São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"SHREK"

Longa de animação, que estréia hoje, tem enredo que segue rigorosamente a construção dos contos de fada


Dese nho fala às emoç ões das crian ças

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

"Shrek" acabou de estrear e já é conto de fadas clássico, de tão exato em suas características estruturais. Em primeiro lugar, o filme fala perfeitamente às emoções de crianças a partir dos quatro anos, que já conhecem de cor as histórias maravilhosas dos irmãos Grimm e de Charles Perrault -"Chapeuzinho Vermelho", "Branca de Neve", "Cinderela", entre outras-, além de outros clássicos como "Pinóquio" (Carlo Collodi) e "Os Três Porquinhos" (Joseph Jacobs).
Em segundo lugar, o desenvolvimento do enredo segue rigorosamente a construção dos contos de fada. Há um herói (Shrek) e uma heroína (a princesa Fiona) que precisam superar obstáculos e que sofrem metamorfoses -ele se transforma de mau em bom - para alcançar o final feliz.
A história de "Shrek" tem uma aparência paradoxal, pois o bem é praticado por um personagem originalmente mau, famoso por devorar crianças com sua fome infinita. Trata-se do ogro Shrek, que odeia a convivência com outras criaturas e prefere se isolar num pântano só dele.
Só que Shrek perde o sossego porque outros personagens dos contos clássicos invadem seu paraíso. Então o espectador se vê diante dos seus velhos conhecidos da hora de dormir. O Burro Falante, Branca de Neve, os porquinhos, o lobo e Pinóquio refugiam-se no pântano para se livrar do malvado Lorde Farquaad, cujo sonho é se tornar um príncipe através de um casamento real.
Shrek entra em ação para resolver o problema do lorde e, em troca, retomar a posse de suas terras. É o que Farquaad promete ao ogro, desde que Shrek mate o dragão e traga a princesa Fiona para seu castelo. O caminho é longo até o desenlace, em cenas belíssimas de desenho animado, com lutas fantásticas e cenários que se aproximam da melhor pintura realista em cada tom de pele, em cada gesto, em cada planta retratada.
Porque dominam o repertório de "Shrek", as crianças são capazes de reconhecer todas as peripécias e naturalmente torcem pelos heróis e se identificam com eles, não importa se os protagonistas são deslocados de suas posições originais e assumem os papéis dos heróis que praticam o bem.
Além disso, "Shrek" tem o dom da exatidão metalinguística. A princesa Fiona é valente e ágil na luta como a heroína de "O Tigre e o Dragão". Ela é escolhida pelo feioso lorde mediante uma consulta ao espelho da Branca de Neve, numa espécie de agência de matrimônio em um videogame.
O Burro atua como a consciência do Grilo Falante ou da fada Sininho. O próprio Shrek é ogro e Fera e é capaz de mudar de atitude por influência do amor de sua Bela. Será mesmo bela? Essa é a moral da história.


Shrek
Shrek
    
Direção: Andrew Adamson e Vicky Jenson
Produção: EUA, 2001
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Eldorado, Lar Center e circuito




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