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Em três décadas, cinema no Brasil encolhe em número de salas, tem
mais renda e público de elite; seu mais
antigo exibidor investe em "vizinhança"
Em algum lugar do passado
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil tem hoje 998 salas de cinema a menos do que possuía há
30 anos. Eram 2.648 telas em 1972.
Em 2002, 1.650. Mas, comparada
com 72, a renda das bilheterias
nacionais no ano passado foi quase oito vezes maior -R$ 529,5
milhões contra R$ 70,1 milhões.
O encolhimento das salas e a expansão da renda traduzem uma
transformação que é também
geográfica, nos hábitos e no perfil
do consumidor -os cinemas migraram das ruas para os shoppings, o público se elitizou, o preço médio do ingresso cresceu.
Estima-se que hoje no Brasil só
8 milhões de pessoas frequentem
cinema e só 9% dos municípios
possuam salas. A venda anual de
ingressos gira em torno de 80 milhões. Em 72, foram 191 milhões.
Mais antiga rede de cinemas do
Brasil, o grupo Severiano Ribeiro
exemplifica, com sua trajetória, a
mudança no parque exibidor.
"No final da década de 70, 95%
das nossas salas eram de rua. Em
1995, 90% eram salas de shopping", diz Francisco Pinto Jr., diretor de expansão da empresa. O
grupo tem hoje 185 salas; apenas
nove resistem no formato de rua.
A decadência dos cinemas de
rua é relacionada por especialistas
do mercado com o medo da violência urbana. A estrutura dos
shoppings, com seus estacionamentos e seguranças particulares,
tranquilizaria o consumidor.
Mas o modelo multiplex formou (ou atendeu) um gosto de
consumo que não se resume à
idéia da segurança. Os conjuntos
de salas são sempre acompanhados de bombonnière, porque a
venda de alimentos é determinante na rentabilidade do negócio. Predominam na programação grandes lançamentos, em geral de filmes norte-americanos.
"O cinema popular é muito importante para a divulgação do filme brasileiro", diz Pinto Jr. Mas,
de acordo com Luiz Gonzaga de
Lucca, diretor de relações institucionais da Severiano, a viabilidade comercial das salas populares é
"muito complexa". A dificuldade
seria equalizar o objetivo de rápida recuperação do investimento
com a necessidade de vender ingressos a preços populares.
Num acordo entre o Ibope e a
Filme B, empresa especializada
no mercado cinematográfico, foram divulgados neste mês dados
sobre o perfil do frequentador de
cinema no Brasil.
Ouvidas 10 mil pessoas em nove
Estados, concluiu-se que 54% dos
espectadores são mulheres. A faixa etária predominante é a de 20 a
29 anos (33%), seguida pela de 12
a 19 anos (30%). 62% dos espectadores se situam nas classes A e B,
29% na classe C e 9%, nas D e E.
Se há uma tendência no mercado de salas, é a de um consumo
mais requintado, que oferece as
facilidades dos multiplex, sem a
agitação dos shoppings. "Cinema
de vizinhança", define Pinto Jr.
De olho nesse filão, a Severiano
Ribeiro faz sua primeira investida
no mercado paulistano, abrindo,
em julho, seis salas no Itaim (zona
oeste), construídas num centro
comercial que reúne hotel, lojas e
restaurantes, em espaços abertos
e independentes.
Uma das novas salas contará
com tecnologia digital, que dispensa a película para a projeção
na tela. A vantagem empresarial
desse processo é a expansão das
possibilidades de uso do cinema,
eliminando seus tempos ociosos.
Transmissões de shows, eventos
institucionais e esportivos passam a ser alvos dos exibidores.
Mas o multiuso das salas digitais
ainda é uma expectativa futura.
De concreto, há a publicidade
digital. Cada uma das novas salas
da Severiano Ribeiro terá seu projetor digital para propaganda.
Anúncios poderão ser programados e incluídos até meia hora antes do início da sessão. "É a publicidade que está garantindo o negócio", diz Gonzaga de Lucca.
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