São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUILHERME WISNIK

O "eixo dos grandes problemas"


Insinua-se uma auspiciosa convergência de tempos, que tem na arquitetura escolar um catalisador fundamental

SERÃO LANÇADOS hoje, às 19h30, no Instituto Tomie Ohtake, dois importantes livros sobre a produção escolar do governo do Estado. Organizados por Avany de Francisco Ferreira e Mirela Geiger de Mello, ambos apresentam o título de "Arquitetura Escolar Paulista" (R$ 100 cada), tendo nos subtítulos a indicação da especificidade de cada volume: "Estruturas Pré-Fabricadas" (336 págs.), contendo a produção contemporânea (2003-2005), e "Anos 1950 e 1960" (372 págs.), cobrindo um período que prepara a comemoração do 4º centenário da cidade (1954), e que tem um impulso renovado na passagem para os anos 60.
Este último traz textos da historiadora Janice Theodoro da Silva, do escritor Ignácio de Loyola Brandão, do arquiteto Júlio Katinsky e um meu.
A combinação entre os dois livros é particularmente feliz, já que as escolas da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) são hoje, talvez, o mais importante campo de provas para os arquitetos jovens de São Paulo. Não apenas para aqueles que têm poucas obras construídas, mas também para os que, mesmo já tendo um percurso consolidado, nunca tinham tido a oportunidade de realizar uma obra pública e de interesse social. Além disso, o sistema estrutural pré-fabricado revelou-se não uma camisa-de-força para as experimentações espaciais, e sim uma linguagem de base para soluções muito diversas.
Pois é esse, também, o papel desempenhado pelas escolas do Estado na passagem dos anos 50 para os 60: permitir a consolidação de uma arquitetura que veio a ser conhecida como "escola paulista". Produção que se notabilizou pelo uso intensivo do concreto armado e pelo arrojo estrutural, com vistas a uma industrialização plena da construção (que, no entanto, ficou em estado embrionário).
Tais escolas representaram a primeira encomenda significativa do poder público aos arquitetos de São Paulo, que, embora já reconhecidos profissionalmente, tinham uma obra ainda muito confinada a residências. Foi, então, a partir do programa escolar que essa arquitetura decolou, colocando-se, segundo Vilanova Artigas, "no eixo onde estão os grandes problemas". É por aí que ele justifica o "caráter impaciente" das suas formas, feitas de "proezas e audácias nem sempre compreendidas".
Ao realizar, hoje, um amplo conjunto de escolas com estruturas pré-fabricadas, a FDE resgata aquele impulso fundamental, embora destituído da carga utópica anterior, de fazer-se portador de um modelo de desenvolvimento do país. Mas há, também, um outro nexo fundamental entre os dois livros: a safra recente de escolas privilegia os espaços de recreio e socialização das crianças, e os edifícios são concebidos para ser abertos à comunidade nos finais de semana.
Há, aí, uma clara proximidade com o papel de "condensador social" dos CEUs da prefeitura, cujo modelo fundamental são os edifícios do "Convênio Escolar" (1949-54), amparados no projeto pedagógico do educador Anísio Teixeira. Insinua-se, portanto, uma auspiciosa convergência de tempos, que tem na arquitetura escolar um catalisador fundamental.


Texto Anterior: R$ 3 milhões
Próximo Texto: Bom tempo leva milhares aos shows do Centro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.