do enviado a Cannes

"Velvet Goldmine" é a atração pop do festival. O rock do início dos anos 70, sobretudo o britânico, é o tema. Uma espécie de antologia do mesmo período, misturando Rolling Stones, Bob Dylan, Neil Young e até os já então defuntos Beatles, embalam "Fear and Loathing in Las Vegas".
Mas nem só de ficção vive o rock em Cannes. Dois documentários lotaram projeções no mercado. Um, clássico, em relançamento: "Gimme Shelter", de Albert e David Maysles e Charlotte Zwerin. O outro, recentíssimo: "Kurt e Courtney", de Nick Broomfield.
"Gimme Shelter" devassa a turnê americana dos Stones em 1969. Mas o filme vai muito além da filmagens de concertos e de bastidores. Bastaria isso e já teríamos um registro extraordinário.
Os irmãos Maysles, da linha frente da escola do "direct cinema" dos anos 60, contrapõem os próprios Stones com o material filmado. Não é um mero cacoete metalinguístico.
A turnê terminou em tragédia. Um show gratuito para mais de 200 mil pessoas perto de São Francisco acabou em confusão. Quatro pessoas morreram, contaram-se dezenas de feridos.
As filmagens radiografam as causas. O improviso era total. O local do show foi decidido em cima da hora. A segurança no palco e no gramado era nenhuma. A gangue Hell's Angels truculentamente postou-se na frente da banda prometendo defendê-la.
Mick Jagger mergulha nas imagens na moviola. A sorte de um cinegrafista o fez registrar um dos mais graves incidentes: um homem abre espaço perto do palco com um revólver na mão. Alguém o fere com uma faca. "Gimme Shelter" (Proteja-me), cantam os Stones ao final. Era o fim da era da inocência dos grandes concertos de rock.
Já "Kurt e Courtney" merece ser visto sobretudo como pioneiro de uma espécie de documentarismo tablóide. Broomfield estrutura seu filme a partir da tese de que o suicídio de Kurt Cobain, do Nirvana, foi forjado, e que sua viúva, Courtney Love, estaria envolvida na farsa. Dúvidas legítimas são levantadas, mas nada se prova. (AL)



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