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MÚSICA
Cantor radicado em Alagoas desde os oito anos lança seu primeiro disco e faz show em São Paulo no dia 29
Wado chega advogando a arte da periferia
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1996, o pernambucano Fred
Zero Quatro declamava com seu
Mundo Livre S/A: "Não espere
nada do centro/ se a periferia está
morta/ pois o que era velho no
norte/ se torna novo no sul". Esse
parece ser o ponto de partida do
quase alagoano Wado para se lançar agora com um disco de estréia
que se chama "O Manifesto da
Arte Periférica".
Wado tem 23 anos e é quase alagoano, porque nasceu em Santa
Catarina, embora viva desde os
oito anos na Alagoas de Djavan,
dos Collor, da petista Heloísa Helena e, mais recentemente, de
uma cena pop de artistas muito
jovens, liderados (se tanto) por
nomes como Wado e a dupla Sonic Júnior.
"É um Estado pobre, com índices ruins de analfabetismo. Mas
não acredito que seja tão diferente
do país inteiro", diz o moço por
telefone, do Rio, descrevendo a
periferia que o motiva a criar e a já
abrir o CD com versos como "você bem sabe em que ponta/ a corda sempre arrebenta".
Responde sobre a existência de
uma possível cena em Maceió, como houve de seis anos para cá em
Recife, com o mangue beat de
Fred Zero Quatro e Chico Science:
"O nível está muito bom, Sonic
Júnior e Mopho já apareceram em
São Paulo e Rio. Acho que as pessoas em Alagoas só não se ligaram
ainda como cena por falta de auto-estima. Estamos tentando nos
juntar como um grupo mesmo".
Recém-formado jornalista, Wado já enfrenta o paradoxo de ter
de fugir do norte para se fazer notar no sul: "Com certeza ficarei no
Rio até o final do mês. Se não conseguir "trampo", volto para Maceió. O ideal seria ficar lá, mas isso
não é a realidade".
Não estaria entrando em contradição com o título do disco? "É
uma pena ter que descer, mas é
aqui que as coisas acontecem. A
gente não existe, estou existindo
só a partir de agora. É triste ver
tanta gente boa que não existe. O
conceito do CD é que se crie e produza arte na periferia, como fiz.
Como [o antropólogo" Hermano
Vianna falou, a periferia não é um
lugar. Há um Buena Vista Social
Club em cada morro do Rio."
Wado fala, enfim, da tradução
sonora de seus preceitos: "O ponto forte são as timbragens. Misturamos timbragens antigas, dos
anos 60 e 70, o Jorge Ben antigo
com um pouquinho de ruído do
atual. A gente passeava pelo rock,
mas ele foi substituído pelo samba e pela música brasileira. Escuto
Secos & Molhados, Novos Baianos, Banda Black Rio".
Não vê em tal prática reprocessadora -nem no manifesto pela
arte periférica- um parentesco
inexorável com o mangue beat.
"Não acho que seja filiado ao
mangue beat, na minha opinião
não tem nada a ver. A mistura
sempre foi da música brasileira. O
mangue é um conceito fechado,
no meu nem existe um manifesto
como houve o do mangue beat.
Meu manifesto é o disco", afirma
Wado. Tropicalismo, então?
"Tem, sim, não tenho vergonha
de dizer."
Sua arte periférica chega ao centro da periferia -São Paulo- ao
vivo, pela primeira vez, na próxima sexta, quando Wado se apresenta no festival London Burning,
no Orbital (r. Augusta, 2.894, tel.
0/xx/11/5096-0737).
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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