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Ladrões de sombras
Brasileiros se apropriam de imagens banalizadas para levar país à Bienal
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio ao caos urbano, há
imagens tão banalizadas que,
quando as vemos, nem sequer as
percebemos. Pois é da apropriação desse eclético repertório, por
meio de representações de um
edifício moderno ou mesmo de
uma gambiarra, que a dupla de
artistas Angela Detanico e Rafael
Lain criou uma tipologia denominada "Utopia", que irá representar o Brasil na 9ª Bienal de Arquitetura de Veneza, a ser aberta no
dia 12 de setembro.
Em "Utopia", as letras maiúsculas são representadas por ícones
de edificações de Oscar Niemeyer,
versão mais aclamada do modernismo brasileiro, e as letras minúsculas são situações urbanas
que escapam desse projeto utópico. Como exemplo, a dupla escreveu a palavra "Ilustrada",
a partir da nova tipologia, misturando maiúsculas e minúsculas.
Lain e Angela, como a dupla é
conhecida, são os únicos artistas
plásticos selecionados por Jacopo
Visconti e Pedro Cury, curadores
do pavilhão brasileiro na Bienal
de Veneza, que contará ainda
com seis arquitetos. "O tema da
Bienal é metamorfose, e o trabalho dos dois se encaixa nessa
questão, pois enfrentam a questão
urbana a partir do conflito entre a
utopia modernista e a realidade
brasileira", afirma Visconti.
No pavilhão brasileiro, serão
afixados cartazes com a tipologia
completa e um site, em desenvolvimento pela Bienal de São Paulo,
que permitirá baixar em qualquer
computador essa nova fonte. "Esse é um trabalho que só existe
quando os outros o utilizam, nós
criamos apenas uma possibilidade", afirma Lain.
"Utopia" foi criada durante
uma residência de oito meses, do
final de 2002 a meados de 2003, no
Palais de Tokyo, em Paris. Essa estadia representou uma inserção
ascendente da dupla no cenário
artístico internacional.
A mais recente intervenção de
Lain, 30, e Angela, 29, em SP,
ocorreu em janeiro passado, no
caderno especial da Folha "31 Artistas + 1 Metrópole", selecionados por Lisette Lagnado, quando
criaram a obra "Grifo Nosso". A
próxima será na 26ª Bienal de São
Paulo, em setembro, selecionados
por Alfons Hug. Antes, no entanto, a dupla cumpre uma verdadeira maratona pela Europa, para
onde embarcaram anteontem.
No próximo mês, eles são os curadores de uma mostra de arte e
design, no centro cultural La Ferme du Buisson, no subúrbio de
Paris, e iniciam ainda uma parceria com o coreógrafo japonês Takeshi Yasaki. Para o espetáculo,
que será apresentado em 2005, a
dupla irá criar uma intervenção
gráfica e sonora.
Ainda antes da Bienal de São
Paulo, mas já em setembro, a dupla concorre ao Prêmio Nan June
Paik, organizado por uma fundação com sede na Alemanha presidida por Udo Kittelman. Eles disputam com outros sete artistas,
entre eles o libanês Akram Zataari, que ganhou do festival Videobrasil, no ano passado, um prêmio de R$ 100 mil.
Em Dortmund, onde ocorre a
exposição dos finalistas, a dupla
de artistas apresenta "Flatland",
uma projeção com 5.120 imagens
realizadas a partir de oito fotografias feitas no rio Mekong, no Vietnã, durante um workshop do Palais de Tokyo. "É um verdadeiro
tricô digital", brinca Angela.
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