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Afeto e concreto
Bob Wolfenson lança caixa de fotografia
e prepara abertura de exposição na Faap, em que mescla espaços público e íntimo
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Dotar de intimidade a aspereza
do espaço público e tornar pública a delicadeza da paisagem íntima é o que move o fotógrafo paulistano Bob Wolfenson em "Antifachada" e "Encadernação Dourada", dois ensaios reunidos num
só volume pela editora Cosac &
Naify, a ser lançado com exposição no Museu de Arte Brasileira,
em São Paulo, no próximo dia 3.
Conhecido pelo rigor técnico
que norteia seus retratos e editoriais de moda, Wolfenson, 49, surpreende ao fotografar detalhes de
prédios de São Paulo em "Antifachada" e, mais ainda, ao reunir e
expor fotos despretensiosas, amadoras até, de familiares e amigos,
em "Encadernação Dourada".
"Cansei de ser refém da imagem
que fazem de mim", diz o agora
nada comportado fotógrafo de
celebridades.
Um bar e um divã impulsionaram o fotógrafo nessa rebelião interna. Após uma tarde com amigos no tradicional Bar do Léo, na
decadente rua Aurora, em São
Paulo, Wolfenson saiu caminhando pela paisagem em ruínas do
centro. Deu-se a sedução. Ao comentar tal experiência com sua
analista, ouviu o termo antifachada. A sedução virou conceito.
Para materializar o conceito,
Wolfenson muniu-se de uma câmera que utiliza filme no formato
20 cm x 25 cm e gera imagens com
grande definição. Durante nove
meses subiu em prédios, barganhou com zeladores, cancelou
viagens. Nasceu, enfim, a "Antifachada". Ampliadas no formato de
pôster, com um metro de comprimento, as imagens impactam tanto pela qualidade quanto pela
perspicácia do fotógrafo.
Ao utilizar a alta definição, o artista conseguiu capturar, para
além do monolito da paisagem e
do grafismo da arquitetura, detalhes do interior dos apartamentos
e a textura das marcas do tempo
depositadas nas paredes. Imagens
que remetem à tradição da fotografia paisagística acrescida dessa
curiosidade voyeur que a torna
orgânica e humanizada.
O que em princípio parece ser
mais uma imagem clichê de favelas verticais revela, ao olhar atento, belezas segredadas, como a
moça que toma sol na janela, o
improvisado varal de roupas coloridas e a cortina puída sustentada por pregadores.
"Encadernação Dourada" segue
no sentido inverso de "Antifachada". Parte da mais absoluta intimidade do fotógrafo para compartilhar em público emoções
privadas, como a fotografia tão
linda quanto kitsch de sua filha
após uma apresentação de balé ou
a imagem de sua própria mulher,
nua, na cama do casal. É um álbum de família sem cronologia,
sem temas. "Há anos eu queria fazer um livro sem a preocupação
de contar uma história. É uma autobiografia de circunstâncias",
conta o artista, definitivamente libertado do cativeiro e, agora, refém apenas de sua intuição.
ENCADERNAÇÃO DOURADA E
ANTIFACHADA. Autor: Bob Wolfenson.
Editora: Cosac & Naify. Quanto: R$ 98.
Quando: lançamento do livro e abertura
da exposição dia 3, às 20h, no Museu de
Arte Brasileira da Faap (r. Alagoas, 903,
SP, tel. 0/xx/11/3662-7198).
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