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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição apresenta trabalhos de oito artistas sobre a "incapacidade de representação da realidade"

Documentário é posto em xeque no Paço

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O documentário, a forma que cinema e televisão reservam como a mais fiel à realidade, tem seus limites questionados, a partir da próxima semana, com a mostra "A Respeito de Situações Reais", que será exibida no Paço das Artes, em São Paulo.
A exposição, com curadoria dos franceses Catherine David e Jean Pierre Rehm, foi organizada originalmente como mostra paralela ao Festival de Cinema de Roterdã, na Holanda, no início do ano, e foi montada no museu Witte de Wit, do qual David é diretora.
Na semana passada, Rehm, que também é curador do Festival de Documentários de Marselha, esteve em São Paulo como jurado do festival É Tudo Verdade e conversou com a Folha. "Nosso objetivo não é ilustrar um tema nem enfatizar um ponto, mas mostrar uma situação dentro do campo do cinema, da arte e da reflexão."
Tal situação revela-se, segundo Rehm, de maneira dupla: "Um questionamento da forma de representação do real por artistas plásticos em documentários e, ao mesmo tempo, uma interrogação sobre as próprias ferramentas de construção dessa linguagem".
Bom exemplo é o trabalho da artista belga Chantal Akerman, uma instalação com vários monitores que foi vista na última Documenta de Kassel, na Alemanha. Akerman apresenta uma série de registros numa região chamada Água Piestra, no limite geográfico entre EUA e México, onde mexicanos tentam cruzar ilegalmente a fronteira. Há desde entrevistas com mexicanos e americanos até filmagens estáticas da paisagem e do ambiente urbano dos dois lados. "Aqui vemos como os documentários podem apresentar visões diferentes de uma mesma situação", afirma Rehm.
O que une os trabalhos dos oito artistas na mostra é, para o curador, "a compreensão da incapacidade de representação do real, sobre o não saber, e, por isso, evitar tudo que seja óbvio".
Tal postura contradiz a própria idéia de documentário que, em geral, pretende abordar um tema de forma definitiva. Assim, para usar um conceito de moda, os artistas acabam por "desconstruir" a própria realidade, apresentando facetas nem sempre mais representativas do ponto de vista do registro, mas que por outras vias podem se aproximar dela de maneira menos pretensiosa e, por isso, mais direta.
A responsabilidade da montagem em São Paulo é da organização cultural Exo, que tem como um de seus projetos o São Paulo S. A., sediado no edifício Copan, com participação de David. "Trazemos parte do que esteve exposto em Roterdã. Pretendemos, com essa mostra, iniciar um trabalho de colaboração com artistas brasileiros que explorem as fronteiras do documentário", diz Ligia Nobre, da Exo. Essa colaboração, que tem o apoio do Consulado da França, terá início num debate, no Paço, dia 30, com mediação de Jean Claude Bernardet, consultor do projeto, e participação de David, Lucas Bambozi, Thiago Villas-Boas e Kiko Goifman.


A RESPEITO DE SITUAÇÕES REAIS.
Mostra sobre a produção de documentários por oito artistas plásticos estrangeiros. Curadoria: Catherine David e Jean Pierre Rehm. Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, SP, tel. 0/xx/11/ 3031-0682. Quando: abertura dia 29, às 19h30. De seg. a sex., das 13h às 20h; sáb. e dom., das 14h às 19h. Até 1º/6. Quanto: entrada franca



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