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Crise e mudança no marketing aproximam anunciantes e emissoras
Regime forçado
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um "casamento" que já
passa dos 50 anos, a publicidade e
a TV brasileira resolveram esquentar o relacionamento. Programas lançados recentemente
rememoram os primeiros anos da
televisão no país, quando as novelas eram produzidas por agências
publicitárias e até telejornais recebiam o nome do patrocinador.
Para driblar dificuldades financeiras, anunciantes e TVs têm reforçado parcerias. Especialistas
consultados pela Folha acreditam
também num crescimento do
merchandising (inclusão de produtos em programas), embora
não tenham levantamentos estatísticos. O faturamento com essa
propaganda -muitas vezes mais
barata e eficaz do que o anúncio
no intervalo- bateu recorde na
Globo com "Mulheres Apaixonadas", segundo seu autor.
"Repórter Esso", "Ginkana Kibon" e "Circo Bombril", lançados
na década de 50, não parecem
mais coisa do passado. Neste mês,
entraram no ar duas atrações concebidas e batizadas pela Oi (telefonia celular). "Oi Brasil", na
Band (nacional), e "Oi Radical",
na Record (Rio, Belo Horizonte,
Recife e Fortaleza), utilizam o
mesmo logotipo da companhia.
Há ainda um quadro no "Esporte Espetacular" (Globo) custeado
pela operadora, que mantém seu
logo na tela durante a exibição.
"Comprar em mídia [comerciais de 30 segundos] os 30 minutos de cada programa seria bem
mais caro. Fora isso, a penetração
da marca acaba sendo maior",
afirma Flávia Barros, gerente geral de marketing da Oi.
Segundo ela, "as TVs estão cada
vez mais abertas" e "agora é possível trabalhar a quatro mãos na
produção de um programa".
Celso Tavares, diretor de programação da Band, diz que a rede
foi procurada pela Oi e que acredita que a busca por parcerias seja
mais uma iniciativa do anunciante do que da TV. "Não há esse movimento de terceirização", afirma
o diretor do canal, que no início
do ano arrendou parte do horário
nobre para o pastor R.R. Soares.
Já para Marcelo de Carvalho,
sócio e vice-presidente da Rede
TV!, são as emissoras que têm de
"propor soluções aos clientes".
Sua rede levará ao ar no fim do
ano a terceira edição do "Riachuelo Mega Model", com apresentação de Luciana Gimenez.
"Não podemos ser só repassadores de comerciais. Nós investimos no envolvimento de nossos
produtores com anunciantes. Fizemos, por exemplo, uma reunião com a Nestlé que teve até a
presença de artistas da casa."
Na Globo, o "remake" de "Carga Pesada" revelou uma união entre propaganda e teledramaturgia
inédita na história recente da TV.
José Luiz Madeira, sócio e diretor de operações da agência AlmapBBDO, disse à Folha que o
projeto de refazer a série veio à tona numa reunião de sua empresa
com a Volkswagen. Seria um modo de aproveitar a saga dos caminhoneiros para promover o caminhão Titan. "Foi uma experiência
inovadora. Sabíamos que a Globo
pensava em retomar o seriado e
fizemos a ela essa proposta."
Sobre os roteiros, diz: "As idéias
foram da Globo, mas teve de haver um entrosamento que nos
permitiu costurar as intenções da
Volks. Não podíamos ferir o entretenimento, mas sabíamos que
não se tratava de proporcionar
apenas isso ao público. A marca
tinha de atingir seus objetivos".
Os primeiros episódios foram
bem no Ibope, o que garantiu
mais oito para este ano. O site de
"Carga Pesada", ao falar da nova
fase, diz que haverá algumas mudanças, mas que "o moderníssimo Titan vermelho, o novo caminhão da dupla, permanece".
Para o sociólogo Laurindo Lalo
Leal, presidente da ONG TVer, essa proximidade é "preocupante".
"A TV brasileira não está submetida a uma lei que estabeleça limites entre publicidade e programas. TV é concessão pública que
deve prestar serviço à sociedade.
Pela Constituição, o sustento deve
se dar com a venda de espaço publicitário, o que não pode ser confundido com programação."
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