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DROGAS
Nada de apologias
do enviado a Cannes
O italiano Nanni Moretti abre
seu "Aprile" (Abril), que não deve sair de Cannes sem prêmio, relembrando a história de seu primeiro cigarro de maconha.
Roma, 1994. Sentado ao lado da
mãe na sala de estar, assiste a um
telejornal. O âncora não esconde a
felicidade pela vitória do dono da
emissora, Silvio Berlusconi.
Revoltado com a sem-cerimônia
e a falta de ética, Moretti tem uma
reação extrema. "Acendo o primeiro baseado de minha vida",
diz o cineasta, que interpreta no
filme o próprio papel. Ei-lo então
levando à boca um gigantesco
"charuto" da droga.
Não se trata, claro, de apologia
ao vício. O mesmo vale para a absoluta maioria dos filmes em que
aparecem cenas de consumo de
drogas em Cannes 98.
Ópio corre solto quase como
uma obrigação social em "Flowers de Shanghai", de Hou
Hsiao-hsien. É apenas mais um
detalhe de reconstituição de época. Estamos, afinal, nos bordéis de
luxo da China da virada do século.
Em dois outros títulos da competição, a venda ou consumo de
drogas catalisa a desgraça dos protagonistas. Em "My Name Is Joe"
(Meu Nome É Joe), o melhor Ken
Loach da década, a dívida gerada
pelo consumo de heroína pelo
principal casal de amigos do protagonista obriga-o a servir de
transportador para os traficantes.
Algo similar se dá em "The General" (O General), de John Boorman. Martin Cahill, o grande ladrão irlandês desta década, vê sua
gangue se estilhaçar devido ao envolvimento de parte dela, à revelia
dele, com o tráfico.
O colombiano Victor Gabíria,
em "La Vendedora de Rosas", faz
um retrato dos meninos de rua.
Pouco inspirado de maneira geral,
tem seus raros acertos ao mostrar
o uso cotidiano e independente de
cola de sapateiro pelos pivetes.
Mas é "Fear and Loathing in Las
Vegas" (Medo e Asco em Las Vegas) o único filme que tem as drogas como elemento dramático
central. Terry Gilliam adaptou o
clássico jornalístico de Hunter S.
Thompson sob a forma de um delírio lisérgico, em que Johnny
Depp viaja pelos EUA consumindo todas as drogas possíveis e, segundo o próprio ator, "mais
aquelas que Gilliam conseguiu inventar". A viagem não é das mais
brilhantes.
(AL)
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