São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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Gays são fechados demais para música, diz Rauhofer

DA REPORTAGEM LOCAL

O DJ Peter Rauhofer, 36, não vai à parada. Assim que terminar a sua apresentação no clube The Week, por volta de 8h de sábado, ele terá de embarcar no vôo das 11h com destino a Nova York, cidade que escolheu para morar desde 1995, quando deixou sua cidade natal, Viena (Áustria).
Há dez anos, ele se mudou para os EUA já com um sucesso embaixo do braço, a faixa "Let me Be Your Underwear", lançada com o pseudônimo Star 69. A partir de então, passou a ser um dos produtores de remixes pop mais requisitados do planeta e um dos DJs mais famosos da cena gay nova-iorquina, ao lado de Junior Vasquez e Victor Calderone.
Rauhofer já criou versões para as pistas de músicas de artistas como Madonna, Depeche Mode e Yoko Ono. Pelo remix de "Believe", sucesso da cantora Cher, ele acabou levando para casa, em 2000, um Grammy, maior prêmio da indústria fonográfica dos EUA.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York, ele contou o que mudou após a premiação e criticou o público dos clubes gays: "Eles querem ouvir o "som deles". É muito difícil educá-los musicalmente". Leia a seguir trechos da entrevista. (LF)
 

Folha - Ganhar um Grammy mudou alguma coisa na sua carreira?
Peter Rauhofer -
Não. Quer dizer, as pessoas ficam assustadas. Acham que não vão poder mais pagar pela sua produção. Mas, na verdade, não muda nada. Antes, você precisava alugar um grande estúdio e contratar músicos, e o remix ficava muito caro. Hoje você pode fazer um remix no seu computador, e as gravadoras sabem que eles não custam tanto.

Folha - Como você se tornou um DJ conhecido entre o público gay?
Rauhofer -
Durante dez anos, toquei em clubes de público heterossexual, na Europa. Quando cheguei a Nova York, fui direto para a cena underground, que, em muitos países, é a cena gay.

Folha - Qual a diferença entre tocar para gays e para heterossexuais?
Rauhofer -
No final dos anos 90, os clubes gays e heterossexuais tocavam o mesmo tipo de música, não importava aonde você ia. Hoje há muitos estilos diferentes de dance music. Nos clubes de público heterossexual, é muito difícil saber qual estilo estará tocando. Há trance, deep dark, house tribal, disco house... Nos clubes gays a música é sempre a mesma. Você vai ouvir a mesma coisa no Brasil, em Nova York, em Los Angeles... É um tipo de som que funciona em qualquer lugar. Os freqüentadores de clubes heterossexuais têm a cabeça mais aberta, estão dispostos a ouvir coisas novas.

Folha - Então o público gay não tem a cabeça aberta?
Rauhofer -
Não muito. Eles querem ouvir o "som deles". É muito difícil educá-los musicalmente. O problema geral da comunidade gay é que eles se sentem num mundo próprio e não querem nada diferente. São muito implicantes. Acabam não tendo a cabeça aberta. Eles só confiam no que acontece dentro do universo gay, e muitas vezes é difícil convencê-los de que há outros estilos.

Folha - Alguns dizem que os gays não ouvem música boa.
Rauhofer -
Depende do DJ que toca. Estou falando da grande maioria dos gays que saem para dançar em clubes à noite. Você tem de enganá-los, tocar o que eles querem e combinar com músicas diferentes das que eles ouvem normalmente.

Folha - Você vai fazer isso aqui?
Rauhofer -
Vamos ver. Sou muito flexível, mas não há sentido algum para mim viajar e tocar o que eu quero. Muitas pessoas vêm me ver porque sabem o que vão ter. O DJ serve para divertir as pessoas. Eu proponho uma viagem, toco um pouco disso e um pouco daquilo. Se você está na pista à 1h, estará tocando músicas com vocal; se você está na pista às 4h, estará tocando tribal.

Folha - Qual estilo você toca?
Rauhofer -
Meu estilo confunde as pessoas, porque é muito variado, mas tenho influências de tribal, da cena underground, de Junior Vasquez. Não quer dizer que eu o copie, mas ele é uma influência para todos os DJs de Nova York. Acho que a música deve ter sentimento e alma. Uma festa boa tem de ter algumas canções cantadas. Toco músicas atemporais e evito os sons mais comerciais.


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