirava.
Quando o filme era com Humphrey Bogart, os rapazes saíam do cinema acendendo seus cigarros à moda Bogart: fazendo uma parede com quatro dedos para proteger a chama. Mesmo que não estivesse ventando. E, quando ele contracenava com Lauren Bacall, sabia-se que teria uma fumante à altura. Mas não era vantagem -eles eram casados e fumavam até debaixo do chuveiro.
Marlene Dietrich, John Wayne, Ava Gardner, Rita Hayworth, James Dean, Marcello Mastroianni, Jeanne Moreau e Jean-Paul Belmondo foram alguns dos grandes fumantes do cinema. Até Fred Astaire, que, como dançarino, era exigente quanto à qualidade do oxigênio que respirava, fumava em seus filmes com Ginger Rogers. Não apenas isso como, na vida real, era garoto-propaganda dos cigarros Chesterfield.
Cigarros e seus congêneres estavam em todas as telas do passado, inclusive as que exibiam os desenhos de -pode crer- Walt Disney. Em "Pinóquio" (1940), a raposa João Honesto, o gato Gedeão e os meninos da ilha dos Prazeres são fumantes. Em "Alice no País das Maravilhas" (1951), a Lagarta fuma de narguilé e produz letras com anéis de fumaça. E, em "Peter Pan" (1953), o Capitão Gancho fuma por uma piteira com duas saídas. Aliás, Walt também fumava.
Hoje, nada disso seria possível. O lobby anti-tabagista está vencendo. Nos filmes atuais, um casal pode fazer sexo explícito em cena e ninguém se chocará. Mas, se acender um cigarro depois, haverá gente na platéia limpando um pigarro imaginário ou esbravejando. Enquanto isso, continua-se a beber nos filmes, ao passo que cenas de gente consumindo drogas devem ter crescido em 900% desde que Paul Henreid acendeu aqueles dois cigarros.


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