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análise
É antes um festival de atores do que de autores
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Sob a batuta de Gilles Jacob, antes delegado-geral e hoje presidente do
festival, Cannes há três décadas
aposta num perfil de "festival
de autores", como uma espécie
de extensão para a curadoria da
"política dos autores" celebrizada pela crítica francesa. O
mesmo engajamento tem sido
reafirmado pelo novo diretor
artístico, Thierry Fremaux.
Se a seleção no papel parecia
confirmar a linha, incluindo
neste ano alguns dos preferidos
de sempre como Almodóvar,
Kaurismaki, Loach e Moretti,
os filmes que têm desfilado pelas telas do Palais convidam a
uma leitura distinta. Cannes
2006 é até aqui um festival
mais forte em desempenhos do
que em narrativas autorais. É
antes um festival de atores e
atrizes do que de autores.
Mesmo o inacreditável filme
de abertura, "O Código da Vinci", serve à tese. Se Ron Howard
é um artesão aqui em seu pior
momento, as interpretações de
Tom Hanks , sir Ian McKellen e
Paul Bettamy injetam ao filme
quase tudo que tem de vitalidade. Por sua vez, o filme de episódios "Paris Je T'Aime" é o
mais generoso em exemplos. O
projeto se define de saída como
uma visão plural da capital
francesa por autores contemporâneos internacionais (dos
irmãos Coen a Walter Salles e
Daniela Thomas). O resultado é
uma sinfonia de interpretações
memoráveis, muito além de
possíveis leituras que vinculem
cada curta à obra de seu diretor.
Os maiores exemplos são a
mãe enlutada de Juliette Binoche, sempre ela; o velho casal à
beira do divórcio formado por
Gena Rowlands e Ben Gazarra;
o solo hilário de Steve Buscemi
no metrô Tuileries; e o trágico
par agônico de Sergio Castelitto e Miranda Richardson.
A disputa pela Palma de Ouro
é até aqui regular, sem maiores
picos ou vales, destacando-se o
Almodóvar algo memorialístico de "Volver" (o favorito) e a
volta à forma de Ken Loach
com "The Wind That Shakes
The Barley". Mas quase todos
os concorrentes têm um protagonista potencialmente premiável. A lista inclui de estrelas
como Carmen Maura e Penélope Cruz, que se reencontram
com Almodóvar em "Volver", à
chinesa Lei Hao, que representa a "geração Tienamen" em
"Summer Palace" de Lou Ye.
Entre os rapazes, o destaque é
Damien Murphy, que dá credibilidade ao herói de Loach.
Dois documentários destacam nos próximos dias a importância dos atores. "Marcello
- Una Vita Dolce" lembra um
protagonista mitológico da era
de ouro do cinema italiano. Já
John Ford/John Wayne - The
Filmmaker and The Legend"
relembra meio século de colaboração essencial para a consolidação do faroeste como o gênero americano por excelência
e de Hollywood como a usina
mundial de sonhos.
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