São Paulo, sábado, 22 de maio de 2004

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ENTRELINHAS

O olho da "Caras"

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro paga menos do que uma revista "Caras" por cada livro adquirido para distribuição nas escolas. O preço médio das compras governamentais é de R$ 4, a quilômetros de distância do preço médio dos didáticos vendidos no mercado: R$ 16,94.
Os cálculos são de um veterano do ramo didático, o editor José Bantim Duarte. Ex-diretor da Ática, da Ediouro e da Macmillan, hoje sócio da editora Disal, de livros para ensino de idiomas, ele defende que vender para o mercado é "mau negócio", "um mau negócio do qual as editoras não podem sair".
As compras efetivadas pela Viúva (como diz o colega Gaspari) são, de fato, 69% do bolo dos didáticos. E, por mais que 95% do espaço dedicado aos livros na mídia trate das obras chamadas "trade", os romances, ensaios etc., são os didáticos (e o governo) que mandam no jogo. Segundo o Diagnóstico do Mercado Editorial, feito pela CBL e pelo Snel, em 2003 os didáticos ocuparam 63% da produção e 54% do faturamento.

É NÓIS
Nesta semana o programa governamental Fome de Livro teve uma adesão importante. O Movimento Hip Hop Organizado do Brasil anunciou a criação do projeto Fome de Livro na Quebrada, que inclui a abertura de bibliotecas nas periferias de 25 grandes cidades brasileiras. Escritores como Paulo Lins e Ferréz estão ligados no movimento.

THE FLASH
Um "miniconto" feito para a Folha por demoiselle Lygia Fagundes Telles é a grande atração da segunda edição de "Os Menores Contos Brasileiros do Século", que será lançada hoje na livraria Realejo, em Santos (SP). O livro organizado por Marcelino Freire com histórias de até 50 letras feitas por cem escritores levou expeditos 30 dias para esgotar a primeira tiragem. Como "minibônus" da segunda impressão entram, além do texto de Lygia, minihistórias de dois "reinaldos", o poeta Reynaldo Damazio e o prosador Reinaldo Moraes.

DEU NO "NYT"
O "Brazil" voltou nesta semana com destaque às páginas do "New York Times". E não foi para falar de biritas. O jornal americano publicou ampla (e favorável) resenha do romance "Morte no Brasil", do americano Peter Robb. Segundo o resenhista, a obra lida com a história do Brasil, suas paisagens, sociedade, cultura, comida e, atenção, "os alaridos barrocos de sua vida política".

COMPANHIA LIMITADA
A crítica mais comum dos meios literários-editoriais brasileiros com relação à Flip, festival literário de Paraty, era de um "monopólio" de escritores da Companhia das Letras na programação do evento. Desta vez, a organização do festival escalou autores de muito mais "times": os 38 escritores vêm de 16 editoras diferentes.

ABRACADABRA
A loja virtual Submarino andou pulverizando para uma lista de mais de cem livreiros e editores uma mensagem oferecendo o mais recente "Harry Potter" por mágicos R$ 19,90. Detalhe: as livrarias compraram o livro por R$ 38 e estavam revendendo por preços variáveis, entre R$ 45 e R$ 55. O presidente da Submarino, Flávio Jansen, diz que a ação é comum e era inicialmente para bons clientes, não para livreiros. Negou que isso reflita "encalhe" do livro.

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

Alfred Jarry foi um sujeito bem mais estranho do que seu estranhíssimo personagem Ubu, que criou aos 15 anos no interior da França. Andava sempre com um guarda-chuva verde, com a cara pintada de branco, usava o "nós" o tempo todo para se referir a si mesmo e morava em uma casa em que cada quarto era dividido ao meio (para duplicar os cômodos). Teve uma herança polpuda, torrou tudo em absinto. Desenvolveu a patafísica, a "ciência de soluções imaginárias", que seria abraçada por Boris Vian e George Perec. Publicou contos, ensaios, romances, poemas, peças. Morreu afogado em álcool aos 34. A França atualmente reedita mais uma de centenas de edições especiais da obra completa. Aqui no Brasil, hoje, necas de pitibiribas.


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