São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"SHREK"

Guerra animada

"Shrek", da DreamWorks, estréia hoje no Brasil após afundar a bilheteria de "Atlantis", da Disney, nos EUA

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Quando a DreamWorks começou a trabalhar no bicho-papão verde que hoje conhecemos como Shrek, há quatro anos, a única coisa que o estúdio de Steven Spielberg sabia é que precisava urgentemente de um desenho animado diferente de tudo o que já havia sido feito até hoje.
Com o fracasso de "Caminho para Eldorado" ("o filme não tinha nada de especial, essa é a verdade", confessou Jeffrey Katzenberg, sócio de Spielberg, à Folha) e a receptividade morna a suas duas outras criações, "Formiguinhaz" e "O Príncipe do Egito", o jovem estúdio contava, talvez, com mais uma chance de mostrar a público, crítica e à megaconcorrente Disney que era capaz de produzir animações que fossem sucesso inconteste.
E o monstruoso sucesso aconteceu com tons sarcásticos, paródias inteligentes e na forma de um bicho-papão que arrecadou, apenas no fim de semana de lançamento, US$ 50 milhões nos Estados Unidos, bombardeou "Pearl Harbor", que, todos esperavam, seria o lançamento do ano, e afundou "Atlantis - O Reino Perdido", ambos projetos do ex-empregador de Katzenberg (Disney). "A Disney vai nos agradecer porque estamos revivendo a animação", comemorou o diretor Andrew Adamson.
Até a última terça-feira, segundo dados da DreamWorks, a arrecadação de "Shrek" atingiu a cifra de US$ 200 milhões.
E o ogro que toma banho de lama, não gosta de personagens infantis e recentemente passou dez dias em Cannes prepara-se para se transformar em uma máquina de dinheiro para seus criadores.
Uma versão em 3-D está quase concluída, o lançamento em vídeo e DVD promete duplicar a arrecadação em bilheteria e a "Parte 2" já foi encaminhada. "Para dar vida a Shrek, jogamos a cartilha da animação fora e começamos tudo outra vez", disse Adamson. "A idéia era criar um conto de fadas que parodiasse contos de fada e se transformasse no anticonto de fadas. Por isso era inevitável que fizéssemos referências aos clássicos da Disney."
As referências a que ele se refere vão das mais óbvias, como as feitas a Pinóquio, Branca de Neve e Cinderela, até as mais camufladas, como a dirigida ao chefão da Disney, Michael Eisner, menção que Katzenberg apressa-se em negar. "Claro que lorde Farquaad [o rei baixinho que fisicamente lembra Eisner e é o vilão da história" não é uma alusão a ele. Farquaad talvez seja uma referência a todos os executivos da indústria, mas nunca a Eisner especificamente."
Mas a verdade é que a rivalidade entre os dois estúdios aumenta a cada dia. Não só porque Katzenberg é um dissidente, mas também porque a DreamWorks ousou concorrer de igual para igual com a Disney naquilo que ele faz de melhor, a animação. "É uma briga boa, às vezes saudável, às vezes suja", disse Adamson. "Com o sucesso de "Shrek", todos ganhamos. Quando a maré aumenta, ela flutua mais de um barco", disse Don Hahn, produtor de "Atlantis", o novo desenho da Disney.
Fato é que "Shrek", para Katzenberg, tem sabor especial. O executivo, sabendo que essa era sua grande chance, dedicou-se a esse filme como a nenhum outro até hoje. "Ele esteve presente quase diariamente, dando palpites, fazendo alterações", disse Lucia Modesto, a brasileira que deu gestos, pele, músculos e formas ao adorado monstro.


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