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LIVRO/CRÍTICA
Coleção supervaloriza a função do texto teatral
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Nos primeiros anos da ditadura militar no Brasil, era
comum uma certa esquizofrenia
da política cultural oficial: o Ministério da Cultura organizava
concursos de dramaturgia, e os
premiados eram imediatamente
censurados.
Isso criou o mito de que havia
gavetas cheias de obras-primas, à
espera da abertura. Depois que a
abertura veio, a culpa pelo não-florescimento da dramaturgia nacional foi atribuída a um desinteresse sistemático pelo que é "nosso", os produtores só se interessando pelo "de fora".
Os grupos, no entanto, cansados de esperar por um novo Vianinha, fizeram seus próprios textos, primeiro em criações coletivas, depois no esquema de dramaturgia participativa, no qual o
dramaturgo não é o "autor", mas
uma parte da equipe que divide a
autoria do espetáculo.
A crise, como se vê, não é do texto nacional, mas da idéia do dramaturgo de gabinete, que cria seu
produto e fica à espera de quem o
compreenda.
A coleção "Teatro Brasileiro"
parte de um princípio inatacável:
publicar com regularidade textos
nacionais para o teatro, variando
gêneros (uma comédia, um drama, um infantil, textos inéditos e
consagrados) e com distribuição
gratuita para escolas e bibliotecas.
Isso teria o mérito de se contrapor
ao excessivo marketing das produções estrangeiras.
Acontece que o texto teatral não
é a essência do teatro. Neste volume 5, por exemplo, o instigante
texto de Bosco Brasil, "O Acidente", serve como lembrança ou atiça a curiosidade de quem não viu
a montagem de Ariela Goldmann
em 2000.
As pausas, assim como os diálogos ágeis, são matéria-prima para
o trabalho dos atores, como sabe
o experiente Bosco, por isso lacônico em suas rubricas.
A mesma prudência não tem
Juca de Oliveira, que pontifica
instruções cênicas como se disputasse o poder com o diretor.
Exige "luz para brilhar os olhos
dos atores", explica o que é comédia de costumes, antes de apresentar "a Babá", um vaudeville
pré-ibseniano, que mostra os perigos para a família da mulher trabalhar fora. Seria menos patético,
se Oliveira não se propusesse a ser
discípulo de Boal.
Arrogando-se a função do diretor, acaba soando principiante
como Polo Jaru, que prevê em "O
Mistério do Dedo Enterrado" um
palco giratório apenas para uma
cena de efeito.
É divertido saber que o autor fala de fatos verídicos, mas o mistério de sua identidade não terá tanta importância se houver montagem, quando o texto se dilui no
espetáculo.
Por si só, o texto dá uma idéia
apenas aproximada do que se pode ver no palco. É difícil entender,
por exemplo, a boa recepção crítica da "Canção de Assis", de Júlio
Fischer, que no papel parece piegas e maniqueísta.
Para cumprir perfeitamente sua
função, o texto teatral deveria ser
sempre publicado sim, mas distribuído junto ao programa durante
a temporada. Assim, escaparia da
excessiva importância que a editora Hamdan lhe atribui.
Teatro Brasileiro V.5
Organizador: Soraya Hamdam
Editora: Hamdam Editora
Quanto: R$ 29 (230 págs.)
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