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LIVROS
HISTÓRIA
Obra analisa de forma inédita aspectos sociais no crescimento urbano
Novo estudo revê expansão de Salvador no século 19
ANTONIO RISÉRIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O século 19 parece mesmo
ter sido eleito o favorito daqueles que tomam a Cidade do
Salvador da Bahia de Todos os
Santos como objeto de suas pesquisas, reflexões e narrativas historiográficas. Mais precisamente,
o período que vai da década de
1790 -quando se deu a conspiração "dos alfaiates", sedição de
mulatos baianos que pretendia,
de forma até então inédita na história brasileira, não só a libertação
do domínio lusitano, como a abolição do sistema escravista- aos
últimos dias do "ottocento".
A esse período remetem obras
historiográficas fundamentais para o conhecimento da Bahia, a
exemplo de "Bahia Século 19
-°Uma Província no Império", de
Kátia Mattoso -originalmente,
tese de "doutorado de Estado" defendida na Universidade de Paris
4, que gerou a criação, naquela
universidade, da cátedra de história do Brasil, cabendo à própria
Kátia sua primeira regência. Também para o século 19 apontam os
escritos de Pierre Verger, de "Notícia da Bahia em 1850" a "Fluxo e
Refluxo do Tráfico de Escravos
entre o Golfo do Benin e a Bahia
de Todos os Santos".
Diversos autores examinaram
já a luta pela independência da
Bahia, consumada no 2 de julho
de 1823; a sabinada, revolta federalista baiana da primeira metade
do século 19; as rebeliões escravas
do período -em especial, os levantes malês; a grande epidemia
de cólera de meados daquela centúria; e mesmo a vida dos "excluídos", como em "Mendigos, Moleques e Vadios na Bahia do Século
19", de autoria de Walter Fraga Filho. Enfim, de István Jancsó ("Na
Bahia, contra o Império") a João
Reis ("Rebelião Escrava no Brasil"), o "ottocento" baiano vem
sendo vasculhado nas mais variadas direções.
O elenco de estudos sobre o período chegou a tal ponto que parecia extremamente difícil alguém ter algo de novo a dizer sobre a matéria. Para a nossa surpresa, a historiadora Consuelo
Novais Sampaio conseguiu realizar a proeza, com o seu "50 Anos
de Urbanização Salvador da Bahia no Século 19". Em livro "hard
cover" (Prêmio Clarival do Prado
Valladares, da Odebrecht), edição
primorosa, rica em documentação visual, Sampaio conseguiu
nos dar uma visão inédita do processo de expansão da Salvador oitocentista.
Sua novidade está em ter promovido a conjunção do que antes
vinha sendo examinado por caminhos apartados. De uma parte,
Sampaio apresenta uma novidade temática, em campo estritamente historiográfico: abre o seu
olhar sobre o processo de expansão urbana da primeira capital do
Brasil. Até então, o assunto era
praticamente monopolizado por
arquitetos e urbanistas. Estes, como era esperável, se concentravam na materialidade dos prédios. No movimento físico do
crescimento a partir da mancha
matriz da cidade, implantada sob
orientação do arquiteto-urbanista Luiz Dias, na primeira metade
do século 16.
Historiadora, Sampaio deu vida
a esse processo. Povoou as ruas e
arrabaldes que foram surgindo.
Os bondes que começaram a circular. O Elevador Hidráulico da
Conceição (atual Elevador Lacerda), obra pioneira de engenharia,
em termos mundiais. Em suma,
Sampaio colocou agentes sociais
no que, tradicional e sistematicamente, era encarado apenas em
sua fisicalidade. E é isto que dá, ao
seu trabalho rigoroso, um caráter
e um sabor singulares.
Antonio Risério é poeta e antropólogo.
Publicou, entre outros, os livros "Ensaio
sobre o Texto Poético em Contexto Digital" e "Uma História da Cidade da Bahia"
50 Anos de Urbanização - Salvador da Bahia no Século 19
Autora: Consuelo Novais Sampaio
Editora: Versal
Quanto: R$ 150 (300 págs.)
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