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Gays são fechados demais para música, diz Rauhofer
DA REPORTAGEM LOCAL
O DJ Peter Rauhofer, 36, não vai
à parada. Assim que terminar a
sua apresentação no clube The
Week, por volta de 8h de sábado,
ele terá de embarcar no vôo das
11h com destino a Nova York, cidade que escolheu para morar
desde 1995, quando deixou sua cidade natal, Viena (Áustria).
Há dez anos, ele se mudou para
os EUA já com um sucesso embaixo do braço, a faixa "Let me Be
Your Underwear", lançada com o
pseudônimo Star 69. A partir de
então, passou a ser um dos produtores de remixes pop mais requisitados do planeta e um dos DJs
mais famosos da cena gay nova-iorquina, ao lado de Junior Vasquez e Victor Calderone.
Rauhofer já criou versões para
as pistas de músicas de artistas como Madonna, Depeche Mode e
Yoko Ono. Pelo remix de "Believe", sucesso da cantora Cher, ele
acabou levando para casa, em
2000, um Grammy, maior prêmio
da indústria fonográfica dos EUA.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York, ele contou o
que mudou após a premiação e
criticou o público dos clubes gays:
"Eles querem ouvir o "som deles".
É muito difícil educá-los musicalmente". Leia a seguir trechos da
entrevista.
(LF)
Folha - Ganhar um Grammy mudou alguma coisa na sua carreira?
Peter Rauhofer - Não. Quer dizer, as pessoas ficam assustadas.
Acham que não vão poder mais
pagar pela sua produção. Mas, na
verdade, não muda nada. Antes,
você precisava alugar um grande
estúdio e contratar músicos, e o
remix ficava muito caro. Hoje você pode fazer um remix no seu
computador, e as gravadoras sabem que eles não custam tanto.
Folha - Como você se tornou um
DJ conhecido entre o público gay?
Rauhofer - Durante dez anos, toquei em clubes de público heterossexual, na Europa. Quando
cheguei a Nova York, fui direto
para a cena underground, que,
em muitos países, é a cena gay.
Folha - Qual a diferença entre tocar para gays e para heterossexuais?
Rauhofer - No final dos anos 90,
os clubes gays e heterossexuais tocavam o mesmo tipo de música,
não importava aonde você ia. Hoje há muitos estilos diferentes de
dance music. Nos clubes de público heterossexual, é muito difícil
saber qual estilo estará tocando.
Há trance, deep dark, house tribal, disco house... Nos clubes gays
a música é sempre a mesma. Você
vai ouvir a mesma coisa no Brasil,
em Nova York, em Los Angeles...
É um tipo de som que funciona
em qualquer lugar. Os freqüentadores de clubes heterossexuais
têm a cabeça mais aberta, estão
dispostos a ouvir coisas novas.
Folha - Então o público gay não
tem a cabeça aberta?
Rauhofer - Não muito. Eles querem ouvir o "som deles". É muito
difícil educá-los musicalmente. O
problema geral da comunidade
gay é que eles se sentem num
mundo próprio e não querem nada diferente. São muito implicantes. Acabam não tendo a cabeça
aberta. Eles só confiam no que
acontece dentro do universo gay,
e muitas vezes é difícil convencê-los de que há outros estilos.
Folha - Alguns dizem que os gays
não ouvem música boa.
Rauhofer - Depende do DJ que
toca. Estou falando da grande
maioria dos gays que saem para
dançar em clubes à noite. Você
tem de enganá-los, tocar o que
eles querem e combinar com músicas diferentes das que eles ouvem normalmente.
Folha - Você vai fazer isso aqui?
Rauhofer - Vamos ver. Sou muito flexível, mas não há sentido algum para mim viajar e tocar o que
eu quero. Muitas pessoas vêm me
ver porque sabem o que vão ter. O
DJ serve para divertir as pessoas.
Eu proponho uma viagem, toco
um pouco disso e um pouco daquilo. Se você está na pista à 1h,
estará tocando músicas com vocal; se você está na pista às 4h, estará tocando tribal.
Folha - Qual estilo você toca?
Rauhofer - Meu estilo confunde
as pessoas, porque é muito variado, mas tenho influências de tribal, da cena underground, de Junior Vasquez. Não quer dizer que
eu o copie, mas ele é uma influência para todos os DJs de Nova
York. Acho que a música deve ter
sentimento e alma. Uma festa boa
tem de ter algumas canções cantadas. Toco músicas atemporais e
evito os sons mais comerciais.
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