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CRÍTICA/"CORPOINSTALAÇÃO"
Performances evidenciam corpo como meio expressivo
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Em cartaz até o dia 30, o evento
"Corpoinstalação" põe em
evidência o corpo como meio expressivo: ao mesmo tempo obra e
espaço ritualístico. Várias instalações buscam outras formas de relação com o público. No final de
semana passado, foram quatro
performances, com destaque para
Key Sawao e Leila D.
Sawao apresentou "Mudas". O
trato com o espaço estava em jogo
desde o princípio: com as portas
do fundo do galpão abertas, viam-se os grandes tubos azuis da arquitetura de Lina Bo Bardi, enquanto o vento oscilava um fio
pendurado alinhado com um foco de luz. Sawao deslizava, desenhando aquela geometria quadrada, que logo seria ocupada por
diagonais e retas.
Um espaço de passagem e significações: desdobramentos do vivido, manifestando-se no corpo dobrado e redobrado. Os diferentes
ritmos de Sawao se apóiam no silêncio tanto quanto nas interferências musicais. O corpo, ali, ao
mesmo tempo é o que sente e o
que dá sentido.
Já Leila D. fez seu ritual "Full
Moon" numa oca de bambu revestida de papel de arroz. Os espectadores se deparavam com ela
em posição fetal, sobre um monte
de argila. Pouco a pouco alguns
sons somavam-se ao cheiro para
ocupar o ambiente, com imagens
projetadas nas paredes: um útero
visto no ultra-som, a própria artista grávida no espaço, seu corpo
recebendo tinta vermelha e flores.
O esforço era para encontrar
uma relação harmônica entre homem e natureza. O corpo, lugar
do sensível por excelência, seria
aquilo que tem a cor-natureza, ao
mesmo tempo a possibilidade de
ser o mundo e de articular a significação nesse mundo. Pena que
todo o empenho de criar relações
fortes com o mundo sensorial tenha sido quebrado por uma fotógrafa e seu flash.
Outros dois trabalhos ainda parecem em processo de maturação.
"Pianística Uterotomia" se perde
em metáforas, cantos desafinados
e ruídos ensurdecedores. A própria saturação contemporânea
que o grupo Pharmakon questiona está fortemente (voluntariamente?) em ação. "Tempo Kala",
do grupo Tempokala, amplia os
símbolos da relação temporal numa tenda entreaberta, com um
monte de areia. Ampulheta, relógio, areia, máquinas: tecnologia e
matéria orgânica, em contraponto com marcações que querem se
soltar das amarras do tempo.
Na última quarta, o alemão
Thomas Lehmen apresentou
"Distanzlos" ("Indistanciado").
Com uma lista de ações a serem
realizadas, que vão do simples caminhar em direção ao público até
contar uma história que marcou
sua vida, Lehmen ressaltou a comunicação direta com o público.
Colocando microfones sobre uma
mesa, ele ampliou o espaço sonoro para que se percebesse, entre
outras coisas, a densidade dos
movimentos e dos sons no espaço. Ver para ouvir, ver para sentir,
ver para pensar, ver até para rir.
Corpoinstalação
Quando: hoje, às 20h30 (Elisa Ohtake,
Neto Machado e juntos Zélia Monteiro,
Marcos Sobrinho e Wellington Duarte);
amanhã, às 18h30 (Neto Machado,
Roberto Ramos, Vera Sala); até 30/4;
programação em www.sescsp.org.br
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Água
Branca, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: de R$ 3 a R$ 10
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