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"LOUISE (TAKE 2)"
Crônica de amor enquadra delinquência juvenil urbana
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Jovens desempregados, vivendo entre a marginalidade e a
rebeldia, são o tema de diversos
filmes franceses recentes, notadamente "O Ódio", de Mathieu Kassovitz, "A Vida Sonhada dos Anjos", de Erick Zonca, e agora
"Louise (Take 2)", do fotógrafo,
músico e cineasta Siegfried, 26.
Mas, se os três filmes têm em comum um "novo" naturalismo urbano (na verdade, velho como o
cinema), o sentido de suas imagens ilusoriamente documentais
não poderia ser mais distinto.
Em "O Ódio", tudo aponta para
a revolta, o conflito, a explosão social. Em "A Vida Sonhada dos
Anjos", o sentido geral é de impotência diante da alienação pós-industrial globalizada.
E em "Louise"? Boa pergunta.
Exemplar mais romântico da safra, o filme parece buscar filiação
em certo lirismo da vida urbana à
margem, reciclando uma mitologia do "clochard" que Jean Renoir
ironizava já em 1932, com o genial
"Boudu Salvo das Águas".
A tal Louise (Elodie Bouchez) é
uma pequena delinquente, bela e
vivaz, cercada de marginaizinhos
agressivos e meio idiotizados, a
começar por seu namorado Yaya
(Gerald Tomassin). O duplo encontro de Louise com o menino
Gaby (Antoine Du Merle) -filho
de uma prostituta e um mendigo- e com o malandro "pied-noir" Rémi (Roschdy Zem) vai
aflorar sua afetividade romântica
e maternal, mal disfarçada sob a
máscara de "bad girl".
Terna, sensível e solidária, Louise é a nova encarnação da eterna
flor do lodo, tão cara à literatura e
ao cinema ocidentais. Essa crônica do amor marginal cobre poucos dias e é narrada em ritmo frenético, com câmera na mão e
montagem de videoclipe. Interessante é a exploração dos espaços
labirínticos: as catacúmbicas estações de metrô de Paris, as ruazinhas de Montmartre, as entranhas de um decadente edifício.
Mas, sob esse verniz de modernidade, encontra-se uma visão
conservadora, que envolve numa
aura de charme e aventura -e
aqui importa menos o destino dos
personagens que a composição
geral da obra- um dos problemas mais graves da Europa de hoje: o desemprego e a falta de perspectiva dos jovens.
Basta pensar no francês "Quando Tudo Começa", de Bertrand
Tavernier, para perceber que a leveza de "Louise (Take 2)" está
perto da leviandade. Mas diverte e
distrai -como um videoclipe.
A notar, como pai de Louise, o
veterano Lou Castel, protagonista
do primeiro filme de Marco Bellochio, "De Punhos Cerrados"
(1966), em que interpretava um
rapaz revoltado e matricida. Como a lembrar que já não se fazem
mais jovens rebeldes como antigamente.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
Louise (Take 2)
Louise (Take 2)
Direção: Siegfried
Produção: França, 1998
Com: Elodie Bouchez, Roschdy Zem,
Gerald Tomassin, Antoine Du Merle
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco 4
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