São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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CRÍTICA/"CORPOINSTALAÇÃO"

Performances evidenciam corpo como meio expressivo

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Em cartaz até o dia 30, o evento "Corpoinstalação" põe em evidência o corpo como meio expressivo: ao mesmo tempo obra e espaço ritualístico. Várias instalações buscam outras formas de relação com o público. No final de semana passado, foram quatro performances, com destaque para Key Sawao e Leila D.
Sawao apresentou "Mudas". O trato com o espaço estava em jogo desde o princípio: com as portas do fundo do galpão abertas, viam-se os grandes tubos azuis da arquitetura de Lina Bo Bardi, enquanto o vento oscilava um fio pendurado alinhado com um foco de luz. Sawao deslizava, desenhando aquela geometria quadrada, que logo seria ocupada por diagonais e retas.
Um espaço de passagem e significações: desdobramentos do vivido, manifestando-se no corpo dobrado e redobrado. Os diferentes ritmos de Sawao se apóiam no silêncio tanto quanto nas interferências musicais. O corpo, ali, ao mesmo tempo é o que sente e o que dá sentido.
Já Leila D. fez seu ritual "Full Moon" numa oca de bambu revestida de papel de arroz. Os espectadores se deparavam com ela em posição fetal, sobre um monte de argila. Pouco a pouco alguns sons somavam-se ao cheiro para ocupar o ambiente, com imagens projetadas nas paredes: um útero visto no ultra-som, a própria artista grávida no espaço, seu corpo recebendo tinta vermelha e flores.
O esforço era para encontrar uma relação harmônica entre homem e natureza. O corpo, lugar do sensível por excelência, seria aquilo que tem a cor-natureza, ao mesmo tempo a possibilidade de ser o mundo e de articular a significação nesse mundo. Pena que todo o empenho de criar relações fortes com o mundo sensorial tenha sido quebrado por uma fotógrafa e seu flash.
Outros dois trabalhos ainda parecem em processo de maturação. "Pianística Uterotomia" se perde em metáforas, cantos desafinados e ruídos ensurdecedores. A própria saturação contemporânea que o grupo Pharmakon questiona está fortemente (voluntariamente?) em ação. "Tempo Kala", do grupo Tempokala, amplia os símbolos da relação temporal numa tenda entreaberta, com um monte de areia. Ampulheta, relógio, areia, máquinas: tecnologia e matéria orgânica, em contraponto com marcações que querem se soltar das amarras do tempo.
Na última quarta, o alemão Thomas Lehmen apresentou "Distanzlos" ("Indistanciado"). Com uma lista de ações a serem realizadas, que vão do simples caminhar em direção ao público até contar uma história que marcou sua vida, Lehmen ressaltou a comunicação direta com o público. Colocando microfones sobre uma mesa, ele ampliou o espaço sonoro para que se percebesse, entre outras coisas, a densidade dos movimentos e dos sons no espaço. Ver para ouvir, ver para sentir, ver para pensar, ver até para rir.


Corpoinstalação
   
Quando:
hoje, às 20h30 (Elisa Ohtake, Neto Machado e juntos Zélia Monteiro, Marcos Sobrinho e Wellington Duarte); amanhã, às 18h30 (Neto Machado, Roberto Ramos, Vera Sala); até 30/4; programação em www.sescsp.org.br
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Água Branca, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: de R$ 3 a R$ 10


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