São Paulo, sexta-feira, 22 de maio de 2009

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Mostra de Bacon exibe influência de espanhóis

Exposição defende que El Greco e Zurbarán foram importantes para pintor

Atualmente em cartaz no Metropolitan, em Nova York, mostra também apresenta filmes que inspiraram telas de irlandês

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um artista em busca da imagem perfeita, por mais violência, deformações e gritos que suas telas apresentem. Assim pode ser sintetizada a produção do pintor irlandês Francis Bacon (1909-1992), depois da sua grande retrospectiva passar pela Tate Britain, em Londres, e pelo Museu do Prado, em Madri, e agora ficar em cartaz no Metropolitan Museum, em Nova York, até 16 de agosto.
A exposição em três dos mais importantes museus do mundo reúne 130 peças do artista, entre as quais 65 pinturas, muitas reunidas pela primeira vez.
A dificuldade de uma reunião desse tipo aumentou em razão dos números milionários que os trabalhos de Bacon atingiram no mercado de arte. Um de seus trípticos, por exemplo, foi comprado por US$ 86 milhões (cerca de R$ 175 milhões), em leilão ocorrido no ano passado em Nova York.
A importância mais clara da exposição "Francis Bacon", com curadoria conjunta de Matthew Gale, Chris Stephen (da Tate), Gary Tinterow e Anne Strauss (do Metropolitan), além de Manuela Mena (do Prado), é de discutir mais profundamente, com fartura de telas e documentos, as influências do pintor irlandês.
Mena, por exemplo, consegue atestar que o artista foi muito influenciado por pinturas presentes no acervo do Museu do Prado, espaço que gostava de visitar com frequência quando passava pela capital espanhola, onde morreu.
Além de Velázquez (1599-1660) e Rembrandt (1606-1669), nomes citados por Bacon em entrevistas, textos e cartas, os curadores observam que pinturas de El Greco (1541-1614) e Zurbarán (1598-1664) também estavam entre as mais apreciadas pelo artista.
"Em relação a El Greco, Bacon fazia o mesmo tipo de aproveitamento das figuras no quadro e tinha procedimentos técnicos parecidos", afirma Mena à Folha. "Zurbarán é mais difícil de detectar, mas ficou registrada a sua admiração."
A curadora lembra que o pintor era obsessivo em buscar uma imagem perfeita, em um procedimento que servia como um tributo aos trabalhos dos artistas de que mais gostava.
"Suas imagens, em quase todos os quadros, revelam uma perfeição no espaço, por meio da relação com as figuras, da expressão de seus sentimentos e do uso da cor", diz ela.
Na exposição, emergem outras influências pouco conhecidas, como as do cinema. O pintor, por exemplo, fez telas baseado em fotogramas de "Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein, e "Hiroshima Meu Amor", de Alain Resnais.
A mostra divide a produção de Bacon em módulos, alguns com títulos dramáticos, como "Animal" e "Crucificação".
Para os curadores, a biografia acidentada do artista irlandês, que viveu dias de conflitos separatistas em Dublin e uma relação conflituosa com o pai, tiveram influência em seu estilo.
"Sua geração passou por eventos traumáticos. E sua biografia era violenta também. Seu pai o expulsou de casa aos 16 anos e ele sobreviveu muitas vezes roubando", diz ela.


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