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LIVROS/LANÇAMENTOS
Exemplar organizado por Italo Calvino e volume de Isaac Bashevis Singer "lideram" as novidades
Coleções retiram os contos dos cantos
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Gênero meio deixado de lado
por grande parte das editoras nacionais, o conto está prestes a ganhar um senhor canto. Chegam
às livrarias na quarta-feira os primeiros exemplares de uma série
que promete deixar um marco no
histórico editorial brasileiro das
narrativas breves.
Sem nome de batismo, a coleção de contos da editora Companhia das Letras estréia com duas
obras de fôlego. "Contos Fantásticos do Século 19: O Fantástico Visionário e o Fantástico Cotidiano", organizado por Italo Calvino, e "47 Contos", de Isaac Bashevis Singer, escoltam a série.
Ainda para este ano, já estão escalados, entre outros acepipes, o
volume "24 Contos", de Scott
Fitzgerald, traduzidos por Ruy
Castro, "71 Contos", de Primo Levi, "Todos os Contos", de Tennessee Williams, e "125 Contos", de
Maupassant.
Além desses, devem entrar na
ciranda coletâneas ou "contos
completos" de autores brasileiros
como Rubem Fonseca, Sérgio
Sant'Anna e Moacyr Scliar.
Os três, por sinal, já foram brindados pela iniciativa mais ambiciosa até então da Companhia das
Letras na área da narrativa breve.
Cada um deles -e também João
Gilberto Noll, hoje na editora
Francis- teve um catatau de
contos publicado pela editora, em
meados dos anos 90.
A série nova parte para o extremo oposto. Se a anterior foi editada com capa dura, papel especial e
preços de prateleiras acima dos
praticados no mercado, a nova série foi gerida em regime de contenção de despesas.
"Chegamos à conclusão de que
para viabilizarmos uma coleção
de contos teríamos de oferecer
preços acessíveis", diz Luiz
Schwarcz, editor da Companhia e
idealizador da empreitada.
A primeira providência foi um
ato "van goghiano": cortaram-se
as orelhas dos livros. O papel também passou por um regime
-usando uma gramatura mais
baixa, os custos são menores.
A terceira e talvez mais importante medida nessa "reengenharia" foi a negociação dos direitos
autorais com valores mais baixos.
Nos Estados Unidos, onde cada livro é normalmente lançado primeiro em capa dura e depois em
brochura, é corrente a negociação
diferenciada de "royalties" para
cada caso.
Os livros "hardcover" são negociados com margens proporcionais às do mercado brasileiro, cabendo ao autor cerca de 10% do
valor de capa. Já os de "capa mole", os "paperback", rendem cerca
de 6% do preço final do livro ao
escritor. Foi em torno dessa faixa
que a Companhia das Letras negociou a compra de direitos, abaixo dos 10% que se paga em média
também no Brasil.
Com todos os malabarismos, a
coleção terá volumes custando
cerca de R$ 36 (para livros com
média de 500 páginas). "A editora
está perdendo significativamente
nas primeiras edições para ganhar a idéia de uma coleção forte
de contos", diz Schwarcz.
Não será a primeira investida da
editora no barateamento do preço final. A Companhia lançou recentemente versões mais econômicas (sem orelhas etc.) de obras
como "Cidade de Deus", de Paulo
Lins, "Nove Noites", de Bernardo
Carvalho, e "Estorvo", de Chico
Buarque.
No início do Plano Real, a editora também tentou lançar uma linha de pockets, mas parou no primeiro deles, "Agosto", de Rubem
Fonseca.
"Naquela época os livreiros brigavam por preços mais altos. Hoje já se deram conta de que vale a
pena ganhar no volume de vendas", afirma.
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