São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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LIVROS

HISTÓRIA

Obra analisa de forma inédita aspectos sociais no crescimento urbano

Novo estudo revê expansão de Salvador no século 19

ANTONIO RISÉRIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O século 19 parece mesmo ter sido eleito o favorito daqueles que tomam a Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos como objeto de suas pesquisas, reflexões e narrativas historiográficas. Mais precisamente, o período que vai da década de 1790 -quando se deu a conspiração "dos alfaiates", sedição de mulatos baianos que pretendia, de forma até então inédita na história brasileira, não só a libertação do domínio lusitano, como a abolição do sistema escravista- aos últimos dias do "ottocento".
A esse período remetem obras historiográficas fundamentais para o conhecimento da Bahia, a exemplo de "Bahia Século 19 -°Uma Província no Império", de Kátia Mattoso -originalmente, tese de "doutorado de Estado" defendida na Universidade de Paris 4, que gerou a criação, naquela universidade, da cátedra de história do Brasil, cabendo à própria Kátia sua primeira regência. Também para o século 19 apontam os escritos de Pierre Verger, de "Notícia da Bahia em 1850" a "Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos".
Diversos autores examinaram já a luta pela independência da Bahia, consumada no 2 de julho de 1823; a sabinada, revolta federalista baiana da primeira metade do século 19; as rebeliões escravas do período -em especial, os levantes malês; a grande epidemia de cólera de meados daquela centúria; e mesmo a vida dos "excluídos", como em "Mendigos, Moleques e Vadios na Bahia do Século 19", de autoria de Walter Fraga Filho. Enfim, de István Jancsó ("Na Bahia, contra o Império") a João Reis ("Rebelião Escrava no Brasil"), o "ottocento" baiano vem sendo vasculhado nas mais variadas direções.
O elenco de estudos sobre o período chegou a tal ponto que parecia extremamente difícil alguém ter algo de novo a dizer sobre a matéria. Para a nossa surpresa, a historiadora Consuelo Novais Sampaio conseguiu realizar a proeza, com o seu "50 Anos de Urbanização Salvador da Bahia no Século 19". Em livro "hard cover" (Prêmio Clarival do Prado Valladares, da Odebrecht), edição primorosa, rica em documentação visual, Sampaio conseguiu nos dar uma visão inédita do processo de expansão da Salvador oitocentista.
Sua novidade está em ter promovido a conjunção do que antes vinha sendo examinado por caminhos apartados. De uma parte, Sampaio apresenta uma novidade temática, em campo estritamente historiográfico: abre o seu olhar sobre o processo de expansão urbana da primeira capital do Brasil. Até então, o assunto era praticamente monopolizado por arquitetos e urbanistas. Estes, como era esperável, se concentravam na materialidade dos prédios. No movimento físico do crescimento a partir da mancha matriz da cidade, implantada sob orientação do arquiteto-urbanista Luiz Dias, na primeira metade do século 16.
Historiadora, Sampaio deu vida a esse processo. Povoou as ruas e arrabaldes que foram surgindo. Os bondes que começaram a circular. O Elevador Hidráulico da Conceição (atual Elevador Lacerda), obra pioneira de engenharia, em termos mundiais. Em suma, Sampaio colocou agentes sociais no que, tradicional e sistematicamente, era encarado apenas em sua fisicalidade. E é isto que dá, ao seu trabalho rigoroso, um caráter e um sabor singulares.


Antonio Risério é poeta e antropólogo. Publicou, entre outros, os livros "Ensaio sobre o Texto Poético em Contexto Digital" e "Uma História da Cidade da Bahia"

50 Anos de Urbanização - Salvador da Bahia no Século 19
   
Autora:
Consuelo Novais Sampaio
Editora: Versal
Quanto: R$ 150 (300 págs.)


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