UOL


São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em três décadas, cinema no Brasil encolhe em número de salas, tem mais renda e público de elite; seu mais antigo exibidor investe em "vizinhança"

Em algum lugar do passado

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem hoje 998 salas de cinema a menos do que possuía há 30 anos. Eram 2.648 telas em 1972. Em 2002, 1.650. Mas, comparada com 72, a renda das bilheterias nacionais no ano passado foi quase oito vezes maior -R$ 529,5 milhões contra R$ 70,1 milhões.
O encolhimento das salas e a expansão da renda traduzem uma transformação que é também geográfica, nos hábitos e no perfil do consumidor -os cinemas migraram das ruas para os shoppings, o público se elitizou, o preço médio do ingresso cresceu.
Estima-se que hoje no Brasil só 8 milhões de pessoas frequentem cinema e só 9% dos municípios possuam salas. A venda anual de ingressos gira em torno de 80 milhões. Em 72, foram 191 milhões.
Mais antiga rede de cinemas do Brasil, o grupo Severiano Ribeiro exemplifica, com sua trajetória, a mudança no parque exibidor.
"No final da década de 70, 95% das nossas salas eram de rua. Em 1995, 90% eram salas de shopping", diz Francisco Pinto Jr., diretor de expansão da empresa. O grupo tem hoje 185 salas; apenas nove resistem no formato de rua.
A decadência dos cinemas de rua é relacionada por especialistas do mercado com o medo da violência urbana. A estrutura dos shoppings, com seus estacionamentos e seguranças particulares, tranquilizaria o consumidor.
Mas o modelo multiplex formou (ou atendeu) um gosto de consumo que não se resume à idéia da segurança. Os conjuntos de salas são sempre acompanhados de bombonnière, porque a venda de alimentos é determinante na rentabilidade do negócio. Predominam na programação grandes lançamentos, em geral de filmes norte-americanos.
"O cinema popular é muito importante para a divulgação do filme brasileiro", diz Pinto Jr. Mas, de acordo com Luiz Gonzaga de Lucca, diretor de relações institucionais da Severiano, a viabilidade comercial das salas populares é "muito complexa". A dificuldade seria equalizar o objetivo de rápida recuperação do investimento com a necessidade de vender ingressos a preços populares.
Num acordo entre o Ibope e a Filme B, empresa especializada no mercado cinematográfico, foram divulgados neste mês dados sobre o perfil do frequentador de cinema no Brasil.
Ouvidas 10 mil pessoas em nove Estados, concluiu-se que 54% dos espectadores são mulheres. A faixa etária predominante é a de 20 a 29 anos (33%), seguida pela de 12 a 19 anos (30%). 62% dos espectadores se situam nas classes A e B, 29% na classe C e 9%, nas D e E.
Se há uma tendência no mercado de salas, é a de um consumo mais requintado, que oferece as facilidades dos multiplex, sem a agitação dos shoppings. "Cinema de vizinhança", define Pinto Jr.
De olho nesse filão, a Severiano Ribeiro faz sua primeira investida no mercado paulistano, abrindo, em julho, seis salas no Itaim (zona oeste), construídas num centro comercial que reúne hotel, lojas e restaurantes, em espaços abertos e independentes.
Uma das novas salas contará com tecnologia digital, que dispensa a película para a projeção na tela. A vantagem empresarial desse processo é a expansão das possibilidades de uso do cinema, eliminando seus tempos ociosos. Transmissões de shows, eventos institucionais e esportivos passam a ser alvos dos exibidores. Mas o multiuso das salas digitais ainda é uma expectativa futura.
De concreto, há a publicidade digital. Cada uma das novas salas da Severiano Ribeiro terá seu projetor digital para propaganda. Anúncios poderão ser programados e incluídos até meia hora antes do início da sessão. "É a publicidade que está garantindo o negócio", diz Gonzaga de Lucca.



Texto Anterior: Crítica: Novela das 8 escreve certo por linhas tortas
Próximo Texto: Panorâmica: Novo Harry Potter se esgota em um dia
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.