|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Dançarina" de Lars von Trier ganha Palma em Cannes
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Foi um dispensável toque de deselegância: o diretor dinamarquês
Lars von Trier, 44, recebeu ontem
a Palma de Ouro do 53º Festival
de Cannes das mãos da atriz francesa Catherine Deneuve, uma das
protagonistas do vitorioso "Dancer in the Dark" (Dançarina no
Escuro). O gesto radicaliza a moda nacionalista lançada no Oscar
(Sophia Loren premiando Benigni, Penélope Cruz e Antonio Banderas saudando Almodóvar).
Nada que surpreenda. No meio
da semana passada, as projeções
oficiais de "Dancer in Dark" foram as únicas a romper o protocolo, substituindo o tradicional
filmete de abertura por uma trilha
escolhida por Von Trier.
A consagração de "Dancer in
the Dark", uma tragédia musical
nos EUA dos anos 50, foi completada pelo prêmio de melhor atriz
para a cantora pop islandesa
Björk. O presidente do júri, Luc
Besson, cantarolou "It's Oh So
Quiet" para anunciar a escolha.
Após a premiação, Björk anunciou estar se despedindo do cinema. Justificou-se relacionando
cantar com a alegria e interpretar
com o sofrimento. A ruptura entre ela e Von Trier foi confirmada
pelo cineasta em seu agradecimento, quando pediu a Deneuve:
"Se você a encontrar, diga-lhe
que a amo muito".
Em "Dancer", Björk usa óculos
para interpretar Selma, uma imigrante tcheca, operária, que ensaia musicais nas horas vagas.
Uma doença congênita a está tornando cega, e Selma tudo faz para economizar recursos para pagar a cirurgia que pode salvar seu
filho do mesmo destino.
Björk já protagonizara com
maior graça outra homenagem
aos musicais no videoclipe para
"It's Oh So Quiet", de Spike Jonze. A referência lá era mais Jacques Demy que Gene Kelly, mais
"Os Guarda-Chuvas do Amor"
que "Cantando na Chuva". Ei-la
aqui contracenando com a Deneuve de "Guarda-Chuvas", e a
musa francesa parece perdida
num papel originalmente destinado a uma atriz afro-americana.
O enredo é previsível, e os números musicais, constrangedores.
O sexto longa de Lars von Trier
cindiu o festival. Foi aclamado
pelo público e pela crítica francesa, mas não convenceu boa parte
da crítica internacional.
A decisão do júri tem um forte
sabor de compensação. Von
Trier foi esnobado em competições anteriores, com "Europa"
(91) e com o muito superior "Ondas do Destino" (96). Conquistou ontem sua Palma e promete
vir atrás de outras. "Quero me
equiparar a Billie August", disse.
O retumbante triunfo de "Dancer in the Dark" é também a mais
marcante vitória do novo cinema
digital. Assim como em "Os Idiotas", Von Trier trocou as câmeras
tradicionais de cinema por câmeras de vídeo digital, chegando a
usar cem delas em uma cena.
A força maior de Cannes esteve, porém, na produção asiática.
A diversidade da produção chinesa foi reconhecida com tripla
premiação oficial (veja no quadro ao lado). Os brasileiros na
competição -o longa "Estorvo",
de Ruy Guerra, e o curta "Três
Minutos", de Ana Luiza Azevedo- não foram premiados.
Texto Anterior: Cannes: Menção especial faz justiça ao filme "Eu Tu Eles" Próximo Texto: Panorâmica Índice
|