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"CONTOS HÚNGAROS"
"Era uma vez" o inconsciente
PAULO SCHILLER
ESPECIAL PARA A FOLHA
No território do "era uma
vez", num lugar para além
de mares, rios e reinos imaginários, vivem, na fantasia da gente
simples do campo, donzelas bondosas, madrastas malvadas, pobres de espírito, gigantes, fadas,
bruxas, magos, duendes, dragões,
árvores milagrosas, bichos e objetos falantes. Há os palácios de ouro com portões de prata e porões
forrados de diamantes. Lindas
princesas choram pérolas e riem
rosas.
Nas vozes dos narradores dessa
coleção, transparece clara a fala
do contador que reitera palavra
por palavra, ao gosto das crianças,
os acontecimentos conhecidos e
esperados, ou inventa e modula o
roteiro segundo a percepção que
tem dos ouvintes. A beleza do texto, preservada pela tradução, não
é fruto de uma prosa requintada:
deriva da transcrição fiel do estilo
narrativo da tradição oral. Embora muitas das fábulas exaltem o
triunfo do bem, da justiça e da
verdade, nem todas contemplam
um fim edificante ou moral: o que
se faz sempre presente é o simples
prazer de contar. A influência
oriental se depreende da estrutura
labiríntica e pelo cumprimento
do destino anunciado.
"Rei Mirko e o Encantador",
composta de vários episódios, é a
mais longa dessas histórias, tomando quase toda a segunda metade do livro. Destaca-se pelo ritmo, pela diversidade dos personagens e pela trama movimentada e cheia de surpresas. Trata-se
de uma versão belíssima da história do sapo que vira príncipe por
conta do amor de uma princesa.
Elek Benedek (1859-1929), jornalista, crítico literário, editor, político, autor prolífico de novelas
para a juventude, tradutor de lendas estrangeiras, foi o cronista dos
costumes, do cotidiano e do folclore dos povoados de língua
húngara espalhados pelo sudeste
da Transilvânia, berço fantástico
do conde Drácula, hoje parte da
Romênia. Dedicou-se a transformar a utilização sistemática da literatura na educação das crianças
em prioridade política do Estado.
Escreveu livros de história de
cunho didático, criou e adaptou
contos, dirigiu periódicos para jovens. É tido como o fundador da
literatura infantil de seu país. Em
1885 editou coleção de fábulas
considerada o primeiro livro infantil de valor literário em húngaro. Entre 1894 e 1896 publicou cinco volumes de contos e lendas da
Hungria preparados para a exposição do milênio em Budapeste.
Como Bártok na música, reuniu
as histórias passadas entre as gerações de contadores que perambulavam pelas aldeias da região.
Para os moradores desses lugarejos, muitos dos personagens
dessas fantasias que povoavam as
pausas para descanso do trabalho
ou as noites invernais não pertenciam ao mundo da ficção: eles
acreditavam na realidade dos feitiços e encantamentos.
As tramas dessas narrativas, superponíveis aos enredos do folclore de outras nações e inspiradoras das produções pasteurizadas destinadas às crianças dos
nossos dias, evidenciam não a
existência de um inconsciente coletivo, mas, sim, a estrutura universal do inconsciente.
Paulo Schiller traduziu do húngaro "O
Legado de Eszter" e "Veredicto em Canudos", ambos de Sándor Márai
O Mundo dos Contos e Lendas da Hungria
Autor: Elek Benedek
Tradução: Ildikó Sütö
Editora: Landy
Quanto: R$ 35 (363 págs.)
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