São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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Ladrões de sombras

Brasileiros se apropriam de imagens banalizadas para levar país à Bienal

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio ao caos urbano, há imagens tão banalizadas que, quando as vemos, nem sequer as percebemos. Pois é da apropriação desse eclético repertório, por meio de representações de um edifício moderno ou mesmo de uma gambiarra, que a dupla de artistas Angela Detanico e Rafael Lain criou uma tipologia denominada "Utopia", que irá representar o Brasil na 9ª Bienal de Arquitetura de Veneza, a ser aberta no dia 12 de setembro.
Em "Utopia", as letras maiúsculas são representadas por ícones de edificações de Oscar Niemeyer, versão mais aclamada do modernismo brasileiro, e as letras minúsculas são situações urbanas que escapam desse projeto utópico. Como exemplo, a dupla escreveu a palavra "Ilustrada", a partir da nova tipologia, misturando maiúsculas e minúsculas.
Lain e Angela, como a dupla é conhecida, são os únicos artistas plásticos selecionados por Jacopo Visconti e Pedro Cury, curadores do pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza, que contará ainda com seis arquitetos. "O tema da Bienal é metamorfose, e o trabalho dos dois se encaixa nessa questão, pois enfrentam a questão urbana a partir do conflito entre a utopia modernista e a realidade brasileira", afirma Visconti.
No pavilhão brasileiro, serão afixados cartazes com a tipologia completa e um site, em desenvolvimento pela Bienal de São Paulo, que permitirá baixar em qualquer computador essa nova fonte. "Esse é um trabalho que só existe quando os outros o utilizam, nós criamos apenas uma possibilidade", afirma Lain.
"Utopia" foi criada durante uma residência de oito meses, do final de 2002 a meados de 2003, no Palais de Tokyo, em Paris. Essa estadia representou uma inserção ascendente da dupla no cenário artístico internacional.
A mais recente intervenção de Lain, 30, e Angela, 29, em SP, ocorreu em janeiro passado, no caderno especial da Folha "31 Artistas + 1 Metrópole", selecionados por Lisette Lagnado, quando criaram a obra "Grifo Nosso". A próxima será na 26ª Bienal de São Paulo, em setembro, selecionados por Alfons Hug. Antes, no entanto, a dupla cumpre uma verdadeira maratona pela Europa, para onde embarcaram anteontem.
No próximo mês, eles são os curadores de uma mostra de arte e design, no centro cultural La Ferme du Buisson, no subúrbio de Paris, e iniciam ainda uma parceria com o coreógrafo japonês Takeshi Yasaki. Para o espetáculo, que será apresentado em 2005, a dupla irá criar uma intervenção gráfica e sonora.
Ainda antes da Bienal de São Paulo, mas já em setembro, a dupla concorre ao Prêmio Nan June Paik, organizado por uma fundação com sede na Alemanha presidida por Udo Kittelman. Eles disputam com outros sete artistas, entre eles o libanês Akram Zataari, que ganhou do festival Videobrasil, no ano passado, um prêmio de R$ 100 mil.
Em Dortmund, onde ocorre a exposição dos finalistas, a dupla de artistas apresenta "Flatland", uma projeção com 5.120 imagens realizadas a partir de oito fotografias feitas no rio Mekong, no Vietnã, durante um workshop do Palais de Tokyo. "É um verdadeiro tricô digital", brinca Angela.


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