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comentário
Na adaptação, língua húngara ganha força
MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA FOLHA
O filme "Budapeste" incorpora as
principais polaridades que estruturam o
romance de Chico Buarque, acrescenta mais uma
(a alternância linguística,
inexistente no livro), mas
compromete o desdobramento final da narrativa.
Alguns méritos da adaptação estão não só na sensibilidade de Walter Carvalho mas na própria linguagem cinematográfica.
Nos momentos em que o
ghost-writer José Costa
vive as cenas que inventa,
a ficção ganha a concretude assustadora de uma
imagem traumática que irrompe em pesadelo.
E uma personagem inexistente no romance acaba
se tornando protagonista
da trama: a língua húngara, que no filme se torna o
idioma em que José Costa
(Zsoze Kósta) materializa
seu estranhamento.
A tensão final do romance, porém, se perde completamente: aquilo que em
Chico Buarque é uma revelação breve porém perturbadora (a virada de jogo
em que o escritor-fantasma se torna autor-fictício), deixando um eco na
memória, após o epílogo,
transforma-se aqui numa
sequência oblíqua, arrastada -e que de certo modo
só fica clara para quem leu
"Budapeste".
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