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comentário
Ciência não impede emoção do paladar
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
O "Léxico Científico-Gastronômico" é um livro
para iniciados. É para cozinheiros (ou correlatos)
que, ainda por cima, se dispõem a esmiuçar o mundo
das moléculas para entender o que se passa em sua
cozinha e como interferir
para que as coisas andem
assim ou... assado.
Esta codificação -meio
esquemática, meio árida-
enlouquece os conservadores que não se conformam de ver sua arte dissecada pela lupa desta mistura de cozinheiros e cientistas loucos. Mesmo em
seu berço, a Espanha,
chefs de prestígio acusam
esse movimento de ser
frio, técnico, desumano.
Tanto que Adrià e seguidores, como que para salientar a paixão no que fazem, rejeitam o termo "cozinha molecular" (como
alguns classificam seu trabalho), em troca de "cozinha técnico-emocional".
Será que o olhar científico desenvolvido em laboratório desnatura a cozinha, tira-lhe o afeto? Certamente não, para os chefs
que conseguem, através de
toda sua parafernália,
emocionar o paladar dos
seus clientes. Um dos adversários dessa corrente, o
espanhol Santi Santamaría, diz que não é preciso
saber do que é feito um
ovo para cozinhá-lo bem:
bastaria a sensibilidade
que já tinham seus avós.
Mas como será que seus
avós, que cozinhavam com
lenha, reagiram ante o surgimento do fogão a gás? E
do processador de alimentos? Não será emocionante, além disso, achar novos
meios de cozinhar o ovo?
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