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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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Quinteto finaliza "Earthquake Blue" nos EUA e aporta última criação, "Universal Truths and Cycles", por aqui

À espera do terremoto

Divulgação
Os integrantes do quinteto de Dayton, Ohio, Guided by Voices


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Algumas pessoas pensam que eu faço música todo dia, como um cientista louco. Tenho um grande catálogo de melodias na cabeça e só o que faço é roubar o que eu já ouvi antes." Quem dá a fórmula é Robert Pollard, 45, vocalista e compositor dos Guided by Voices, uma das bandas mais cultuadas e menos executadas da história do indie rock.
A cinco meses de lançar seu 15º -e já pronto- álbum oficial, "Earthquake Glue", o quinteto de Dayton, Ohio, reverbera outra vez no Brasil com "Universal Truths and Cycles", lançado no ano passado nos EUA, pela Matador.
Tudo a seu tempo, porque, se formos acompanhar o ritmo alucinado do ex-professor de ginásio Pollard, ninguém entende nada: ""Universal Truths and Cycles" acabou se formando muito rapidamente em duas baterias de músicas. Escrevi 12, nos juntamos para ensaiar, gravamos e achamos que aquele seria o álbum. E então voltei com uma nova bateria de canções acústicas, punks e curtas, e pensei: "Bem, isso poderia ser o meu próximo disco". Mas tínhamos tempo de sobra e resolvi colocar tudo neste mesmo", conta o líder do Guided by Voices, único membro original da banda desde sua fundação, em 1985.
São ao todo 20 músicas, alguém poderia dizer vinhetas, gravadas em pouco mais de duas semanas no tradicional estilo "lo-fi" (de qualidade tosca) que fez a fama do GBV nos anos 90, quando era referência para nomes que iam de Sebadoh e Pavement às "mainstream" Breeders e Sonic Youth.
Hoje, entre sua um pouco mais silenciosa, mas não menos cult, legião de seguidores estão por exemplo os nova-iorquinos dos Strokes. "Eles são grandes amigos nossos. Acho que eles são únicos, soam felizes e espertos, com a dureza das ruas, mas também têm algo que qualquer um pode ouvir. São bem diferentes de algumas outras bandas retrô que têm por aí, como o Hives e os White Stripes. Eu já ouvi isso antes."
A opinião, longe de mera rabugice de um velho roqueiro recalcado, conta. Se não estiver compondo ou tocando música, Pollard está fuçando. "Havia tanta coisa interessante nos anos 60 e 70, e a indústria promovia bandas que eram diferentes entre si. Por isso estou sempre interessado em discos velhos, doideiras como The Insect Trust, Peanut Butter Conspiracy, que, nesse caso específico, são uma droga", brinca.
"Desde criança, eu ouvi e comprei discos constantemente. Meu pai ficava puto, porque eu gastava todo o meu dinheiro nisso. Sou um fã, antes de tudo, antes de ter uma banda eu já desenhava capas de discos e escrevia letras."

Futuro perfeito
Se cerca de 14 dias foram gastos para gravar "Universal Truths and Cycles", "Earthquake Glue", o novo álbum do grupo, levou só dez. Mais convencional, com 14 faixas pop de três minutos, o filé mignon de "Earthquake...", programado para o segundo semestre, deverá ser a faixa "My Kind of Soldier", gravada no estúdio de Steve Albini. "É uma canção superbem produzida, com potencial para ser hit, mas não sei se é possível para nós ter um hit", diz.
Satisfeito com sua passagem pela "major" indie TVT, pela qual lançara os contrastantes -porque bem produzidos- "Do the Collapse" (1999) e "Isolation Drills" (2000), Pollard comemora a volta à Matador e à rotina de estúdios baratos.
"Estamos acertando o passo. Tivemos essa fase de experimentar que direção queríamos tomar, se gostaríamos de ser uma banda grande de estúdio ou que tipo de banda gostaríamos de ser. Agora estou confortável: somos uma banda boa, que faz discos interessantes... embora com algumas letras ininteligíveis. É, acho que tenho de melhorar como letrista."



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