São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DVDTECA FOLHA

Produção reúne forte elenco, encabeçado por Nicole Kidman

"As Horas" entrelaça dramas de mulheres em 3 tempos

DA REDAÇÃO

"As Horas" não só reuniu nove indicações para o Oscar em 2003 como também três atrizes do primeiro escalão de Hollywood. A começar por Nicole Kidman, que ganhou a estatueta de melhor atriz, seguida por Julianne Moore e Meryl Streep. A trinca ainda recebeu o Urso de Prata em Berlim.
Na história, o romance "Mrs. Dalloway", de Virginia Woolf, liga essas mulheres em três momentos distintos. Nos anos 20, há a própria escritora (Kidman), mulher atormentada porque vê o mundo de um jeito distinto dos demais, inclusive do seu marido. Após crise de esquizofrenia, ela escreve o livro, que, aliás, assim como o longa, também tem mais de uma narrativa entrelaçada. Stephen Daldry ("Billy Elliot") adaptou outro livro, o homônimo "As Horas", de Michael Cunningham, mantendo-o o mais fiel possível ao original.
O resultado obtido pelo roteiro de David Hare (o mesmo roteirista de "Perdas e Danos") deu a devida sobreposição de vozes e situações, tal qual os dois livros. O próprio escritor, que fez algumas ressalvas, disse, na época, ter adorado o longa.
Outra mulher da história é Julianne Moore, que faz Laura Brown, nos anos 50, uma dona-de-casa frustrada e infeliz com o casamento. Solitária e um tanto desprezada pelo marido, sua válvula de escape está em cuidar de seu amado filho e ler o tal romance de Woolf, que aliás dará outro rumo à sua vida.
Na Nova York, de 2001, está Clarissa Vaughan (Meryl Streep), bem-sucedida no trabalho, mas agora solteira, e que resolve homenagear o seu amigo, ex-amante e poeta Richard Brown, que está morrendo de Aids. Há, também, uma conexão dela com a história de "Mrs. Dalloway".
Com trilha do minimalista Philip Glass, "As Horas" se desenrola alternando os tempos, fazendo o espectador mergulhar no drama dessas três mulheres. Por isso o diretor recorreu à uma rigorosa direção de atores para estruturar um filme cuja câmera fica junto às personagens.
Caso notório foi o de Nicole Kidman, que se sentia insegura para aceitar o papel. O cineasta britânico bateu o pé. Ele explicou à Folha que "Virginia é um ícone, e há certas regras para interpretar uma pessoa assim na Inglaterra: chamar a mais respeitável das atrizes e, ainda, que se pareça fisicamente com a personagem".
Na verdade, Kidman pouco parecia com Woolf, mas uma prótese no nariz deu a devida segurança a ela. Na época, ela temia interpretar a escritora muito pelo respeito que tinha à sua genialidade. O motivo foi, também, sua dolorosa separação de Tom Cruise, que ocorria na mesma época e a fragilizou muito.
Uma das artimanhas de Daldry para convencer a atriz foi dar alguns livros de Woolf a ela. Combinando com o momento por que ela passava, entrou nos livros e se sentiu mais próxima da genial escritora. Um caminho próximo do que "As Horas" pretendia alcançar, que é tocar nas questões humanas daquelas mulheres.


Texto Anterior: Livros: Projeto tenta estimular hábito da leitura
Próximo Texto: "A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo": Filme tenta catequizar com lugar-comum
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.