São Paulo, sexta, 22 de maio de 1998

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DROGAS
Nada de apologias

do enviado a Cannes

O italiano Nanni Moretti abre seu "Aprile" (Abril), que não deve sair de Cannes sem prêmio, relembrando a história de seu primeiro cigarro de maconha.
Roma, 1994. Sentado ao lado da mãe na sala de estar, assiste a um telejornal. O âncora não esconde a felicidade pela vitória do dono da emissora, Silvio Berlusconi.
Revoltado com a sem-cerimônia e a falta de ética, Moretti tem uma reação extrema. "Acendo o primeiro baseado de minha vida", diz o cineasta, que interpreta no filme o próprio papel. Ei-lo então levando à boca um gigantesco "charuto" da droga.
Não se trata, claro, de apologia ao vício. O mesmo vale para a absoluta maioria dos filmes em que aparecem cenas de consumo de drogas em Cannes 98.
Ópio corre solto quase como uma obrigação social em "Flowers de Shanghai", de Hou Hsiao-hsien. É apenas mais um detalhe de reconstituição de época. Estamos, afinal, nos bordéis de luxo da China da virada do século.
Em dois outros títulos da competição, a venda ou consumo de drogas catalisa a desgraça dos protagonistas. Em "My Name Is Joe" (Meu Nome É Joe), o melhor Ken Loach da década, a dívida gerada pelo consumo de heroína pelo principal casal de amigos do protagonista obriga-o a servir de transportador para os traficantes.
Algo similar se dá em "The General" (O General), de John Boorman. Martin Cahill, o grande ladrão irlandês desta década, vê sua gangue se estilhaçar devido ao envolvimento de parte dela, à revelia dele, com o tráfico.
O colombiano Victor Gabíria, em "La Vendedora de Rosas", faz um retrato dos meninos de rua. Pouco inspirado de maneira geral, tem seus raros acertos ao mostrar o uso cotidiano e independente de cola de sapateiro pelos pivetes.
Mas é "Fear and Loathing in Las Vegas" (Medo e Asco em Las Vegas) o único filme que tem as drogas como elemento dramático central. Terry Gilliam adaptou o clássico jornalístico de Hunter S. Thompson sob a forma de um delírio lisérgico, em que Johnny Depp viaja pelos EUA consumindo todas as drogas possíveis e, segundo o próprio ator, "mais aquelas que Gilliam conseguiu inventar". A viagem não é das mais brilhantes. (AL)



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