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Mostra de Bacon exibe
influência de espanhóis
Exposição defende que El Greco e Zurbarán foram importantes para pintor
Atualmente em cartaz
no Metropolitan, em Nova York, mostra também apresenta filmes que inspiraram telas de irlandês
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um artista em busca da imagem perfeita, por mais violência, deformações e gritos que
suas telas apresentem. Assim
pode ser sintetizada a produção
do pintor irlandês Francis Bacon (1909-1992), depois da sua
grande retrospectiva passar pela Tate Britain, em Londres, e
pelo Museu do Prado, em Madri, e agora ficar em cartaz no
Metropolitan Museum, em Nova York, até 16 de agosto.
A exposição em três dos mais
importantes museus do mundo
reúne 130 peças do artista, entre as quais 65 pinturas, muitas
reunidas pela primeira vez.
A dificuldade de uma reunião
desse tipo aumentou em razão
dos números milionários que
os trabalhos de Bacon atingiram no mercado de arte. Um de
seus trípticos, por exemplo, foi
comprado por US$ 86 milhões
(cerca de R$ 175 milhões), em
leilão ocorrido no ano passado
em Nova York.
A importância mais clara da
exposição "Francis Bacon",
com curadoria conjunta de
Matthew Gale, Chris Stephen
(da Tate), Gary Tinterow e Anne Strauss (do Metropolitan),
além de Manuela Mena (do
Prado), é de discutir mais profundamente, com fartura de telas e documentos, as influências do pintor irlandês.
Mena, por exemplo, consegue atestar que o artista foi
muito influenciado por pinturas presentes no acervo do Museu do Prado, espaço que gostava de visitar com frequência
quando passava pela capital espanhola, onde morreu.
Além de Velázquez (1599-1660) e Rembrandt (1606-1669), nomes citados por Bacon em entrevistas, textos e
cartas, os curadores observam
que pinturas de El Greco (1541-1614) e Zurbarán (1598-1664)
também estavam entre as mais
apreciadas pelo artista.
"Em relação a El Greco, Bacon fazia o mesmo tipo de aproveitamento das figuras no quadro e tinha procedimentos técnicos parecidos", afirma Mena
à Folha. "Zurbarán é mais difícil de detectar, mas ficou registrada a sua admiração."
A curadora lembra que o pintor era obsessivo em buscar
uma imagem perfeita, em um
procedimento que servia como
um tributo aos trabalhos dos
artistas de que mais gostava.
"Suas imagens, em quase todos os quadros, revelam uma
perfeição no espaço, por meio
da relação com as figuras, da
expressão de seus sentimentos
e do uso da cor", diz ela.
Na exposição, emergem outras influências pouco conhecidas, como as do cinema. O pintor, por exemplo, fez telas baseado em fotogramas de "Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein, e "Hiroshima
Meu Amor", de Alain Resnais.
A mostra divide a produção
de Bacon em módulos, alguns
com títulos dramáticos, como
"Animal" e "Crucificação".
Para os curadores, a biografia
acidentada do artista irlandês,
que viveu dias de conflitos separatistas em Dublin e uma relação conflituosa com o pai, tiveram influência em seu estilo.
"Sua geração passou por
eventos traumáticos. E sua biografia era violenta também.
Seu pai o expulsou de casa aos
16 anos e ele sobreviveu muitas
vezes roubando", diz ela.
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