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CRÍTICA
Os muito jovens voltam à música inteligente
DA REPORTAGEM LOCAL
Por mais que ele queira, não
há como relevar o laço existente entre Wado e o imaginário
do mangue beat. Se o que marca
demais frequentemente acaba virando jaula, o moço terá de conviver com o aprendido dos colegas
mais velhos, ao menos até se descolar de fato daquela gramática.
Por enquanto, há muito da filosofia mangue em seu "O Manifesto da Arte Periférica". Mas há
também uma profunda diferença,
que é o que já particulariza essa
cena que se esboça de Maceió para o Brasil: pela primeira vez desde a geração 80, voltam a aparecer
no cenário artistas muito jovens e
nem por isso inconsistentes.
É o que diferencia Wado de referências suas, como Fred Zero
Quatro, Lenine, Chico César, Pedro Luís e Zeca Baleiro. Todos esses demoraram muito a aparecer,
erigindo uma geração "nova" de
gente de 30, às vezes 40 anos.
Pois bem, Wado está eriçando
as antenas, do alto de seus poucos
23 anos. Com pouca idade, pouca
matéria-prima e pouco meio de
comunicação, alicerça um disco
bem sustentado musical e poeticamente, amontoando pequenos
achados de linguagem e (nem
tanto) de musicalidade.
Em "Uma Raiz, uma Flor", saca
da situação desoladora o otimismo que só um moleque sabe manipular, em ritmo de moderno
sambão: "Não diga que as estrelas
estão mortas/ só porque o céu está
nublado/ não se iluda/ pé que dá
fruta é o que mais leva pedra".
Vai mais longe, situando-se na
chata dicotomia tradição/inovação que ainda norteia a música
"nova" brasileira: "Uma raiz é
uma flor/ que despreza a fama".
Em "Diluidor", volta ao tema
com mais que saudável ironia:
"Eu vou ficar quietinho/ eu vou ficar no meu canto/ mas não não
engolidor de sapo/ mas não não
mestre de desamor/ não sou da
raiz nem diluidor". Quanto ao título do disco? Bem, é dilema que
ninguém resolveu ainda.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
O Manifesto da Arte Periférica
Artista: Wado
Lançamento: Dubas/Universal
Quanto: R$ 25, em média
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