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CINEMA
Estudo aponta diminuição no número de espectadores em relação a 2004; executivos culpam ausência de "filme-evento"
Queda na bilheteria abre crise no mercado
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Quando foi a última vez que você foi ao cinema? Saiba que os exibidores brasileiros estão sentindo
sua falta. Somente em abril, houve
uma queda de 32% na bilheteria
em relação ao mesmo mês do ano
passado, oscilação negativa que
vem tirando o sono do setor. Como resultado, a abertura de novas
salas deve ficar comprometida
para os próximos anos.
Abril foi atípico: em 2004, foram
vendidos 10,2 milhões de ingressos, contra 6,95 milhões neste
ano. É o pior resultado do mesmo
mês desde 2003 -quando foram
vendidos cerca de 7,7 milhões de
ingressos.
Levantamento divulgado na semana passada pela Filme B, empresa que estuda estatísticas do cinema, mostra que a bilheteria dos
primeiros quatro meses de 2005
-29.695.316 espectadores- foi
menor que a de 2004, quando foram vendidos 37,6 milhões de ingressos, uma queda de 21%.
A ausência de um "filme-evento", aquele com planejamento
massivo de marketing e mídia, é
apontada como culpada pela redução. Os exibidores tentam justificar a retração do mercado
apoiados na falta de grandes produções, tanto internacionais
quanto nacionais. "É sazonal, temos de esperar a chegada de
grandes filmes ainda neste ano",
diz Adhemar de Oliveira, 49, do
Unibanco Arteplex. "Juntam
também elementos econômicos.
No mesmo período, tivemos índices que levam a uma possibilidade de crise, como um grande número de cheques devolvidos."
Investimentos
Exceção no mercado, o empresário acaba de inaugurar seis novas salas no Rio de Janeiro. "O
Brasil tem um número de salas
que não satisfaz a demanda de um
mercado mínimo. No Rio, nós devemos trabalhar mais com o circuito independente do que com o
comercial", afirma.
O diferencial na prestação de
serviços, por sua vez, é uma das
estratégias do grupo Estação
-cuja penetração maior está no
Rio, com salas também em São
Paulo e Belo Horizonte- para
atrair espectadores. De acordo
com Marcelo Mendes, 40, diretor
de programação do grupo, a opção por não exibir os chamados
"blockbusters" é uma das maneiras de ganhar fidelidade do público. "Não tivemos uma queda tão
grande quanto outros exibidores.
Nosso público é menos volátil."
O grupo Estação, segundo Mendes, pretende inaugurar em 2006
nove salas no Rio. "Não vejo motivo macroeconômico para a queda. Muitas atividades estão crescendo em relação ao ano anterior.
É preciso ter paciência porque
nossa atividade é suscetível ao que
está acontecendo. Espero uma recuperação nos últimos quatro
meses do ano", diz Carlos Marin,
40, diretor executivo da rede UCI.
Segundo ele, a bilheteria de 2003
obteve êxito mesmo quando havia incerteza sobre o futuro financeiro do país. A UCI não previu
novos investimentos para este
ano, apenas reformas nas salas e
modernização dos sistemas de
exibição e compra de ingressos.
"O ano está sendo muito mais
difícil do que pensávamos. A situação ficou muito complicada e
deve afetar o planejamento para
os próximos anos, mas ainda é cedo para falar sobre isso", diz Valmir Fernandes, 44, presidente da
rede Cinemark. A empresa começa a economizar energia elétrica e
evita contratar novos funcionários, mas garante que não pretende demitir. Apesar da crise, inaugurará até o final do ano novas salas em São Paulo, não descartando a hipótese de reversão dos planos caso a crise prossiga.
Para Fernandes, é impossível
abaixar o preço dos ingressos ou
tentar driblar a crise. "Se o produto não tem apelo, não conseguimos fazer nada. Se reduzirmos o
preço, não pagamos as contas."
A projeção negativa foi responsável pelo adiamento de alguns
planos na rede Severiano Ribeiro,
que pretendia expandir sua rede
pelo país. "Até o final do ano vamos sofrer. Vamos cortar custos e
despesas. Abriremos um único
empreendimento neste ano, em
Osasco (SP). O restante foi cancelado ou adiado", diz o empresário
Luís Severiano Ribeiro, 54.
"Não me lembro de uma crise
assim nos últimos cinco anos. Temos que levar em consideração
que a queda é maior que a apresentada, pois abriram cerca de 150
novas salas no país do ano passado para cá", analisa.
Recentemente, o mercado não
somente ganhou novas salas mas
também optou pela modernização de espaços já existentes, na
tentativa de oferecer mais conforto ao público. Segundo o MinC
(Ministério da Cultura), eram
1.997 salas em 2004.
Esperança
Como não têm grandes títulos
previstos para estrear neste ano,
os exibidores apostam no surgimento de algum azarão, como foi
"A Paixão de Cristo" (2004) -6,8
milhões de espectadores.
A única expectativa está sobre o
novo episódio de "Star Wars". O
filme, que entrou em exibição em
521 salas do país, é um dos maiores investimentos do ano. Como
nos EUA, tem mídia e marketing
expressivos que devem monopolizar as atenções do público.
Rodrigo Saturnino, 51, diretor
da Columbia Pictures, explica que
a queda na receita do cinema é
uma tendência mundial. O executivo projetou um crescimento de
cerca de 5% para o ano, mas viu a
tendência cair. "Acho que é falta
de filme. Não há nenhum problema estrutural com a mídia cinema. O público tende a ficar um
pouco mais seletivo, mas não
quando era no período em que tínhamos uma inflação muito alta.
Não acho que a ascensão do DVD
nem uma suposta crise econômica sejam culpadas pela situação."
Em 2003, os exibidores obtiveram êxito graças a uma produção
nacional: "Carandiru" levou 4,6
milhões aos cinemas. No ano passado, "Olga" e "Cazuza - O Tempo Não Pára" também garantiram boa renda, com média de 6
milhões de espectadores, juntos.
Diante disso, a cinematografia nacional também reclama.
Filmes como "O Casamento de
Romeu e Julieta" e "Mais uma
Vez Amor", grandes apostas de
2005, não produziram números
esperados. O primeiro, tido como
exemplo da crise, deve chegar à
marca de 1 milhão de espectadores até o final do mês. "Nenhum
filme brasileiro fez o que se esperava", defende Saturnino.
É por isso que cineastas brasileiros também se mostram insatisfeitos com os resultados da bilheteria. O cinema nacional retraiu
29% nas 17 semanas de 2005. O
MinC aumentou o número de
editais de captação de dinheiro
para a realização de projetos nacionais e também verbas distribuídas em prêmios.
Segundo Manoel Rangel, 33, assessor especial do MinC e secretário-substituto do Audiovisual, o
momento da safra nacional se
equipara ao mercado internacional. "Eles não conseguiram puxar
a bilheteria das salas, mas tiveram
bons desempenhos e nosso mercado cresceu. A lógica dos incentivos fiscais aponta para uma certa pulverização, mas a média de
captação está além ou igual a de
outros anos. Chegará um momento em que precisaremos mudar o modelo de captação no país.
É preciso aproximar mais o processo de produção com o de distribuição", afirma.
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