Luciana Cavalcanti/Folha Imagem

O padre Eugênio Mezzomo passou boa parte da tarde da quarta, 18, no novo salão de Marco Antonio de Biaggi, um dos cabeleireiros mais badalados de SP. Não, o padre não foi cortar ou tingir os cabelos. Ele foi benzer o lugar, que abriria com festa pouco depois. Um cheiro de removedor misturado com salgadinho tomava o salão enquanto o padre fazia a sua reza.
 
A inauguração abriu a temporada de lançamentos de novos megassalões paulistanos. Além de Marco Antônio (Adriane Galisteu, Juliana Paes, Maria Fernanda Cândido, Daniella Cicarelli, Deborah Secco), vão abrir novos espaços, até julho, os cabeleireiros Mauro Freire (Carolina Ferraz, Ruth Cardoso, Malu Mader, Patrícia Pillar, Xuxa), Wanderley Nunes (Gisele Bündchen, Marisa Letícia, Gal) e Nilton Tamba, que vai ter salão na nova Daslu.
 
A disputa pela clientela promete ser feroz. Mauro Freire, por exemplo, instalará até sex shop em seu espaço, nos Jardins, com lingeries e vibradores, ao lado de uma livraria para as mais intelectuais. O salão terá três andares e um minishopping com produtos de decoração e roupas de Adriana Barra. "Detesto quando uma cliente é obrigada a ouvir a conversa de celular da outra. Por isso, haverá distância de 4 m entre as cadeiras", diz. Em cada uma poderá ser acoplado um lavatório. Assim, a cliente não precisará se locomover até uma pia para lavar os cabelos. O terceiro andar será uma área de relaxamento com gerânios, resedás, erva-doce e pitangueiras. As clientes poderão fazer as unhas numa chaise-longue.
 
E Mauro teme a concorrência dos novos megassalões? "Eles são magazine, amor. Eu sou butique. Não tenho cliente perua. Atendo mulher que trabalha, sabe?". E tem mais: "Não acho que um artista consiga fazer 50 obras de arte. Só se for pastel. Muita gente reclama comigo que meus concorrentes fazem o corte enquanto atendem o celular, tiram foto..."
 
Biaggi não esconde o prazer que tem de aparecer na mídia. "Hoje sou uma espécie de Sig Bergamin", define. "Quem vê um projeto do Sig sabe que foi ele quem fez." Seu novo salão tem polaroids dele ao lado de atrizes que já penteou. "É um diferencial. Muitas mulheres vêm aqui para saber que cabelo as famosas estão usando", explica.
 
Biaggi investiu R$ 3 milhões no novo salão -R$ 400 mil só em cadeiras de cabeleireiro italianas e poltronas e sofás Philippe Starck. A decoração é quase toda branca, "para ressaltar a tintura do cabelo da cliente", diz. Haverá um espaço só para a categoria das loiras. No segundo andar, o das noivas, foi instalado um ofurô; no terceiro, uma clínica de massagem de Luiza Sato; nas salas de depilação, chuveiros. "Às vezes a mulher quer sair pronta para uma festa. Vai poder tomar um banho, se quiser", explica Biaggi.
 
Wanderley Nunes, que vai abrir o novo "Studio W" na cobertura do shopping Iguatemi, já foi o dono de uma das línguas mais afiadas da cidade. Hoje está empenhado em manter uma linha de boa vizinhança com os concorrentes. "O Wanderley me ligou e disse para eu falar bem dele para vocês. Ele disse que tinha falado bem de mim", entregou Mauro Freire à coluna.
 
"O rei das tesouras em SP é o Marco Antonio [de Biaggi]. Eu sou um duque", declara Wanderley. Para logo melhorar a classificação: "Príncipe, vai". A modéstia pára por aí. "Meus concorrentes podem ficar com a fama. Prefiro ficar com os clientes." É aí que começam as controvérsias. Daniella Cicarelli, por exemplo. É cliente de Biaggi ou de Wanderley? "A cor de cabelo ela só faz comigo", diz Wanderley. "Imagina! É só olhar os sites de celebridade", retruca Biaggi. Um corte de Wanderley custa R$ 250. Biaggi e Mauro Freire cobram R$ 300.
 
O novo "Studio W" terá 1.600 m2.A pâtisserie Payard vai instalar lá uma filial. As clientes vão poder massagear os pés em bacias com bolinhas de gude japonesas enquanto esperam. Uma sandália Melissa personalizada será confeccionada de brinde, com seus nomes gravados.
 
Tanto Mauro quanto Wanderley e Biaggi foram convidados para assumir o salão da nova Daslu. "Nem fui lá olhar", diz Mauro. "Não tem nada a ver comigo aquele monte de loira", explica.
 
O salão será assumido pelo cabeleireiro Nilton Tamba, que trabalhou por dez anos no "Studio W". "Faço mais do que cortar cabelos. Faço alta-costura, com cortes que são atuais em qualquer lugar do mundo", diz ele. Tamba está selecionando funcionários para o salão. Serão sete cabeleireiros, e para as vagas já existem 50 candidatos. Tamba calcula que o salário de um cabeleireiro por lá, com as comissões, pode chegar a R$ 20 mil mensais.


Texto Anterior: Do lixo ao luxo: Visto pela elite, "Pânico" triplica receitas
Próximo Texto: Cinema: Queda na bilheteria abre crise no mercado
Índice