São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2000


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"LOUISE (TAKE 2)"
Crônica de amor enquadra delinquência juvenil urbana

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Jovens desempregados, vivendo entre a marginalidade e a rebeldia, são o tema de diversos filmes franceses recentes, notadamente "O Ódio", de Mathieu Kassovitz, "A Vida Sonhada dos Anjos", de Erick Zonca, e agora "Louise (Take 2)", do fotógrafo, músico e cineasta Siegfried, 26.
Mas, se os três filmes têm em comum um "novo" naturalismo urbano (na verdade, velho como o cinema), o sentido de suas imagens ilusoriamente documentais não poderia ser mais distinto.
Em "O Ódio", tudo aponta para a revolta, o conflito, a explosão social. Em "A Vida Sonhada dos Anjos", o sentido geral é de impotência diante da alienação pós-industrial globalizada.
E em "Louise"? Boa pergunta. Exemplar mais romântico da safra, o filme parece buscar filiação em certo lirismo da vida urbana à margem, reciclando uma mitologia do "clochard" que Jean Renoir ironizava já em 1932, com o genial "Boudu Salvo das Águas".
A tal Louise (Elodie Bouchez) é uma pequena delinquente, bela e vivaz, cercada de marginaizinhos agressivos e meio idiotizados, a começar por seu namorado Yaya (Gerald Tomassin). O duplo encontro de Louise com o menino Gaby (Antoine Du Merle) -filho de uma prostituta e um mendigo- e com o malandro "pied-noir" Rémi (Roschdy Zem) vai aflorar sua afetividade romântica e maternal, mal disfarçada sob a máscara de "bad girl".
Terna, sensível e solidária, Louise é a nova encarnação da eterna flor do lodo, tão cara à literatura e ao cinema ocidentais. Essa crônica do amor marginal cobre poucos dias e é narrada em ritmo frenético, com câmera na mão e montagem de videoclipe. Interessante é a exploração dos espaços labirínticos: as catacúmbicas estações de metrô de Paris, as ruazinhas de Montmartre, as entranhas de um decadente edifício.
Mas, sob esse verniz de modernidade, encontra-se uma visão conservadora, que envolve numa aura de charme e aventura -e aqui importa menos o destino dos personagens que a composição geral da obra- um dos problemas mais graves da Europa de hoje: o desemprego e a falta de perspectiva dos jovens.
Basta pensar no francês "Quando Tudo Começa", de Bertrand Tavernier, para perceber que a leveza de "Louise (Take 2)" está perto da leviandade. Mas diverte e distrai -como um videoclipe.
A notar, como pai de Louise, o veterano Lou Castel, protagonista do primeiro filme de Marco Bellochio, "De Punhos Cerrados" (1966), em que interpretava um rapaz revoltado e matricida. Como a lembrar que já não se fazem mais jovens rebeldes como antigamente. (JOSÉ GERALDO COUTO)


Louise (Take 2)
Louise (Take 2)    Direção: Siegfried Produção: França, 1998 Com: Elodie Bouchez, Roschdy Zem, Gerald Tomassin, Antoine Du Merle Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 4




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