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ARTES PLÁSTICAS
Acervo pode voltar a
crescer, diz Marques
da Reportagem Local
Ex-curador-chefe do Masp e
coordenador-geral do catálogo do
museu, o professor Luiz Marques
falou à Folha sobre as surpresas
que encontrou no acervo, sobre
suas lacunas (escola caravaggesca
internacional e barroco setentrional italiano) e sobre a necessidade
de que o acervo volte a crescer.
(CELSO FIORAVANTE)
Folha - Você teve alguma surpresa durante a confecção do catálogo?
Luiz Marques - Se você pega a
parte de pintura da Europa do
Norte, existem obras que nunca
foram expostas ou apenas raríssimas vezes. O museu tem um desenho magnífico do Henry Moore,
uma série raríssima de 11 gravuras
do Max Beckmann, três nanquins
de Otto Ritschel, dois desenhos do
Kokoschka. O acervo sobre papel
do Masp é muito importante.
O museu tem ainda uma coleção
expressiva do pop inglês, com
obras de Peter Blake, Joe Tilson e
William Scott. Isso, talvez, devido
ao fato de o Chateaubriand ter sido
embaixador na Inglaterra e ter deixado um sucessor que trabalhou
para a doação de obras ao museu
naquela época.
Folha - Quais são as grandes ausências do acervo do Masp?
Marques - O museu não tem
nenhum quadro da pintura borromaica italiana, o barroco do norte
da Itália não está representado, e é
uma das pinturas mais importantes da história. O museu tem um
quadro do Ciro Ferri, um do ateliê
de Guido Reni.
Você encontra apenas um quadro do Bartolomeo Passante, que é
o único caravaggesco do museu.
Não é possível dizer que a pintura
caravaggesca, que é um grande
movimento internacional, que dominou 20 ou 30 dos mais fecundos
anos da pintura européia, esteja
representada. Não tem um caravaggesco espanhol ou romano.
Não estou querendo um Caravaggio, mas o livro que o Nicholson escreveu sobre o caravaggismo tem quatro volumes e apenas
de fotografias.
O Masp não tem pintura francesa do século 17. Tem um Poussin,
magnífico, mas é o único. Tem um
quadro do Clouet, mas as três gerações de Fontainebleau não estão
representadas. Não tem pintores
ingleses do século 16 e 17. As lacunas são gigantescas.
Folha - Como o acervo poderia
voltar a crescer e de uma maneira
consequente?
Marques - Não existe nenhuma
dificuldade. Basta que a sociedade
queira. Se houver um entendimento do museu nesse sentido e se a
sociedade entender, isso acontece.
A sociedade investe naquilo que
ela quer, em Beto Carrero ou em
museu.
Se você quiser fazer um museu
extremamente importante em termos de acervo, o mercado está aí
para oferecer, inclusive a preços
muito baratos. O que falta não é
quadro, mas vontade de comprar.
Folha - O crescimento do acervo
ainda é necessário ou é mais importante o trabalho de divulgação
e conservação?
Marques - Eu diria que não
existe uma hierarquia. Mas posso
afirmar que voltar a crescer não é
menos importante.
Conservar pode ser melhor que
crescer, mas uma coleção que não
cresce, morre. Um museu que não
cresce não está levando adiante o
projeto que o justifica.
O Julio Neves, presidente do
Masp, está fazendo um trabalho
que deve ser feito, senão o prédio
cai. Tudo isso com certeza custa
muito dinheiro, mas também é
preciso voltar a crescer.
Folha - A doação indiscriminada
ajuda ou atrapalha o museu?
Marques - O museu não deveria
aceitar tudo, mas propor a doação
de obras. Se ele quer comprar algo,
faz uma campanha. Você doa R$
50, eu dôo R$ 50 e a Companhia
Antarctica Paulista doa R$ 50 milhões e o museu compra o quadro.
As campanhas não devem se limitar a financiar reformas no museu, mas a comprar obras também. O Emanoel Araujo já tomou
a dianteira na Pinacoteca e comprou um Maillol, dois Rodin e deve comprar um Bourdelle.
Não adianta fazer uma exposição
magnífica do Kiefer e não ficar
com nenhuma obra dele no acervo.
Mas esse tipo de iniciativa acabará sendo tomada pois é o exemplo
internacional que acabaremos seguindo também.
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