São Paulo, sábado, 22 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS/LANÇAMENTOS

Exemplar organizado por Italo Calvino e volume de Isaac Bashevis Singer "lideram" as novidades

Coleções retiram os contos dos cantos

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Gênero meio deixado de lado por grande parte das editoras nacionais, o conto está prestes a ganhar um senhor canto. Chegam às livrarias na quarta-feira os primeiros exemplares de uma série que promete deixar um marco no histórico editorial brasileiro das narrativas breves.
Sem nome de batismo, a coleção de contos da editora Companhia das Letras estréia com duas obras de fôlego. "Contos Fantásticos do Século 19: O Fantástico Visionário e o Fantástico Cotidiano", organizado por Italo Calvino, e "47 Contos", de Isaac Bashevis Singer, escoltam a série.
Ainda para este ano, já estão escalados, entre outros acepipes, o volume "24 Contos", de Scott Fitzgerald, traduzidos por Ruy Castro, "71 Contos", de Primo Levi, "Todos os Contos", de Tennessee Williams, e "125 Contos", de Maupassant.
Além desses, devem entrar na ciranda coletâneas ou "contos completos" de autores brasileiros como Rubem Fonseca, Sérgio Sant'Anna e Moacyr Scliar.
Os três, por sinal, já foram brindados pela iniciativa mais ambiciosa até então da Companhia das Letras na área da narrativa breve. Cada um deles -e também João Gilberto Noll, hoje na editora Francis- teve um catatau de contos publicado pela editora, em meados dos anos 90.
A série nova parte para o extremo oposto. Se a anterior foi editada com capa dura, papel especial e preços de prateleiras acima dos praticados no mercado, a nova série foi gerida em regime de contenção de despesas.
"Chegamos à conclusão de que para viabilizarmos uma coleção de contos teríamos de oferecer preços acessíveis", diz Luiz Schwarcz, editor da Companhia e idealizador da empreitada.
A primeira providência foi um ato "van goghiano": cortaram-se as orelhas dos livros. O papel também passou por um regime -usando uma gramatura mais baixa, os custos são menores.
A terceira e talvez mais importante medida nessa "reengenharia" foi a negociação dos direitos autorais com valores mais baixos. Nos Estados Unidos, onde cada livro é normalmente lançado primeiro em capa dura e depois em brochura, é corrente a negociação diferenciada de "royalties" para cada caso.
Os livros "hardcover" são negociados com margens proporcionais às do mercado brasileiro, cabendo ao autor cerca de 10% do valor de capa. Já os de "capa mole", os "paperback", rendem cerca de 6% do preço final do livro ao escritor. Foi em torno dessa faixa que a Companhia das Letras negociou a compra de direitos, abaixo dos 10% que se paga em média também no Brasil.
Com todos os malabarismos, a coleção terá volumes custando cerca de R$ 36 (para livros com média de 500 páginas). "A editora está perdendo significativamente nas primeiras edições para ganhar a idéia de uma coleção forte de contos", diz Schwarcz.
Não será a primeira investida da editora no barateamento do preço final. A Companhia lançou recentemente versões mais econômicas (sem orelhas etc.) de obras como "Cidade de Deus", de Paulo Lins, "Nove Noites", de Bernardo Carvalho, e "Estorvo", de Chico Buarque.
No início do Plano Real, a editora também tentou lançar uma linha de pockets, mas parou no primeiro deles, "Agosto", de Rubem Fonseca.
"Naquela época os livreiros brigavam por preços mais altos. Hoje já se deram conta de que vale a pena ganhar no volume de vendas", afirma.


Texto Anterior: Geoffrey Rush personifica Peter Sellers
Próximo Texto: Crítica: Coletânea encanta com histórias além da imaginação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.