São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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MÚSICA/LANÇAMENTO

A contraventora do hip hop

Em seu terceiro álbum, a cantora americana Missy "Misdemeanor" Elliott une o gênero a funk, house, cítara e... sexo

DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

N o que ela não tenha se importado (um pouco) com isso antes. Mas agora isso é só o que importa para Missy "Misdemeanor" Elliott: sexo.
Ele é o dínamo que transforma "Miss E... So Addictive" -terceiro álbum da cantora norte-americana, que chega agora ao Brasil- em uma sucessão de composições que mesclam estilos diversos para abordar conquistas e perdas amorosas, namoros, traições, atração física, relacionamentos.
É assim que se alia o tradicional hip hop de Elliott a cítaras (em "Get Ur Freak On"), house ("4 My People"), funk das antigas (em "Old School Joint") e rhythm & blues dos melosos mesmo ("Take Away") em um único álbum, idealizado para "fazer as pessoas se esquecerem dos problemas", algo que pudesse ser tocado "num churrasco, sem que fosse necessário pular faixas", segundo ela.
É assim também que a ex-garota aparentemente durona (o apelido "Misdemeanor" significa "contravenção", em inglês), criadora dos álbuns "Supa Dupa Fly" e "Da Real World", deixa para trás o recurso de deixar as partes mais "quentes" para os convidados de seus CDs e assume os vocais para afirmar coisas como: "Ela cozinha, ela lava, ela costura?". E "eu me lembro do que você gosta" (em "Step Off").
É uma mudança e tanto. A cantora cresceu acostumada a ver, na infância, a mãe sendo surrada pelo pai e ainda tem -por "possuir familiaridade com o assunto"- interesse em ajudar vítimas de abuso sexual (tema no qual sempre toca pela tangente). Elliott auxilia financeiramente uma associação dedicada a adolescentes com esse tipo de problema.
Por suas experiências pessoais, a cantora afirma ter se distanciado, na adolescência, de tudo o que pudesse lembrá-la do terror doméstico. Leia-se: homens. "Não vou dizer que sou celibatária, mas decidi cedo que nunca dependeria de um homem", afirma.
Ou seja que, apesar da considerável guinada romântica, a antiga verve de "garota superpoderosa" ainda não deu lugar completamente à de "amada amante". Ela continua a desafiar o mundo masculino, como em "Slap! Slap! Slap!": "Eu faço as regras, eu visto as calças", vocifera.
Apelidada de a "Puffy Mommy" do mercado -alusão ao rapper Sean Combs, ou Puff Daddy-, em razão da intensa atividade empresarial que ambos têm, além da carreira artística, Elliott estuda atualmente proposta de Mick Jagger para a co-produção e criação de canções para um novo disco dos Rolling Stones.
A cantora também está por trás de músicas interpretadas por nomes como Whitney Houston, Christina Aguilera, Mariah Carey e Mel B.
De acordo com ela, o que move algumas dessas aproximações é dinheiro. A produtora, compositora e executiva de gravadora nascida no Estado da Virgínia tem entre suas características dissociar o lado artístico e empresarial de sua persona.
"Se alguém quer tirar a roupa para vender discos, tudo bem, desde que me convide para fazer alguma faixa do CD", afirma, provocativamente, sobre a desgastada recorrência de caras, bocas e curvas milimetricamente perfeitas exibidas à exaustão entre o mundo pop feminino.
Outras parcerias, porém, são fruto de pura tietagem. É o caso da influência de (quem diria...) Janet Jackson sobre Missy Elliott.
A irmã de Michael era o ídolo de adolescência da atual vanguardista do hip hop. E o resultado da atual amizade entre as duas está em "4 My People", do novo CD, cuja sonoridade, segundo a cantora, apareceu depois que Janet a levou por uma incursão noturna aos clubes norte-americanos.
""4 My People" é diferente do que se poderia esperar normalmente de algo vindo de mim. Quando Janet me levou a um desses clubes, pensei: "Posso criar sobre isso e fazer o hip hop soar de outra forma"." Sem dúvida nenhuma.


Miss E... So Addictive
    
Artista: Missy Elliott
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 25, em média




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