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GUILHERME WISNIK
O "eixo dos grandes problemas"
Insinua-se uma auspiciosa convergência de tempos, que tem na arquitetura escolar um catalisador fundamental
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SERÃO LANÇADOS hoje, às
19h30, no Instituto Tomie
Ohtake, dois importantes livros sobre a produção escolar do
governo do Estado. Organizados
por Avany de Francisco Ferreira e
Mirela Geiger de Mello, ambos
apresentam o título de "Arquitetura Escolar Paulista" (R$ 100 cada),
tendo nos subtítulos a indicação da
especificidade de cada volume: "Estruturas Pré-Fabricadas" (336
págs.), contendo a produção contemporânea (2003-2005), e "Anos
1950 e 1960" (372 págs.), cobrindo
um período que prepara a comemoração do 4º centenário da cidade
(1954), e que tem um impulso renovado na passagem para os anos 60.
Este último traz textos da historiadora Janice Theodoro da Silva,
do escritor Ignácio de Loyola Brandão, do arquiteto Júlio Katinsky e
um meu.
A combinação entre os dois livros
é particularmente feliz, já que as escolas da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) são
hoje, talvez, o mais importante
campo de provas para os arquitetos
jovens de São Paulo. Não apenas
para aqueles que têm poucas obras
construídas, mas também para os
que, mesmo já tendo um percurso
consolidado, nunca tinham tido a
oportunidade de realizar uma obra
pública e de interesse social. Além
disso, o sistema estrutural pré-fabricado revelou-se não uma camisa-de-força para as experimentações espaciais, e sim uma linguagem de base para soluções muito
diversas.
Pois é esse, também, o papel desempenhado pelas escolas do Estado na passagem dos anos 50 para os
60: permitir a consolidação de uma
arquitetura que veio a ser conhecida como "escola paulista". Produção que se notabilizou pelo uso intensivo do concreto armado e pelo
arrojo estrutural, com vistas a uma
industrialização plena da construção (que, no entanto, ficou em estado embrionário).
Tais escolas representaram a primeira encomenda significativa do
poder público aos arquitetos de São
Paulo, que, embora já reconhecidos
profissionalmente, tinham uma
obra ainda muito confinada a residências. Foi, então, a partir do programa escolar que essa arquitetura
decolou, colocando-se, segundo Vilanova Artigas, "no eixo onde estão
os grandes problemas". É por aí que
ele justifica o "caráter impaciente"
das suas formas, feitas de "proezas e
audácias nem sempre compreendidas".
Ao realizar, hoje, um amplo conjunto de escolas com estruturas
pré-fabricadas, a FDE resgata aquele impulso fundamental, embora
destituído da carga utópica anterior, de fazer-se portador de um
modelo de desenvolvimento do
país. Mas há, também, um outro nexo fundamental entre os dois livros:
a safra recente de escolas privilegia
os espaços de recreio e socialização
das crianças, e os edifícios são concebidos para ser abertos à comunidade nos finais de semana.
Há, aí, uma clara proximidade
com o papel de "condensador social" dos CEUs da prefeitura, cujo
modelo fundamental são os edifícios do "Convênio Escolar" (1949-54), amparados no projeto pedagógico do educador Anísio Teixeira.
Insinua-se, portanto, uma auspiciosa convergência de tempos, que
tem na arquitetura escolar um catalisador fundamental.
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