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"A PAIXÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO"
Filme tenta catequizar com lugar-comum
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Corria a Primeira Grande
Guerra quando "Christus"
estreou no teatro Augusto de Roma. A rainha Elena em pessoa
compareceu à sessão naquele 8 de
novembro de 1916. Restaurado
para o jubileu católico de 2000, o
filme nos chega agora em DVD,
com o nome de "A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo".
"Christus" é o primeiro filme
catequético do cinema italiano.
Com duração de 77 minutos,
mescla gêneros diversos de ação
cênica. Mas a subordinação aos
lugares-comuns o torna tedioso e
ilustrativo.
O diretor Giulio Antamoro iniciou as filmagens no fatídico verão de 1914, à beira da Primeira
Guerra Mundial. Antes, experimentara a fábula com o bem-sucedido "Pinóquio" (1911). Para o
novo projeto, captaria a atenção
do público imitando grandes
obras sacras renascentistas, efeito
pelo qual a obra ficou conhecida.
Cenas estáticas são intercaladas
entre a ação dos personagens.
Tais passagens congeladas reproduzem ícones da história da arte:
a "Anunciação", de Fra Angélico,
o "Batismo", de Perugino, a
"Transfiguração", de Rafael, a
"Última Ceia", de Leonardo da
Vinci, a "Crucificação", de Mantegna, e a "Pietà", de Michelangelo. Assim, criam-se quadros vivos,
gênero dramático oposto à cinética do cinema.
Entretanto, alguns efeitos retóricos das obras originais são perdidos. Na escultura de Michelangelo, Jesus é muito menor do que
sua mãe, apesar da idade ao morrer, numa alusão ao episódio da
premonição dela em relação ao
futuro do filho quando este ainda
era criança; no filme, repete-se só
a pose, pois ambos os atores guardam suas proporções reais.
O decoro interpretativo impera
sobre a descrição dos episódios
dolorosos. A flagelação é delicadamente impingida por feixe de
galhos contra a túnica atada à cintura de Jesus Cristo. O pranto da
Mater Dolorosa resume-se a uma
única lágrima belamente iluminada, escorrendo sobre rosto alvíssimo. Nenhuma gota de sangue é
derramada.
Por outro lado, as locações no
Cairo, em Carnac e em Jerusalém
impressionam pela época envolvida. A Itália mantivera-se em relativa neutralidade no início da
guerra, embora integrasse a Tríplice Aliança com o império alemão e o austro-húngaro. Porém,
em 1915, trocou de lado, juntando-se à França, Rússia e Reino
Unido. Essa virada é sinalizada
pelo acesso do diretor ao Egito,
protetorado colonial britânico, e à
Palestina, que estava sendo tomada ao império turco pelas forças
franco-britânicas de então.
"Christus" popularizou-se como peça doutrinária durante o
período fascista da Itália, iniciado
pela ascensão de Mussolini em
1922. Até os anos 40, era exibido
no interior de oratórios e igrejas,
iluminando os templos com a
lembrança nostálgica de uma "belle époque" enterrada pela guerra
que pariu o século 20.
A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo
Direção: Giulio Antamoro
Distribuidora: Versátil; R$ 45, em média
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