São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2000


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"Dançarina" de Lars von Trier ganha Palma em Cannes

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Foi um dispensável toque de deselegância: o diretor dinamarquês Lars von Trier, 44, recebeu ontem a Palma de Ouro do 53º Festival de Cannes das mãos da atriz francesa Catherine Deneuve, uma das protagonistas do vitorioso "Dancer in the Dark" (Dançarina no Escuro). O gesto radicaliza a moda nacionalista lançada no Oscar (Sophia Loren premiando Benigni, Penélope Cruz e Antonio Banderas saudando Almodóvar).
Nada que surpreenda. No meio da semana passada, as projeções oficiais de "Dancer in Dark" foram as únicas a romper o protocolo, substituindo o tradicional filmete de abertura por uma trilha escolhida por Von Trier.
A consagração de "Dancer in the Dark", uma tragédia musical nos EUA dos anos 50, foi completada pelo prêmio de melhor atriz para a cantora pop islandesa Björk. O presidente do júri, Luc Besson, cantarolou "It's Oh So Quiet" para anunciar a escolha.
Após a premiação, Björk anunciou estar se despedindo do cinema. Justificou-se relacionando cantar com a alegria e interpretar com o sofrimento. A ruptura entre ela e Von Trier foi confirmada pelo cineasta em seu agradecimento, quando pediu a Deneuve: "Se você a encontrar, diga-lhe que a amo muito".
Em "Dancer", Björk usa óculos para interpretar Selma, uma imigrante tcheca, operária, que ensaia musicais nas horas vagas. Uma doença congênita a está tornando cega, e Selma tudo faz para economizar recursos para pagar a cirurgia que pode salvar seu filho do mesmo destino.
Björk já protagonizara com maior graça outra homenagem aos musicais no videoclipe para "It's Oh So Quiet", de Spike Jonze. A referência lá era mais Jacques Demy que Gene Kelly, mais "Os Guarda-Chuvas do Amor" que "Cantando na Chuva". Ei-la aqui contracenando com a Deneuve de "Guarda-Chuvas", e a musa francesa parece perdida num papel originalmente destinado a uma atriz afro-americana. O enredo é previsível, e os números musicais, constrangedores.
O sexto longa de Lars von Trier cindiu o festival. Foi aclamado pelo público e pela crítica francesa, mas não convenceu boa parte da crítica internacional.
A decisão do júri tem um forte sabor de compensação. Von Trier foi esnobado em competições anteriores, com "Europa" (91) e com o muito superior "Ondas do Destino" (96). Conquistou ontem sua Palma e promete vir atrás de outras. "Quero me equiparar a Billie August", disse.
O retumbante triunfo de "Dancer in the Dark" é também a mais marcante vitória do novo cinema digital. Assim como em "Os Idiotas", Von Trier trocou as câmeras tradicionais de cinema por câmeras de vídeo digital, chegando a usar cem delas em uma cena.
A força maior de Cannes esteve, porém, na produção asiática. A diversidade da produção chinesa foi reconhecida com tripla premiação oficial (veja no quadro ao lado). Os brasileiros na competição -o longa "Estorvo", de Ruy Guerra, e o curta "Três Minutos", de Ana Luiza Azevedo- não foram premiados.


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