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Cinema
Projetos de lei de Luiz Estevão (PMDB-DF) e Francelino Pereira (PFL-MG) estabelecem que 5% da bilheteria dessas produções seja aplicado no cinema nacional
Senadores estudam taxar filmes estrangeiros no país
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
A publicidade gerada pela presença de "Central do Brasil" no Oscar 99 vem causando uma corrida
no Senado. Pelo menos dois senadores estão com projetos de lei
propondo retenção de parte da bilheteria de filmes estrangeiros para
aplicá-la em produções nacionais.
Há quatro dias, o senador Luiz
Estevão (PMDB-DF) apresentou
seu projeto. O documento, com
apenas cinco frases, determina que
5% do valor da bilheteria de filmes
estrangeiros seja destinado a financiar filmes brasileiros.
O projeto propõe ainda que esses
recursos sejam administrados pelo
Ministério da Cultura. "Se houver
vontade política, aprovamos em
seis meses", afirma Estevão.
No mesmo dia em que Estevão
apresentou o documento, outro
senador, Francelino Pereira (PFL-MG), discursou no plenário defendendo a mesma proposta.
Pereira estuda a possibilidade de
apresentar seu próprio projeto de
lei hoje. "Já estava trabalhando nele quando fui informado do trabalho de meu colega", diz Pereira.
Ambos os senadores afirmam ter
tido a idéia após lerem recentes entrevistas de Walter Salles na imprensa. Salles tem dito que uma
das saídas para variar o modelo de
produção brasileiro -hoje apenas
em torno de incentivos fiscais-
seria taxar a renda dos filmes estrangeiros no Brasil.
Se usados os 5% propostos pelo
senador Luiz Estevão, essa nova taxa arrecadaria, por exemplo, cerca
de R$ 2,5 milhões apenas no primeiro bimestre de 99. "Central do
Brasil" custou R$ 2,9 milhões.
O total arrecadado por filmes estrangeiros nesse bimestre foi de R$
49 milhões. Os filmes nacionais
conseguiram R$ 10,5 milhões.
Acontece que o projeto de lei
apresentado não esclarece como
esse valor será recolhido. Não se
sabe quem deve declarar a renda
-pode ser a sala de exibição ou o
distribuidor das grandes produtoras americanas-, já que não há
uma central de arrecadação, como
foi a Embrafilme, por exemplo.
Segundo o ex-presidente da Embrafilme e professor de cinema da
ECA-USP Carlos Augusto Calil, há
diversas possibilidades de melhorar o atual sistema de impostos.
"Poderíamos atualizar algumas
leis já existentes ou mesmo criar
uma nova, mas é preciso estabelecer melhor alguns detalhes, como
essa forma de arrecadação", diz.
Calil lembra que na França, por
exemplo, funciona o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). "O ingresso custa uns 20 francos mais
uns 3 de imposto. Esse valor agregado vai para filmes franceses."
No Brasil, o Imposto das Diversões Públicas, criado pela Prefeitura de São Paulo, arrecadava
uma porcentagem sobre os ingressos, nos anos 50.
Caso o senador resolva adiar a
apresentação de hoje, o projeto
poderá trazer propostas de taxação não só dos cinemas, mas também de locadoras, redes de televisão e canais pagos que aluguem
ou exibam filmes estrangeiros.
O assessor técnico de Pereira,
João da Silveira, também está ouvindo opiniões de profissionais
da área de cinema. "Poderíamos
criar um conselho curador com
profissionais, críticos, analistas,
sindicalistas e políticos. Queremos evitar o corporativismo",
afirma Silveira, que abriu seu e-mail para sugestões ao projeto de
lei: jesilv@senado.gov.br.
²
LEIA MAIS sobre cinema à pág. 6-3
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